Professor de jiu-jitsu expulsa aluna por ciúmes da esposa: Saiba mais

Professor de jiu-jitsu: qual deve ser a postura de um no tatame? Uma polêmica envolvendo a praticante Camila Montenegro, o faixa preta Marlus Salgado e o tradicional Centro de Artes Marciais Gautama Dojo, em Fortaleza, vem repercutindo na comunidade do Jiu-Jitsu. Camila, faixa roxa na modalidade, havia se matriculado em plano anual da academia, mas sofreu a penalidade de expulsão após quatro semanas de treino. O motivo? Tão somente ciúmes e insegurança da esposa do professor.

Marlus Salgado, conhecido pela página Manual do Jiu-Jitsu, com mais de 270 mil seguidores no Instagram e mais de 100 mil inscritos no YouTube, teria declarado que seu cônjuge estava desconfortável com a presença de Camila na turma e cobrou uma resposta definitiva: “ou ela, ou eu”.

O Relato de Camila Montenegro

Camila conta que soube da decisão pelo próprio Marlus no tatame, assim que o último treino do ano de 2024 se encerrou. Na ocasião, ele reconheceu que não houve inadimplência, tampouco desvio de conduta por parte da novata, mas a desligou da academia ao argumento de que a situação em seu lar teria chegado a um patamar insustentável e esta medida seria a única forma de manter seu casamento a salvo.

“Ele afirmou que desde o momento em que entrei na academia, a esposa dele ‘cismou’ comigo e não o deixava em paz, ficou insegura e ciumenta, até chegar ao ponto de exigir que resolvesse a questão: “ou ela, ou eu”. Acontece que não fiz absolutamente nada, sou uma pessoa bem reservada, treino com todo respeito, sempre de ‘rashguard’. Tenho compromisso, não converso no privado nem me envolvi extra tatame. Sequer faço dancinha ou fico de resenha, embora respeite quem faz. Estava ali só para aprender jiu-jitsu, depois de muito tempo parada. Minha consciência está tranquila nesse ponto, não dei qualquer motivo para ser banida, mas confesso que, de tão absurda, minha expulsão beira o surrealismo.”

Constrangida e injustiçada, Camila deixou o tatame aos prantos sob o olhar de dois parceiros de treino que, em atitude louvável, posteriormente testemunharam a seu favor. 

A partir de então, a luta da faixa roxa, que também é procuradora federal, passou a ser em defesa de sua honra, liberdade, reputação e dignidade, armada do Código de Defesa do Consumidor.

“Ao mesmo tempo em que me considero privilegiada por ter conhecimento e disponibilidade suficientes para exercer meus direitos de modo contundente, tenho consciência de que muitas praticantes sem formação jurídica estão abandonadas à própria sorte. Por isso, quero ampliar o debate e dar voz a todas que estão em sofrimento, vítimas de comportamentos abusivos no tatame”. 

Violência de Gênero

Como se não bastasse a discriminação inicial, que a descartou como um objeto inútil pelo simples fato de ser uma mulher naquele espaço, Camila considera que passou por uma segunda violência de gênero:

“Vieram à tona especulações e prints com comentários do tipo ‘o Marlus vacilou, se queimou sem ao menos ter pegado ela’, ‘com certeza teve provocação aí’ e até que eu tinha mesmo ‘cara de safada’. Falaram também que eu era ‘gostosa, mas nem tanto’ para causar toda essa confusão. É doloroso lidar com tudo isso; aos poucos estou assimilando que esse conteúdo perverso revela sobre a classe denominada ‘machos escrotos’, e não sobre mim.”

A Postura da Academia Gautama Dojo

Com mais de 50 anos de história, a Gautama Dojo é um dos centros de arte marcial mais renomados de Fortaleza. Provocados por Camila via notificação extrajudicial, os sócios apuraram o caso e, ao final, deram razão à aluna para fechar acordo que contempla reparação por danos morais, bem como divulgação de nota de retratação pública no Instagram, no intuito de lhe pedir desculpas públicas e repudiar o que chamou de “ato arbitrário e isolado” do colaborador, ressaltando que “jamais compactuou com qualquer forma de discriminação”

Entretanto, muitas manifestações nas redes sociais – sobretudo entre o público feminino –, se ressentem por Marlus permanecer à frente da turma supostamente mista. A decisão da Gautama Dojo, portanto, soa incoerente, em convite a uma reflexão mais profunda sobre o tema. 

O Impacto para Mulheres no Jiu-Jitsu

O caso de Camila não é isolado e expõe como o machismo ainda afeta as mulheres no Jiu-Jitsu. Situações de objetificação da mulher e sexualização do esporte são barreiras que muitas enfrentam diariamente, mesmo em um ambiente que deveria ser inclusivo e acolhedor. Além disso, o episódio invoca a importância do princípio ético no sentido de que a vida pessoal não deve interferir no aspecto profissional.

“Se a legítima presença de uma mulher está perturbando um homem, ele que deve se retirar do ambiente. A justificativa para me expulsar não se sustenta, pois é uma questão da esfera íntima do professor, que poderia ter desistido de lecionar na turma aberta a mulheres, repassando a missão para profissional verdadeiramente apto, em vez de impor a mim a mais severa penalidade que pode existir contra um aluno: a expulsão.” 

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Camila e sua companheira, a atleta profissional Ingridd Alves

A Comunidade Cobra Respostas

A repercussão do caso trouxe debates intensos na comunidade. Muitos condenam a atitude da Gautama Dojo e do professor de jiu-jitsu Marlus, enquanto outros tentam minimizar a gravidade da situação, valendo-se da tradição da academia e da grande influência do professor por meio do Manual do Jiu-Jitsu. A propósito do assunto, despontam relevantes questionamentos, que podem ser vistos na publicação do Instagram feita pela Gautama Dojo:

  • Por que, mesmo inocente, a aluna sofreu a expulsão e o Professor continua intocável em seu posto?
  • Por que a presença de mulheres no tatame tem conotação sexual?
  • Por que mulheres são valorizadas como público alvo para obtenção de lucros pelas academias, mas subjugadas e descartadas na primeira oportunidade?
  • Por que mulheres ainda são classificadas como problema e responsabilizadas por questões que não lhes dizem respeito?
  • Por que a corda sempre arrebenta para o lado de uma mulher? 
  • Em que medida a discriminação de gênero atrasa a evolução técnica das mulheres?
  • Como as academias podem evitar que casos assim se repitam?
  • O que mais pode ser feito para garantir igualdade e respeito nos tatames?

Um Chamado à Reflexão

Se de fato existir um “Manual” da arte suave, mostra-se indispensável a inclusão de um capítulo especial para evidenciar, com a mais absoluta prioridade, que O LUGAR DE UMA MULHER É ONDE ELA QUISER.

A Versão do Professor de Jiu-Jitsu

Procurados para oferecer sua versão, o Professor e sua equipe jurídica declararam que o acordo firmado entre a academia e a aluna impõe sigilo. Em resposta, Camila ressalta que Marlus não figura como parte do acordo e que o sigilo em questão recai sobre os “termos do acordo” como, por exemplo, o valor da indenização acertada.



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