Decidi escrever este texto baseado numa experiência que tive para lutar o Mundial da CBJJE. Eu sou médio (até 69kg) e decidi me testar no leve (até 64kg) – eu tinha 67kg e um dia antes da luta, estava pesando pouco menos de 62kg. Foi um processo difícil e cansativo e, no meio dele, eu percebi que eu poderia estar na minha melhor performance, mas talvez não na minha melhor estética. E aí, como lidar?
Antes de começar, quero ressaltar algo: eu não perdi peso loucamente. Eu tive acompanhamento médico o tempo todo, para suplementação, alimentação e creio que seja muito importante se preocupar com isso (perdi os 5kg em loooongos três meses e meio). Quem treina sabe: não basta parar de comer para secar. O David já escreveu um texto ótimo aqui sobre perda de peso antes de competições.
Quando decidimos ganhar ou perder peso, naturalmente nosso corpo muda e algumas pessoas se espantam. Com isso, elas passam sempre a procurar alguns defeitos: de repente eu estava doente, de repente eu tinha pernão e agora sou magrela, de repente ninguém conseguia me segurar porque eu era forte e agora qualquer um me segura… Mas até quando vale dar ouvido para aos comentários?
Sim, é realmente complicado. Auto estima conta e muito, ainda mais de mulher (sem sexismo, mas a gente se conhece bem – risos)! Ninguém quer ser feio, ninguém quer ser estranho. Mas objetivo é objetivo e temos que ter sempre a cabeça vazia e blindada para esse tipo de coisa. Nunca está bom para as pessoas. Se você sobe de categoria, ou você está gorda ou musculosa demais (para alguns, “masculina”). Se você desce, você está magra e doente. Porém a meta agora é parar e pensar: vale mais a opinião das pessoas ou a minha vontade de me testar e ser melhor? Eu fico com a segunda!
Porém, tudo é uma questão de objetivo, tudo depende. Depende de seus treinos, sua alimentação e o que te motivou a estar no jiu jitsu.
Falemos primeiro de pessoas que estão no jiu jitsu para manter a forma. Completamente normal, cada um está no tatame por um motivo e se for para ter um bom condicionamento, um corpo bacana, independente de performance competitiva e visando apenas uma melhora de desempenho e corpo, provavelmente o caminho de sua estética x performance não precisará se separar (ufa – meu sonho – risos!).
Mas quando decidimos competir para valer, muda tudo. Muda porque precisamos sentir, acostumar, conhecer novos jogos, perceber o que mais encaixa com o nosso, criar experiência… E escolher uma categoria que nos faça sentir melhor e alcançar bons resultados não é uma tarefa fácil. Ser mais pesado e mais lento? Ser razoavelmente pesado e forte? Ser leve e rápido? Não existe uma fórmula. A dica é: teste. Teste-se, teste suas adversárias, teste suas categorias e escolha a que mais se encaixa.
Crie uma margem de peso para que não precise se preocupar com ele às vésperas de competição, porque isso prejudica no gás, na força e até no humor.
E por falar em humor, não é nada fácil baixar de peso. Suplementação diferente, comidas diferentes, muitas vezes menos carbo e mais treino. Humor feminino ainda conta com TPM, o que dificulta muito na hora de blindar a mente para comentários. Então sejamos diretas: irrita. Irrita abrir mão de chocolate naqueles dias, ou negar um fast food, ou passar um tempo a mais na academia para melhorar o físico, ou perder roupas e ter que reformular o armário. E na hora de ouvir opinião alheia negativa, é onde estouramos. Ninguém gosta de crítica negativa que não seja construtiva. Falar do seu corpo todo mundo quer, mas levantar da cama e fazer o que você faz, é para poucos. É muito difícil ignorar, mas a vida é feita de escolhas e se decidiu que tal peso é melhor para você, siga. Mire o alvo e acerte. Se tiver errado, paciência. Vale mais errar tendo tentado do que morrer sem saber se daria certo.
Meu resultado no campeonato não foi positivo, mas agora já sei até onde posso chegar. Ouvi muitas coisas ruins e boas também, mas o que valeu foi o que eu decidi. Hoje sei que não consigo ter a estética e a performance andando juntas o tempo todo. Gosto de ter pernas maiores, por exemplo. Porém, ter perdido peso, fez com que eu ficasse com uma barriga que eu nunca tinha conseguido chegar, que por outro lado me fez perder nas pernas que eu preferia. O que eu decidi? Que vou fazer o que for melhor para o meu jiu jitsu. Faça isso por você e blinde-se. Procure sempre um profissional para te orientar: alinhe com seu mestre, converse com seu personal e seja acompanhado por seu médico. Atingir performance e estética juntas também não é um bicho de sete cabeças, é só querer. (No caso, eu só não tenho tempo hábil para isso – risos! Se eu vivesse de jiu, talvez fosse diferente).
No mais, a sociedade adora criar padrões, mas quem disse que o padrão será sua melhor forma ou sua melhor performance? Vá em frente! Se você não fizer, não há quem faça por você.
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