Hoje, a tecnologia está presente em tudo em nossa volta, inclusive nos esportes, e no jiu-jitsu não é diferente. Isso nos permite assistir campeonatos de outros estados ou países ao vivo, acompanhar nossos ídolos pelas redes sociais e saber o que acontece com a arte suave ao redor do mundo, o que com certeza é muito positivo. Porém, como quase tudo tem o outro lado, a parte negativa desse avanço pode ser a efemeridade das coisas. Atualmente, tudo surge, passa e é esquecido muito rápido. Mas certos feitos e pessoas simplesmente não podem ser esquecidos, não é?
Digo isso, pois entrevistei a Hannette Staack e ela disse o seguinte: “Se eu falar meia dúzia de nomes de quem começou, lá do início, muita gente não vai saber quem é” e que hoje todo mundo pode postar algo e se tornar viral muito fácil, que as pessoas perderam um pouco a essência do jiu-jitsu. Isso me marcou muito. Pelo fato de escrever sobre a arte suave, mesmo antes de entrar para o BJJ Girls Mag, eu já pesquisava sobre as pioneiras do BJJ feminino e seu desenvolvimento, além de outros temas. Mas, realmente, muita gente não deve saber quem é Yvone Duarte, por exemplo.
Muito se discute acerca do jiu-jitsu “old school” e o jiu-jitsu “moderno”. Nosso esporte recebe muitas atualizações e variações, e muitas delas são positivas, mas o que seria de hoje se não tivesse quem começou tudo lá atrás? Principalmente no jiu-jitsu feminino, que teve seu boom de fato há pouco tempo. Para isso, muitas faixas pretas ralaram demais quando começaram a treinar e eram praticamente as únicas mulheres que persistiram no tatame.
Por isso, vamos conhecer um pouco de mulheres muito importantes para a história do jiu-jitsu.
Yvone Duarte
A primeira mulher a receber a faixa preta de jiu-jitsu começou a treinar em 1978, aos 14 anos. Com a herança de competições em outros esportes, Yvone sempre teve vontade de competir na arte suave, mas os campeonatos eram exclusivamente masculinos na época. Então, junto com outras mulheres da equipe do Mestre Osvaldo Alves, começou a pressionar a Federação do Rio para que abrisse categorias femininas. Em 1985, na faixa azul, ela disputou e ganhou o primeiro campeonato com categoria feminina organizado pela então Federação Carioca de Jiu-jitsu. Ela conta, em uma matéria do Bjj Fórum, que a rotina dos atletas antigamente era um pouco diferente do que é hoje: “Não tomávamos suplementos. Era na base do açaí, tapioca, mamão, vitamina de banana e muito rola, muito treino”.
Em 1989, Yvone foi trabalhar em Brasília, mas não abandonou o jiu-jitsu. Lá, tinha sua própria equipe e ministrou aulas para cadetes da Polícia Militar. No final da década de 90, foi uma das responsáveis por reorganizar a Federação de Jiu-jitsu de Brasília. Yvone sempre foi conhecida por sua técnica, habilidade e muita determinação nos tatames, ficando invicta durante vários anos nas competições. Além de tudo, Yvone também treinou grávida e destacou: “Gravidez não é doença e o jiu-jitsu é ou não é uma arte suave? É!”. Hoje, a grande pioneira do BJJ feminino no Brasil é faixa preta 5º grau.
Leka Vieira
Leka começou na arte suave com 16 anos, depois de sofrer uma lesão por conta do handebol, esporte que levava a sério antes de se apaixonar pelo jiu-jitsu. Mesmo vindo de um lugar que não tinha muita tradição no BJJ, Minas Gerais, ela manteve um ritmo intenso de treinos, conseguindo seu espaço e se destacando nos anos 90 e 2000. Em 1998, Leka foi graduada faixa preta e em 2001, depois de já ter um título mundial e um Pan-americano, se mudou para os Estados Unidos. Depois disso, ainda foi mais duas vezes campeã mundial e duas do Pan.
A carreira de Leka foi marcada por muitas lesões e em 2007, ela se afastou do jiu-jitsu por um tempo. Em 2010, tentou voltar a competir de novo, mas não conseguiu por conta e lesões, mas alguns anos depois voltou a dar aulas, abrindo sua academia na Califórnia (Checkmat Valencia).
Leticia Ribeiro
Letty, como é conhecida, começou a treinar em 1995 no Rio de Janeiro e é um dos maiores nomes do jiu-jitsu feminino atualmente, além de fazer parte do Hall da Fama da IBJJF (Federação Internacional de Jiu-jitsu). Leticia sempre foi uma competidora de sucesso e é dona de nove títulos mundiais, contando a faixa preta e as coloridas, além de ser 2x campeã mundial sem kimono e 2x campeã do Pan.
É também muito respeitada por ser uma excelente professora e ter um dos mais famosos “camps” de jiu-jitsu feminino do mundo. A vitoriosa Bia Mesquita é faixa preta e pupila de Letty e começou a treinar com ela ainda bem nova. Hoje, Letty é faixa preta 4º grau e professora da Gracie Humaitá South Bay, na Califórnia.
Hannette Staack
Hannette é do Maranhão, de uma família muito humilde, mas sua história com o jiu-jitsu começou em 1997, no Rio de Janeiro. Competindo desde a faixa branca, Nette conquistou oito títulos mundiais (sendo um sem kimono) e três do ADCC. Em 2007, ela foi morar nos Estados Unidos com o objetivo de focar em sua carreira como atleta, mas acabou começando uma nova equipe e se firmando como professora. Segundo ela, sua carreira nos campeonatos ainda não terminou, mas todos esses anos como professora renderam a Nette muito orgulho do trabalho que desenvolveu.
Hannette, hoje faixa preta 3º grau, também faz parte do Hall da Fama da IBJJF e dá aulas em Chicago, na Brazil-021 School of Jiu-jitsu.
Kyra Gracie
Como falar de jiu-jitsu feminino sem mencionar Kyra Gracie? Ela foi primeira mulher faixa preta da família, mas não pense que foi fácil só por ser uma Gracie. Teve que enfrentar o machismo vindo dos próprios familiares, que disseram para ela “deixar a luta com os homens”. Depois que começou a se destacar no cenário mundial, teve o apoio que merecia. Foi a atleta mais jovem ao conquistar um título do ADCC, aos 19 anos. Kyra é dona de cinco títulos mundiais, três do ADCC e três do Pan, além de fazer parte do Hall da Fama da IBJJF.
Apesar de não ser a mulher mais graduada do BJJ, é uma das principais e mais conhecidas referências do esporte. Hoje, a faixa preta não compete mais e atua como comentarista e apresentadora no Canal Combate.
Além dessas cinco, muitas outras mulheres são grandes influências para o jiu-jitsu feminino, como Michelle Nicolini, Bia Mesquita, Mackenzie Dern, Gabi Garcia, dentre outras. Nossa modalidade cresce a cada dia e muitas meninas se destacam nos mundiais atualmente. Porém, é muito importante que nomes como esses não caiam no esquecimento. Elas trabalharam duro por nós e temos muito o que agradecer!