Atleta da Semana – Entrevista com Lúcia Cavalli

Fala, galera! O #AtletaDaSemana recebe hoje a Lúcia Cavalli, faixa azul da Guigo Jiu Jitsu, de São Paulo. Hoje ela nos contou um pouco sobre como conheceu o esporte, porque ficou e como consegue conciliar sua rotina de trabalho e treinos. Boa leitura!

Lúcia nos contou que seu envolvimento com o jiu-jitsu começou a partir de sua adolescência, e sempre pensou que estava ali para acontecer, mas antes precisou evoluir muito como pessoa para entender isso e deixar o esporte ficar em sua vida. Seu primeiro contato foi aos 14 anos: treinou alguns meses (dois ou três) com um namorado em uma academia quando ainda morava em Porto Alegre. “Gostávamos muito da cultura do RJ, dos funks antigos e etc, e o jiu-jitsu fazia parte disso (anos 2000, minha gente), então fomos atrás de treino, mas não demos continuidade.”

Com 16/17 anos, novamente procurou uma arte marcial devido ao seu temperamento e hiperatividade – muita energia. Pensava em fazer Krav Magá, mas tinha um amigo faixa roxa que dava aulas e era completamente apaixonado por jiu-jitsu, e, segundo ela, sabemos como isso é contagiante. Treinou durante mais ou menos 10 meses na academia que ele ministrava aulas, e já amava o esporte intensamente, até o incidente do suicídio de seu irmão, que lhe deixou com uma fobia grave de estrangulamentos por causa de detalhes contextuais dessa perda.

Voltou a treinar 7 anos depois, com 24, “por estar gordinha e sedentária mesmo”, lembra a atleta. Ela ainda diz que era engraçado porque nesses 7 anos ela sempre comeu como se num amanhã eu pudesse retomar as aulas de jiu-jitsu e emagrecer 10kg em um mês – contava com isso e falava isso para todo mundo. E foi exatamente o que aconteceu. Segundo ela, já fazem 4 anos que deixou que o jiu-jitsu realmente tomasse um lugar importante em sua vida. Desses 4 anos, parou 1 ano, antes de ganhar a faixa azul mais ou menos. “Algo que não quero que aconteça novamente”, reitera.

Quanto às dificuldades enfrentadas no esporte, ela diz que  enfrenta alguns obstáculos como mulher que são complicados de descrever, mas sabe que é um ambiente desafiador em muitos níveis:

“questões difíceis vão aparecer pra você que não necessariamente aparecerão pros seus colegas de treino homens”

Mas ela optou por não se estender muito nisso. Trocou duas vezes de academia também nesses últimos 4 anos, e na primeira dessas vezes, sua  adaptação foi muito difícil, pois antes treinava em um lugar onde já estava acostumada com as pessoas e depois se viu num ambiente estranho onde não me identificava muito com boa parte dos colegas, ou com o espirito do lugar em si.

“A frequência do treino também depende muito dessa coisa sensível que é se sentir a vontade na academia que a gente treina. Mas graças a isso cheguei até minha equipe atual que é muito boa nessa parte, e em outras também. De resto não posso reclamar, minha família sempre me apoiou 100% e celebrou cada conquista que tive dentro do jiu-jitsu, inclusive poderia ter investido nisso antes, pois todas as oportunidades me foram oferecidas.”

Sobre sua rotina de treinos, ela tenta manter a constante de 10 treinos por semana. Segundo ela, lá no Guigo eles tem o hábito de fazer muitos rolas no treino do meio dia e assim, costuma ficar satisfeita quando chega ao final do segundo treino da noite e contabiliza uma dezena de rolas feitos. Uns dias antes das competições ela dá uma diminuída no ritmo, principalmente se for participar de um campeonato grande.

Ela ainda conta que seu maior ídolo do esporte no momento é o Guigo, que conquistou seu respeito nesse um ano que me mudou pra SP e começou a treinar com ele, e o professor Sergião, pelo trato fino e o comprometimento que eles tem em ajudar as pessoas que estão embaixo das asas deles.

Conta também que tem outros ótimos colegas competidores que me inspiram, como o Gavião. “Para alguém ser meu ídolo precisa ser, antes de tudo, uma pessoa boa, e por isso tem a tendência de admirar pessoas próximas de mim, porque as conhece melhor.” Fora isso, desde a faixa branca sempre assistiu muitos highlights do Nino Schembri (e a partir disso adquiriu um gosto especial por omoplatas), Marcelo Garcia e Leandro Lo. Segundo ela, o jogo do Lo é muito pra frente e adora as passagens de guarda dele. Ele e o Marcelo Garcia que também tem essa guarda que gosta muito, a Oneleg.

Confira os principais títulos dela:

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Campeã São Paulo Open 2016 (Foto: Arquivo Pessoal)
  •  Vice campeã sul-americana, com 10 meses de treino: “Isso foi importante pra mim.”
  • Vice campeã Absoluto SP Open 2015, um mês após ganhar a faixa azul, fazendo a final com Eliane Galvão, onde perdeu por 3 x 0.
  • Campeã SP Open Nogi, onde lutou de médio em seu primeiro campeonato sem kimono, onde pegou muito gosto pela modalidade
  • Campeã categoria Curitiba Open 2016, fechando com sua amiga de treino Thayná Rodrigues

Quando perguntamos sobre como ela dá conta de treinos e trabalho, ela disse que concilia do jeito que dá, ou do jeito que a dor no corpo deixa… Lúcia é ilustradora e designer gráfico, trabalha em casa e cada vez mais seus projetos estão relacionados ao jiu-jitsu.

Por isso quando lhe perguntam se pretende viver de jiu-jitsu ela responde que sim, de um jeito ou de outro. E essa certeza habita totalmente em seu coração:

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Um de seus trabalhos como ilustradora (!)

“O esporte nos traz muitas coisas, muitas pessoas e muitas oportunidades se você estiver no lugar certo e com a vontade certa. Não treino jiu para ser melhor no jiu, treino jiu-jitsu para ser uma pessoa melhor, uma filha melhor, uma desenhista melhor, e com certeza o treino reflete em todas essas coisas ;).”

Sobre deixar sua cidade Natal e vir para São Paulo:

Uma coisa tem que ficar clara, eu sempre amei SP (desculpa, Porto Alegre, ainda te amo). Mas desde os 20 anos vinha pra cá e alimentei meu imaginário em relação a essa cidade. Um imaginário que se tornou real na minha vida. SP, pra mim, realmente é mágica. Também me encantei com a estrutura que a academia do Guigo tinha, e a mentalidade da equipe, que em POA não me identificava muito. Vim pra competir o SP Open e visitei a equipe do Guigo, fiz uns treinos, fui super bem recebida. Quando voltei pra Porto Alegre já sabia que esse era o momento e que eu não poderia deixar passar, pois tenho 28 e já possuo um ou dois arrependimentos por não ter investido mais nisso em outras etapas da minha vida.”

Sobre sua alimentação, admite não ter “muitos problemas”: Ela mesma admite ser bem magra e tem um metabolismo muito rápido, então não entra numa paranoia muito restritiva de alimentos, senão “ela some”. Em outras palavras, diz que come tudo que tem vontade, porém tenta focar em alimentos que vão lhe auxiliar nos treinos durante a semana: “grãos, coisas integrais, suplementos, gorduras boas e flangos da vida”, brinca.

Sobre seus planos no jiu jitsu, ela diz que encara o esporte como uma outra faculdade. E quer chegar até a preta. Fora isso ela diz que se colocou como competidora desde cedo – que não é exatamente uma escolha consciente – foi algo que se revelou no caminho mesmo, pois em suas minhas primeiras semanas as pessoas lhe perguntavam: “Você compete? Pois deveria! Você joga pra frente” e coisas assim. Então sigo competindo e vamos ver onde isso vai dar.

Segundo ela, não acreditava que alguém se inspiraria nela até uma menina lhe dar um depoimento em um campeonato dizendo que hoje treinava por sua causa, pois foi sua colega de colégio na adolescência e sempre lembrava dela falando daquilo com um amor imenso e contagiante.

“Acredito que as pessoas precisam seguir seus corações. Logo que cheguei em SP me ensinaram que a vida tem muitos caminhos e que nenhum deles dá em lugar algum, que é tudo percurso. Mas alguns caminhos têm coração e outros não. Alguns caminhos vão te fazer uma pessoa triste, frustrada e irritada enquanto você os percorre, mas outros se justificam por si mesmos.  Queria agradecer também pelo convite para a entrevista e pelo trabalho incrível que esse portal faz pelas minas no jiu-jitsu! Todo meu respeito e amor. OSS!”

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