Jiu jitsu nos EUA: Após viver aqui por um ano e meio, tive a oportunidade de observar e experimentar o cenário do Jiu-Jitsu local e compará-lo sobre como ele funciona, na prática, no Brasil. Essa experiência me trouxe diversas percepções culturais e estruturais entre os dois países no que diz respeito a esse esporte.
Neste artigo de hoje, irei compartilhar as principais distinções que pude observar, que vão desde a popularidade do no-gi até a forma como os eventos e treinos são organizados e valorizados.
1. A Popularidade do jiu jitsu nos EUA
Nos Estados Unidos, o treino de Jiu-Jitsu no gi (jiu jitsu sem kimono) é muito valorizado e frequente nas academias, o que difere do Brasil, onde os treinos com kimono são mais comuns. Nos EUA, os treinos de no-gi acontecem regularmente e são muito populares, refletindo uma preferência nacional que influencia até mesmo os open mats, que são facilmente encontrados aos finais de semana em diversas academias por aqui.
2. A Cultura dos Open Mats Pagos
Outra diferença é a prática comum de pagar pelos open mats nos Estados Unidos. Enquanto no Brasil esses encontros podem ocorrer durante feriados ou finais de semana de forma esporádica e muitas vezes gratuita, nos EUA é usual que se pague uma taxa para participar desses treinos, afinal, o americano já está acostumado, desde cedo a pagar por absolutamente tudo. Por isso, para ele é normal pagar um valor para participar de um Open Mat. Na minha academia por exemplo, participar de um open mat custa 30 dólares.
3. Foco Intenso no Público Infantil
Nos EUA, há uma grande ênfase no treinamento de crianças no jiu jitsu. Por isso, as academias observam a demanda desse segmento e oferecem diversas atividades lúdicas e educativas, especialmente durante os meses de férias escolares de verão.
No Brasil, as férias escolares são em julho e dezembro/janeiro, e aqui, as férias duram cerca de dois meses consecutivos no verão, que vão de junho a agosto. Durante esse período, são organizados camps e eventos como o “Parents Night Out”, que permitem que os pais tenham um tempo livre para jantar ou pegar um cinema por exemplo, enquanto as crianças participam de atividades na academia.
4. Regras e Técnicas Permitidas em Competições
Se você visitar uma academia de jiu jitsu por aqui, pode ser surpreendido por alguém ao tomar uma leglock, americana de pé ou heel hook. Isso acontece porque aqui, muitos eventos nogi permitem essas finalizações inclusive para crianças (o que eu acho SUPER errado).
5. Condições e Valorização de Coaches em Eventos
Os ginásios de campeonatos de jiu jitsu nos EUA são equipados com ar-condicionado e outras comodidades, e aqui os coaches são bem valorizados. Os organizadores de eventos, normalmente criam áreas exclusivas para os treinadores, com lounges, com alimentação e outras conveniências, sofás, onde podem ficar bem à vontade. O que é bem interessante, afinal, é o coach que traz os alunos para o evento, e por isso, deve sim ser valorizado, né?
6. Sobre os caminhos que o jiu jitsu está tomando
A percepção que eu tenho é de que o Jiu-Jitsu nos EUA está sendo cada vez mais valorizado que no próprio Brasil, que como sabemos, é o berço do jiu jitsu para o mundo, com muitos atletas brasileiros buscando oportunidades por aqui devido às melhores condições de remuneração e suporte. Aqui, um atleta consegue dar aulas e lutar os maiores eventos de jiu jitsu.
7. Mais suporte no treinamento de atletas de alto nível
Eu nunca fui atleta na vida, mas por um tempo, mesmo não conseguindo fazer mais de um treino por dia (afinal sou mãe e tenho outras responsabilidades), eu tive a oportunidade de viver o jiu jitsu por causa da oportunidade que meu esposo recebeu para dar aulas aqui no Texas. Então eu comecei a treinar mais, competir mais, e a parte de preparação física (musculação, alimentação etc) é mais acessível: você consegue pagar uma academia de ponta por um preço super confortável. Além disso, essas academias normalmente tem DayCare, jacuzzi, sauna, piscina e outros recursos bem bacanas, principalmente para a recuperação de treinos intensos.
O acesso à alimentação também é melhor: alimentos saudáveis são mais baratos, suplementos também, e apesar de aqui ser acessível também os famosos fast foods, se você se organizar, consegue fazer uma boa compra de mercado e montar suas marmitas com comida de muito boa qualidade, e não apenas batata doce e frango.
Imagino que no início seja difícil viver uma vida de muitas regalias, mas sem dúvidas, é muito melhor que as condições precárias que o mercado de jiu jitsu ainda oferece aos atletas brasileiros.
Cansei de ver atleta comendo macarrão com salsicha dia e noite, dormindo no tatame, sem conforto nenhum, se alimentando praticamente do seu sonho e de uma vida melhor através do esporte.
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Com base nisso, eu imagino que essa tendência continue, com os EUA atraindo talentos internacionais e os eventos brasileiros possivelmente perdendo espaço. E você, o que pensa sobre a evolução do jiu jitsu ao longo dos anos?
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