Muito já se ouviu sobre a mulher que quer praticar o jiu-jitsu e o esposo, namorado ou companheiro não deixa, assim como há a mulher que encrenca porque o marido, namorado ou companheiro treina. Pois é, esse tipo de comportamento existe e é mais comum do que aparenta, mas, para (tentar) dar um basta nessa confusão, vamos prestar uma ajuda para todos aqueles que ainda enxergam essa “luta agarrada” como um fator desencadeador de ciúme e brigas entre casais.
Posso começar afirmando que cada um tem o seu objetivo no jiu-jitsu: têm os que levam a sério o treino e evoluem; os que vão para experimentar sem maiores pretensões; os que são movidos pela onda da “modinha”; outros para ter um hobby ou pela saúde e existe ainda uma categoria de praticantes que vai mesmo para “se dar bem” com o sexo oposto. Até aqui, nenhuma novidade, porque, convenhamos, esses tipos acima elencados existem em qualquer lugar e em qualquer esporte, certo? Então, por que encrencar logo com o jiu-jitsu? A resposta é simples: a luta agarrada favorece os maus intencionados e alimenta o imaginário dos leigos e inseguros.
Lógico, você que tem um companheiro ou uma companheira que pratica o esporte tem todo o direito de se sentir ameaçado (a) quando vê o seu par rolando com outro (a) naqueles movimentos incessantes e frenéticos, às vezes tão complicados que você mal consegue entender o que está acontecendo de tão colados que eles ficam, fora o suor, as mãos em todos os lugares […] sim, é tudo verdade, mas você não acharia nada disso anormal se entendesse de jiu-jitsu, garanto!
A verdade é que o jiu-jitsu paga o preço por ser um esporte que deixa margem para os leigos terem várias interpretações e infelizmente quase nenhuma delas é positiva. É “luta agarrada” e por este simples fato já se configura como algo abominável para quem se acha dono de alguém, pior ainda é essa generalização que muitos fazem ao desconfiarem dos seus pares, pois colocam todos os outros praticantes como coniventes de algo que nem sempre é verdadeiro.
Bem, não adianta colocar panos frios, há sim quem entre nas academias de jiu-jitsu somente para estar perto dos meninos ou das meninas, dependendo da orientação sexual de cada um, justamente por se tratar de uma luta de muito contato, porém, existe algo implícito na arte suave que está acima de qualquer oportunismo, algo que eu qualifico como seleção natural do jiu-jitsu.
A seleção natural de uma academia de jiu-jitsu séria vai eliminando os maus intencionados a partir das suas próprias ações. Se há os que não levam o treino a sério, que só estão ali para sair com todo mundo como se estivessem numa caçada pela sobrevivência, se criam fofocas e situações constrangedoras entre os colegas de treino, se comprometem a imagem do professor e da equipe, esteja seguro de que nada disso é culpa do jiu-jitsu, mas de um problema sério de caráter pessoal. Pessoas com essas características não se criam nas academias sérias, não mesmo! Porque o tempo e a própria equipe se encarregam de limar esse tipo de gente.
Um fator também redundante está atrelado à estranha mania que muitos seres humanos possuem de querer responsabilizar terceiros pelas suas frustrações e inseguranças, assim, acabam cometendo uma grande injustiça quando jogam a culpa no jiu-jitsu para justificarem a falta de confiança no (a) companheiro (a) e não se dão ao mínimo trabalho de tentar entender o jiu-jitsu como um esporte apaixonante e não como um canal para possíveis relacionamentos extraconjugais. Por isso é tão comum ouvir histórias de pessoas que são colocadas contra a parede, obrigadas a ouvir a célebre e abominável frase: “ou o jiu-jitsu ou eu!”.
Ora, posso me colocar como exemplo aqui, pois sou mulher e pratico o esporte há quase 19 anos e se você me questionar se já sofri assédio no tatame eu lhe respondo que sim e não foi pouco, mas não houve nenhum problema desta ordem que um “não” bem dado ou uma chave de braço bem encaixada não tivessem resolvido. O que eu quero dizer com isso? Que postura, caráter, atitude e diálogo são fundamentais para tudo na vida, seja num relacionamento, no trabalho, na escola, na faculdade, na sua casa, na academia de musculação e, lógico, no tatame.
Então, se você tem alguém que ama e que pratica o jiu-jitsu, tente conhecer antes de tecer teorias da conspiração contra o esporte, e saiba de antemão que o jiu-jitsu, quando praticado de forma séria, vicia, faz com que a pessoa queira estar na academia pelo maior tempo possível, que nem sempre tem outro fator atrativo além da prática em si, que há respeito e cumplicidade entre os colegas de treino, que a equipe vira a segunda família e que eu conheço muita gente que foi colocada contra a parede por seus pares e optou pelo jiu-jitsu, pondo fim ao relacionamento. Simples assim!
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