Hoje, é mais difícil achar alguma academia de jiu-jitsu que não tenha pelo menos uma mulher treinando. Porém, na época em que algumas das pioneiras do esporte começaram, era muito raro ter outra mulher que continuasse no mesmo ritmo, e muitas delas treinaram boa parte de sua carreira só com homens. Foi melhor para elas treinar com homens? Isso as deixou mais “cascudas”? Muita gente pode pensar isso, mas quem disse que mulher não pode dar treino bom uma para a outra?
Em uma entrevista para o nosso portal, Hannette Staack disse que criou uma turma feminina, pois nunca teve a oportunidade de treinar com um grupo de mulheres. Mas as meninas também treinam na turma mista e dão muito trabalho para todo mundo, segundo ela.
Então, o que é melhor? Existe melhor ou pior nessa situação? Neste texto, vamos abordar os prós e contras de cada tipo de treino e entender algumas particularidades.
Primeiro, vamos esclarecer algo muito importante, que muita gente (leiga no jiu-jitsu) comenta: jiu-jitsu é uma arte marcial, um esporte, não é “agarra agarra”. Muito pelo contrário, a gente tem que ralar muito! Muita gente não se sente confortável vendo seu parceiro(a) fazendo determinadas posições da arte suave, mas essas pessoas são leigas e não conhecem o esporte. “Ah, mas fulana já foi assediada pelo companheiro de treino”. O problema é o tal companheiro e, jamais, o jiu-jitsu. Quem se vale da arte suave para treinar de maldade não está ali pelo jiu-jitsu, mas por qualquer outro motivo. A providência é, no mínimo, dar uma chamada, isso quando não for para dizer à pessoa que ela não é bem-vinda na equipe. Portanto, não há motivo para ter ciúme porque seu (sua) companheiro(a) treina jiu-jitsu. Que tal se arriscar e ir conhecer o esporte também? 😉
Quando eu comecei a treinar, achava que era melhor treinar com homem mesmo. Afinal, seria o maior desafio, não é? Geralmente, o homem é maior, mais forte. No campeonato, com certeza eu estaria mais do que preparada para lutar com meninas do meu peso. Certo? Errado. Não é necessariamente assim que funciona. Quando você começa a ter treinos bons com suas companheiras de tatame, vê como é gratificante ter uma menina para dividir aquilo com você. E, algumas vezes, o treino até rende mais, fica mais solto.
Por mais que algumas pessoas insistam em pensar que mulher junta não dá certo, dá sim. Convenhamos, muito “machão” por aí não gosta de perder para mulher e deixa o ego falar mais alto. Deixando bem claro que dentro da sua equipe, ninguém perde e ninguém ganha, vocês estão nessa juntos. E uma mulher é como qualquer outro companheiro de treino, ser finalizado por ela é igual ser finalizado por um homem. Só que, quando o ego insiste em falar mais alto, a força desnecessária predomina no treino. Mas, já aprendemos que jiu-jitsu não se trata de usar a força, não é verdade? Então, solta esse jogo! Deixa para usar a força quando ela for necessária e vier conjugada com a técnica.
Eu sinto que, em algumas situações de treino, das duas, uma opção vai acabar ocorrendo: ou o cara vai usar muita força ou ele vai “deixar” você treinar. Isso acontece muito. Meu professor sempre fala: não é para usar a força, mas não é para ninguém dar mole para ninguém, o treino é normal. Pois muitos homens parecem ficar com receio de usar muito a força e acabam deixando solto demais. Tenho muitos companheiros de treino que me sugam o máximo, movimentam, me finalizam, dão giro, mas não usam a força além da conta e nem me “deixam” treinar.
“Ah, Carol, então você não gosta de treinar com homens, prefere treinar com mulher?” Eu treino com quem tiver que treinar, não vou me privar e, muito menos, recusar treino. Só estou relatando o que eu sinto no meu dia a dia, que é comum a muitas meninas. A vantagem de treinar com homens é o que eu tinha dito anteriormente: eles geralmente são mais fortes fisicamente, o que pode te exigir de diversas maneiras, como ter que aprimorar mais ainda a técnica.
Em alguns casos, porém, não é tão simples. Então, vamos a algumas particularidades. Na turma feminina da Hannette, que eu já citei, há algumas mulheres que não se sentem à vontade ou não podem treinar com homens, por exemplo, porque a religião delas não permite. E veja, não quer dizer que ela esteja naquela religião porque é obrigada, é só uma cultura diferente da nossa, que temos que respeitar. Algo normal para a gente, pode ser estranho para elas. Nesse caso, podemos ver a importância que uma turma feminina exerce.
A turma feminina também é uma ótima porta de entrada para o jiu-jitsu. Uma menina que nunca praticou nenhuma arte marcial pode se sentir mais confortável em começar a treinar se encontrar outra mulher, ao invés de um tatame cheio de homens. Temos também casos em que a mulher pode já ter sofrido abuso (às vezes ocorre no próprio jiu-jitsu!) e a relação de confiança dela com um homem fica mais abalada. É preciso, então, olhar fora da caixinha e da nossa situação pessoal para entender todos os casos.
Uma turma só de meninas é algo relativamente novo e vantajoso em muitas situações. O problema é que nem todas as equipes contam com meninas suficientes para ter uma turma feminina ou simplesmente não querem ou não podem abrir mais uma turma. Portanto, ninguém vai negar treino. Se você veio de um lugar em que só treinava com mulheres e se depara com uma situação em que só não tem nenhuma menina. E aí, vai ficar sem treinar? Claro que não (a não ser em algum caso específico, como citei antes. E, mesmo assim, dependendo do caso, isso pode ser trabalhado ao longo do tempo).
Eu fico muito feliz de ter meninas treinando comigo e é muito importante para a evolução do jiu-jitsu feminino que mais mulheres pratiquem a arte suave. As mulheres podem se ajudar muito e tirar muito proveito de um treino juntas. Mas também sou grata aos meus companheiros de treino que me ajudam a evoluir. E não vou me negar de treinar com ninguém, seja homem ou mulher, até porque isso faz parte do respeito que você tem pelo próximo no tatame. Portanto, não é que um seja melhor que o outro. Que você vá treinar só com homens OU só com mulheres. Os dois tipos de treino têm suas particularidades e, na maioria das vezes, você vai conseguir evoluir das duas maneiras.
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