(Imagem: Instagram @melidubal)

O crescimento das mulheres nos esportes se deu de forma bem lenta. Desde a volta das Olimpíadas na Era Moderna, em 1896, a participação feminina em edições dos jogos cresceu, mas ainda não é igual. Na Olimpíadas Rio 2016, foi de 45%, aproximadamente, o percentual das atletas em relação ao total de competidores.

Graças a mulheres que enfrentam enormes desafios, o esporte feminino vem crescendo e a arte marcial também. Dana White, presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC) já chegou a dizer que o evento nunca teria lutas protagonizadas por mulheres. Hoje, uma das melhores atletas de MMA do mundo, Ronda Rousey, é destaque no UFC.

Mulheres também têm se destacado no cenário mundial do Jiu-Jitsu. Porém, esse crescimento foi lento, apesar de estar em um nível como nunca visto antes. A primeira faixa preta da arte suave (1990), Yvone Duarte, começou a treinar em 1978, com 14 anos. Ela queria competir, porém não haviam categorias femininas. Diante disso, começou uma batalha para essa inclusão. Então, em 1985, o primeiro campeonato com divisões femininas foi organizado pela Federação Carioca de Jiu-jitsu e Yvone foi campeã na faixa azul. Ela foi a pioneira do Jiu-jitsu feminino no Brasil e hoje é faixa preta 5º grau.

Outras mulheres também foram e são importantes nesse cenário como Letícia Ribeiro, Leka Vieira, Rosangela Conceição, Kyra Gracie, Michelle Nicolini e Hannette Staack. A primeira faixa preta dos Gracie teve que vencer preconceitos até dos próprios parentes. Kyra conta (aqui) que quando perceberam que queria levar a sério, falaram para “deixar a luta com os homens”. Depois de insistir muito e começar a se destacar nas competições, Kyra recebeu apoio da família.

Hannette lembrou da importância dessas mulheres: “Sou muito grata às pioneiras do esporte. (…) Nós fomos as responsáveis por representar o esporte fazendo lutas incríveis e super dinâmicas. Também de fazer cair por terra a falsa ideia de que o Jiu-Jitsu era exclusivamente masculino, ou de que ficaríamos masculinas por fazer Jiu-Jitsu”, conta a multicampeã da arte suave.

O primeiro Campeonato Mundial de Jiu-jitsu, em 1996, teve nove categorias de peso e absoluto em cada faixa (azul a preta). Só duas edições depois, em 1998, as mulheres entraram na disputa, em duas categorias (leve e pesado) com quatro atletas cada uma. Apenas em 2012 se separaram todas as faixas, apesar de ainda ocorrer junção de marrom e preta em alguns campeonatos (como o Abu Dhabi World Pro).

Hoje, muito mais mulheres praticam Jiu-Jitsu, mas a igualdade ainda está longe de ser alcançada, por conta da premiação, por exemplo. O movimento Equal Pay For BJJ (pagamento igual para o Jiu-jitsu, em tradução livre), iniciado pela faixa preta e competidora Dominyka Obelenyte, luta pela igualdade. As atletas defensoras do movimento ressaltam que se dedicam e treinam assim como os competidores homens e, por isso, a premiação deve ser igualitária. Leia mais sobre o debate em torno das premiações femininas X masculinas AQUI.

Hannette Staack, porém, diz que sente falta de mais meninas competindo: “O progresso é inevitável, se continuarmos fazendo nossa parte. E qual é? Participar dos campeonatos, continuar treinando, fazer nossa comunidade crescer buscando outras praticantes de Jiu-Jitsu e representar nosso esporte de maneira correta”, ressalta. Michelle Nicolini compartilha da opinião, como diz aqui.

Lutadoras na mídia

O retrato da mulher na mídia esportiva tem aspectos diferentes em relação aos homens. Com frequência, as atletas são notícia não por seus feitos no esporte, mas pela beleza ou aspectos físicos. O corpo da mulher é constantemente objetificado na mídia (como você pode nesta matéria) e uma pesquisa no Google pode provar isso, como mostrou Bruno Fugazza em “Mulheres no Jiu Jitsu: enfrentando mais desafios e recebendo menos reconhecimento“, para o BjjForum. Pesquisando “Mulheres MMA”, a primeira notícia era “Veja as mulheres mais bonitas do MMA”, enquanto temos nomes como Ronda Rousey revolucionando a história do esporte.

Se você digitar “uniforme vôlei de praia” no Google Imagens, aparecerão praticamente só mulheres com closes em determinadas partes de seu corpo. Muitas reportagens vão falar das “musas” do esporte, da “bela” fulana que ganhou as Olimpíadas, mas não o “muso” e “belo” atleta, que será tratado apenas – e preferencialmente – como atleta.

As mulheres enfrentam também os padrões e estereótipos difundidos pela sociedade. Em alguns esportes isso é mais presente. As artes marciais costumam ser associadas aos homens, assim como a ginástica às mulheres, por exemplo. Desde a infância, muitas vezes se perpetua o discurso de “coisas para meninas” e “coisas para meninos” quando, na verdade, não deveria haver distinção de quais brincadeiras são permitidas para cada gênero.

Dessa forma, fica enraizada a distinção de gênero para quase tudo na vida. Mulheres que praticam futebol ou artes marciais não recebem o mesmo reconhecimento dos homens que praticam o mesmo esporte, pois isso ‘não é coisa de mulher’. Também há um discurso que diminui a prática feminina desses esportes. Chutar, lutar, arremessar ou fazer qualquer outra coisa “que nem mulher/moça”, é algo negativo, pejorativo. Te falam para deixar de ‘ser mulherzinha’ (que com o diminutivo soa ainda mais pejorativo), treinar como homem. As mulheres não devem fazer nada ‘como homens’, pois são mulheres e não há do que se envergonhar por isso. Não somos “mulherzinhas”, e sim lutadoras, atletas que se orgulham e enfrentam muitos desafios para alcançar a igualdade dentro e fora dos tatames.

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