Por Megan Sutton-Kirkby
Entrei no jiu-jitsu assim que larguei o judô competitivo aos 14 anos, e logo conheci esse universo apaixonante das lutas no solo. A minha transição da adolescência para a vida adulta se passou nos tatames. Muitas meninas do meio competitivo também tiveram as impressões moldadas pelo ambiente em que mais permaneciam: as academias de luta.
Sabe-se que a grande maioria das equipes de jiu-jitsu são constituídas de homens. Isso já diz muito sobre o que somos obrigadas a ouvir. “Você é macho ou é um saco de batatas?” diziam, como se fosse uma espécie de motivação para mim; “Você é uma fêmea mesmo” diziam, para ofender alguém. Quantas vezes não fui preterida em algum rola pelo fato de ser mulher? E o receio de se machucar lutando com homens faixa-branca – sem técnica, abusam da força – pois imagina-se que, em sua grande maioria, temem perder para uma mulher mais graduada?
A questão da homofobia também é bastante pertinente a se discutir. Na atual conjuntura social, vive-se uma revolução no que tange à ampliação das vozes dos grupos considerados como minorias, mas seu eco não reverbera nos meios do jiu-jitsu. Não se sabe de um homem assumidamente gay nos meios competitivos (Leia mais sobre o assunto aqui). Nos treinos, prevalece termos como “bichinha”, “gay”, “fêmea” para fins de ofensa. Perguntei um dia a alguns colegas se eles aceitariam um homossexual nos treinos; responderam-me que “não, vai que ele se aproveita de mim”. Ou seja, um homem que gosta de outro homem teria, no imaginário de muitos lutadores, um desejo sexual intrínseco ao lutar com outros homens. Mas não se questiona o fato de que homens heterossexuais – os mesmos que alegam que gays se aproveitariam de um rola com homens hetero – negam veemente sentirem atração sexual por mulheres no meio de um rola.
Isso nos leva a uma contradição. Um dia, um faixa preta se aproveitou de mim enquanto lutávamos. Ele passou a mão no meio das minhas pernas diversas vezes, com uma conotação claramente sexual. Deixei o treino transtornada. Existia o agravante de que outros faixas pretas haviam presenciado a situação, mas escolheram “passar o pano” e fingir que nada havia acontecido. Pois, no imaginário deles, tudo bem mexer com uma mulher, desde que eles não sejam assediados por homens homossexuais. Não é incomum que esse tipo de coisa aconteça com diversas mulheres, que estão em minoria – social e numérica – nos tatames, e ficam impotentes diante da fraqueza de suas vozes. Quantas já não deixaram de lado o sonho de permanecerem nas competições em decorrência de algum abuso dentro da própria academia? Quantos ainda escondem a sexualidade por medo de represálias?
Batemos palmas para mulheres sobre o pódio nas competições, mas não enxergamos que além de terem treinado igual aos homens, lutaram contra machismos que as oprimem diariamente nos treinos. Treinaram igual, lutaram com fardos mais pesados, e, ainda assim, se deparam com premiações menores que os dos homens.
A arte suave, hoje, de nada tem de suave às mulheres.
Não defendo a ideia de que todas as mulheres devem se unir em prol de um feminismo libertador; seria lindo, mas utópico. Cada mulher tem suas particularidades, e nem sempre é possível deixar rivalidades de lado. No entanto, defendo que tais discussões acerca das opressões nos tatames seja ampliado, e que como consequência, possa se cobrar mais responsabilidade dos mestres.
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