Conheça as BJJ Sisters, a primeira comunidade de Jiu Jitsu feminino da Colômbia

Hoje vamos conhecer as BJJ Sisters, a primeira comunidade de Jiu jitsu feminino da Colômbia, sua história, as dificuldades que elas encaram, e sua evolução não só num esporte principalmente masculino, mas também num país onde o jiu jitsu é muito novo. A comunidade foi criada há quase dois anos atrás pela Liliana Arias, faixa azul quatro graus da Octagon Jiu Jitsu e a Marcela Sánchez, faixa roxa dois graus da Alliance Colômbia.

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As BJJ Sisters treinam uma vez por semana na cidade de Bogotá, e o espaço não é só para o Jiu Jitsu, mas também para qualquer arte marcial, esporte ou atividade que complemente o crescimento marcial e pessoal das meninas como Judô, Luta, Defesa Pessoal, MMA, etc.

Se você criou, faz parte de ou quer criar uma comunidade de jiu jitsu feminino recomendamos ler o que a Liliana falou para nós:

BJJ Girls Mag: Há quanto tempo você treina jiu jitsu?

Liliana: Eu comecei treinar em março do 2012. Conheci o BJJ quando eu fazia condicionamento físico na Octagon MMA e eu via a aula de BJJ. Achava muito estranho porque era muito diferente de tudo o que eu já tinha visto. O BJJ parecia mais informal e diferente de outras artes marciais e curioso pelo fato de não ter mulheres. Aí eu decidi treinar.

BJJGM: Quantas mulheres treinavam com você?

Liliana: Na verdade, nesse momento não tinha nenhuma mulher treinando e esse foi um dos motivos pelos quais eu demorei a começar, não tinha uma parceira ou amiga de treino. E foi assim por muito tempo até que a Marcela começou treinar também e aí já éramos as duas. De vez em quando alguma outra menina entrava, mas saia muito rápido, a participação das mulheres não era constante. Hoje é diferente e cada dia aumenta mais o número de meninas.

BJJGM: Quando e por que nasceu a necessidade de criar um grupo feminino?

Liliana: A ideia do grupo nasceu faz dois anos. Marcela, que criou o BJJ Sisters comigo, e eu viajamos para o México para um campeonato organizado pela Itzel Bazúa, com a Sophia Drysdale e a Mackenzie Dern, duas representantes muito importantes do BJJ feminino. Era uma oportunidade incrível que não podíamos perder. Lá encontramos muitas meninas de diferentes partes do mundo e isso para nós foi uma coisa muito nova. Depois do camp achamos muito necessário ter a possibilidade de treinar com mais meninas, mas não pelo fato de evitar treinar com homens porque eu pessoalmente acho muito bom poder treinar com eles. Quando você vai para um camp como esse você percebe que é necessário, para treinar, lutar e competir com mulheres, adaptar as técnicas porque os corpos dos homens e das mulheres são diferentes, a força é diferente, as motivações são diferentes, e a metodologia acho que deveria ser diferente porque os “códigos” são diferentes também. E ai foi que achamos que devíamos fazer alguma coisa, mesmo não sendo muito graduadas. Nós duas tínhamos uma responsabilidade em nossas equipes e, baseadas em nossa experiência, decidimos criar um grupo que fosse diferente também.

BJJGM: Quais foram as maiores dificuldades nesse momento? E agora?

Liliana: Quando decidimos começar o grupo foi feito sem custo para as meninas, pois sabíamos que já era difícil experimentar coisas novas, agora pior você ter que pagar uma fortuna para saber se você gosta ou não, achamos que era mais um obstáculo. E mesmo isso sendo em algum momento um problema para nós no aspecto econômico, o propósito sempre foi o mesmo. BJJ Sisters deve ser uma ponte que conecte o Jiu Jitsu feminino com o masculino, e não um grupo excludente.

Então a dificuldade foi perder o medo de sermos julgadas por criar um grupo mesmo não tendo graduações avançadas, e também criar um grupo no qual fosse claro que nós não éramos professoras, mas parte de um “laboratório” no qual queríamos aprender junto com as outras meninas. Isso foi difícil. Poucas tinham praticado BJJ, então no final ficamos ensinando as coisas que nós sabíamos com o objetivo de compartilhar esse conhecimento, essa experiência e essa paixão pelo BJJ, sem restrição.

BJJGM: Como tem evoluído o objetivo do grupo?

Liliana: Hoje já cumprimos esse objetivo principal que mencionei, e é muito gratificante ver que cada vez temos mais mulheres, mais opções e variedade, grandes, pequenas, altas, baixas, jovens, velhas, etc. Acho que isso é BJJ Sisters. O espaço para qualquer mulher experimentar e decidir se gosta ou não. Temos até muitas meninas que continuam indo não pelo BJJ, mas porque encontraram um espaço seguro, de confiança e tranquilidade, um espaço para elas. E esse para mim é um outro objetivo. Elas não precisam se tornar campeãs, mas podem encontrar no Jiu Jitsu uma oportunidade para sentir mais segurança e mais empoderamento.

BJJGM: O que vocês fazem como grupo para expandir o BJJ no seu país e especialmente no público feminino?

Liliana: Então sobre isso eu acho que ainda faltam estratégias para expandir o nosso alcance, mas acho que nossa contribuição tem sido abrir essa lente para outras pessoas chegarem e participarem de um jeito diferente. Acho que num futuro próximo, a ideia é chegar em outras regiões do país. Mas acho que ainda faltam estratégias midiáticas para crescer e esse é também um novo objetivo.

BJJGM: O que vocês fazem para superar os obstáculos e preconceitos que, sendo mulheres, nós encaramos no tatame?

Liliana: É complicado. Às vezes as pessoas ficam com medo de atuar sozinhas, então acho que BJJ Sisters é um espaço para sentir mais segurança e acho que a maior contribuição é trabalhar como comunidade, juntas e dar apoio. Ainda tem muito para trabalhar no quesito de romper preconceitos. Ser mulher não pode ser limitante, não pode ser excludente, devemos fazer com que os outros respeitem nosso lugar no BJJ, e reduzir ou eliminar aquelas situações nas quais somos subestimadas. Mas o primeiro passo é admitir que somos diferentes e que não pedimos ser iguais mas ter o espaço de treinar e ser respeitadas. Esse é o desafio.

BJJGM: Quais são seus planos para o futuro?

Liliana: Continuar com BJJ Sisters para sempre, até a morte. Continuar treinando e entendendo o lugar do BJJ na minha vida. Por enquanto, o BJJ Sisters vai continuar com seu espaço na Octagon MMA, a Marce tem planos de abrir o espaço em Medellin (outra cidade). Queremos também ser mais ativas nas redes, fazer mais vídeos. Mas o desafio mais importante é conseguir uma participação mais ativa das meninas da comunidade. Que, como eu disse, não seja uma aula, mas um “laboratório” onde possamos explorar as coisas que cada uma não entende ou precisa entender melhor. Que o grupo possa funcionar de maneira mais independente, que não dependa de poder ou não dar a aula, mas que cada uma tenha a liberdade de propor ou fazer o que quiser, fazer  open mats, participar de torneios, posicionar o nome do grupo, tanto fora quanto dentro das equipes. Um grupo autônomo construído por todas.

E você, tem algum projeto parecido? Conta aqui pra gente 🙂

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