(Foto: Carla Patrícia Castanho)

É… quem me vê lá no pódio não imagina todo o caminho que eu trilhei pra estar lá e receber a medalha. Quem vê minha foto no Facebook no pódio, de certo deve pensar “nossa, tá bem, hein? viajando todo fim de semana para lutar”.

Quantas vezes já não ouvi: “caramba, também quero ser lutador de jiu jitsu! Viajar o mundo, ter vida boa”… Toda vez que eu ouço algo do tipo, eu falo: “é, cara, começa a lutar, todo lutador tem uma vida de rei!” Por que explicar pra ele que não é bem assim vai demorar, vai dar trabalho. Mas cara, nunca tive condições de vida muito favoráveis não. Quem olha minha foto no pódio não imagina a briga que foi pra pagar minha filiação. Não imagina quanto tempo eu fiquei na fila pra pegar um exame de avaliação física para mandar pra federação. Não imagina o corre que eu fiz com rifa, rateio, vaquinha na internet pra pagar passagem, hospedagem, alimentação.

Não imagina que hora ou outra faltou grana pra comer alguma coisa gostosa na rua. Não imagina que eu tô viajando, mas não é pra ficar na farra, passeando, comendo, bebendo, engordando. Não imagina a briga que é ficar horas na estrada com fome porque tenho que bater peso, fazer marmita, levar mochila, kimono… Não imagina quantas horas eu já fiquei esperando, agoniado para lutar. Minhas viagens são pra lutar, pra competir. Não pra passear.

No fim das contas, o campeonato é só a cereja do bolo, só o fim do expediente. Todo o trabalho é feito antes. Treino, dieta, preparação física. Fazer mil drills, posições, treinar até o corpo fadigar. Terminar o treino, comer a marmita, esperar um pouco e voltar para o tatame de novo. Mais um treino, mais posições, mais gente pra rolar. Divulgar rifa, cobrar quem marcou nome e não pagou, juntar moedas, cada centavo. Pagar passagem e ver que sobrou pouca coisa pra gastar na viagem.

Quantas vezes já dormi na rodoviária depois de lutar, e tive que esperar o dia seguinte pra voltar pra casa porque não tinha mais ônibus pra casa. Dormir em cima da mochila, em cima do kimono. Quantas vezes já não fiquei horas esperando pra lutar. Cansado, com fome. Mas ali, sempre ali. Sabe porquê? Porque no fim das contas, recompensa ver seu braço ser levantado pelo árbitro ao final da luta.

No fim das contas eu posso até não ganhar, mas eu sei que eu fui lá e fiz o meu melhor, dei o meu máximo, me joguei, me entreguei, fui pra cima. Já fiz tudo isso e ganhei, já fiz tudo isso e perdi na primeira luta. Todos querem ganhar, porém uma coisa é certa, você ganhando ou não: vai aprender muito, vai conhecer gente nova, vai conhecer novas histórias. novos rostos. Se a vida que você sonhou é ficar atrás de um computador ouvindo as ordens do seu chefe, tudo bem. Eu vivo o meu sonho e corro atrás dele todos os dias. Pago um preço relativamente alto, mas não trocaria por nenhum outro estilo de vida.

E você, quanto ganha para desistir dos seus sonhos todos os dias?

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