Entrevista Exclusiva com Gabriel Teixeira – CEO da Vouk Brasil

Hoje conversamos com o Gabriel Teixeira, lutador, professor, pai de menina e CEO de uma das maiores marcas de kimono de jiu-jitsu do Brasil. Ele falou com a gente sobre empreendedorismo, dicas de instagram para atletas, paternidade, carreira de atleta e muito mais. Confira a entrevista na íntegra:

– Gabriel, você é faixa preta, empreendedor e pai. Como você equilibra esses diferentes papéis no dia a dia? E como cada um desses papéis influencia o outro?

Então, eu tento me programar um pouco mais, né? É uma coisa que eu aprendi, porque eu sou um pouco desorganizado. Mas eu tento, por exemplo, programar as coisas que eu tenho que fazer do trabalho, das postagens, de forma que eu consiga estar com a minha filha, estar 100% com ela, dedicar um tempo bem legal. Então, eu organizei para botar o meu treino de meio-dia às duas. Então, eu consigo disponibilizar o tempo ali da manhã, antes da escola, com a minha filha. E à noite também, né? Com a minha filha e com a minha esposa. E aí, eu treino meio-dia, trabalho durante o dia e consigo passar esse tempo de manhã e de noite com ela. E aí, nos finais de semana, eu deixo o máximo programado possível para eu poder aproveitar da melhor maneira possível lá com elas.

– A Vouk Kimonos é conhecida não apenas pela qualidade dos produtos, mas também pelo apoio a causas sociais. Pode nos contar mais sobre como surgiu essa ideia de unir empreendedorismo e responsabilidade social? Todas são importantes, mas qual causa é a sua preferida?

Eu acho que o jiu-jitsu, na verdade, é uma ferramenta muito poderosa, tanto de divulgação como de chamar atenção para diversos temas. E eu acho que a galera do jiu-jitsu é muito engajada. Então a ideia foi a gente usar esse engajamento, esse ponto em comum que a gente tem, para falar sobre temas importantes, como eu destaco sempre do autismo, por exemplo.

Eu acho que, além da conscientização, de aprender mais, saber mais sobre o autismo, a gente conseguiu divulgar uma ferramenta muito boa para vários pais e mães que não sabiam que o jiu-jitsu pode ser algo muito significativo na qualidade de vida, no desenvolvimento. Então acho que foi a campanha mais importante, ou uma das mais importantes que a gente já fez.  A do Outubro Rosa também foi muito interessante e vamos continuar fazendo.

– Você participa ativamente de eventos de jiu-jitsu. Quais são os campeonatos ou eventos mais marcantes que você já lutou? 

Então, esse ano foi o ano que eu menos lutei por questões de trabalho e tal. Mas eu vou fazer uma luta agora, num evento no final do ano, uma luta casada. Os mais importantes que eu já lutei foram brasileiros, sul-americanos e kimono, que eu fui campeão. E uma experiência muito marcante que eu tive foi ser coach do Eli Braz no ADCC, em Las Vegas, acho que foi um evento de uma magnitude absurda.

Enfim, é engraçado você estar alguns anos atrás assistindo na televisão e de repente você estar lá participando de alguma forma do evento, lidando com a galera que trabalha no evento, com a transmissão, é muito louco.

– Para os atletas que buscam apoio ou patrocínio, que dicas você daria para começar? Quais são as qualidades e atitudes que você busca em atletas patrocinados pela Vouk?

Bom, essa coisa do patrocínio, eu sempre falo que existe uma diferença muito grande entre uma relação comercial e doação ou caridade. As pessoas costumam confundir muito isso. Então, eu acho que a pessoa tem que se entender como uma empresa, se entender que ela vende também e que as empresas precisam vender.

E elas vão querer associar a imagem delas às pessoas que têm boas formas de vender e de divulgar. Então, eu acho que isso é essencial. E outra coisa muito interessante é saber que não existe uma fórmula, uma receita de bolo. Então, eu sugiro a pessoa pegar o que ela já tem mais aptidão, já se encaixa melhor, seja humor, seja técnica, notícia, enfim, o tipo de conteúdo que ela mais se identifica, e começar a produzir isso com bastante constância, que eu acho que também se postar e produzir conteúdo sem constância não tem como dar certo.

– Seu perfil no Instagram é bem dinâmico e envolvente. Que conselhos você daria para atletas e academias que querem crescer nas redes sociais? 

Cara, sobre as dicas do Instagram, eu acho que o principal é levar isso como um trabalho. Então, a pessoa tem que entender que ela tem dois trabalhos no mínimo. Um trabalho é lutar, competir, etc. E o outro trabalho é se vender, se mostrar, mostrar o que tem de diferente e conseguir entender de fato que isso não é assim “Ah, quando der eu posto”. Não. 

Tem que ter rotina, tem que ter seriedade, tem que estudar isso porque as mídias mudam, a relação das pessoas com a rede social muda a cada ano, então tem que estar por dentro desse meio.

– Como pai de menina e faixa preta, como você enxerga o papel das mulheres no desenvolvimento do jiu-jitsu? Que ações ou iniciativas você acha que podem incentivar ainda mais a participação feminina no esporte, seja em campeonatos ou lotando as academias?

Eu acho que é fundamental para a gente ter cada vez mais mulheres treinando, a gente ter ambientes seguros, respeito, ambientes amigáveis e seguros que fazem com que o esporte cresça de uma maneira geral. Então eu acho que as pessoas têm que se sentir bem em qualquer ambiente e acho que a academia de jiu-jitsu tem que ser um exemplo disso.

Então eu acho que machismo, falta de respeito, qualquer tipo de sexualização relacionada com o esporte, assédio, eu acho que isso tudo é – assim, estou tentando usar um termo aqui para não falar um palavrão -, mas são coisas inaceitáveis

E eu acho que tem que ser parte da cultura das academias, do jiu-jitsu, um ambiente seguro e que todo mundo se sinta confortável.

Com relação aos campeonatos, eu acho que tem que aumentar a divulgação e a premiação. Na minha visão, o primeiro evento que eu fiz foi um evento 100% feminino. E a gente fez premiação de dinheiro, passou na televisão aberta. Eu quis fazer justamente por isso.

E eu nem sonhava em ter uma filha. Na verdade, eu sonhava, eu sempre quis ter uma menina, mas eu não imaginava que eu ia ter uma menina. Eu não imaginava que a gente ia engravidar tão rápido e tal. Então, eu acho que isso faz toda a diferença, a gente chamar a atenção, divulgar, ter as premiações iguais no masculino e no feminino. E eu acho que é isso, faz toda a diferença. Na minha federação aqui (FJJERIO), inclusive, todas as premiações são iguais. Independente de masculino ou feminino, com ou sem kimono, é o mesmo valor para todo mundo.

Eu acho que o papel das mulheres no jiu-jitsu é fundamental. Eu acho que nada faz, nada influencia uma mulher mais do que outra mulher que já estar treinando. Então a gente vê, por exemplo, a nossa academia, hoje aqui em Petrópolis, a gente vê que tem muita mulher treinando.

E às vezes a mulher até chega lá para fazer boxe ou outro esporte e não imagina que o jiu-jitsu pode ser para ela. E aí ela vê várias outras mulheres treinando, ela já se sente bem mais à vontade. A gente tem um dia que é só aula feminina, que também serve muito para isso. Às vezes a pessoa prefere começar treinando com mulheres e tal, mas é o que sempre acontece, a galera chega, treina lá um pouquinho com as mulheres, daqui a pouco está treinando com todo mundo, se sente confortável.

Mas com certeza a influência das mulheres é o que faz toda a diferença.

– Para aqueles que sonham em empreender ou estão começando a empreender dentro do mundo do jiu-jitsu, seja com uma marca de kimonos ou outros produtos, o que você diria para ajudar essas pessoas a prosperar?

Então, para quem sonha em empreender no jiu-jitsu, eu acho que a pessoa, não só no jiu-jitsu, mas eu acho que a pessoa tem que entender que aquilo ali não tem hora para começar, para acabar e tem que estar acostumado a tomar negativa, a dar errado. Eu acho que no jiu-jitsu a gente ainda enfrenta uma coisa muito grande de tradição, então tem pessoas que vão ser, muitas pessoas vão ser, contra a novidade, qualquer tipo de novidade que seja.

E você precisa ser persistente e tentar fazer o que os outros não estão fazendo, tentar enxergar o que as pessoas não estão enxergando, ver necessidades que às vezes já até existem, mas ninguém está suprindo, às vezes o próprio público não está identificando ainda qual é a necessidade dele… eu acho que essa é a grande visão.

Quando a gente começou a empresa, eu era faixa azul, né? Então, existiam muitos faixa preta e tal que não me respeitavam, não respeitavam a empresa simplesmente pelo fato de eu ser faixa azul jiu-jitsu.

E eles achavam que eles tinham que ganhar as coisas e não comprar porque eles eram mais graduados, enfim. Existe um pouco essa relação ainda meio complicada entre graduação e negócio, respeito e negócio, que as pessoas ainda atropelam um pouco no meio do jiu-jitsu.

Eu acho que o meu conselho que eu dou é: ignore isso, faça o seu negócio, seja diferente, seja honesto e faça um produto bom. Não adianta ter um cliente para comprar uma vez um produto pontual, né?

No jiu-jitsu é um nicho, então a gente tem que fazer com que as pessoas sejam nossos companheiros ali, parceiros da marca, com uma relação com mais longevidade. Não adianta. Não adianta a gente querer só empurrar um produto porque você vai vender uma vez só.

Então, focar em fazer coisas de alta qualidade e comunicar isso também de uma maneira diferente.



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