A atleta Fernanda Torres, 42, faixa roxa representante da Equipe Checkmat, possui uma relação com a arte suave que transcende as quatro linhas do tatame: toda a família treina unida, dentro e fora da academia. “Meu filho do meio e marido já treinavam, daí resolvemos colocar nosso menor, de 3 anos. Fiquei durante 1 ano apenas observando o treino infantil, que acontecia junto com o feminino, até que resolvi treinar e nunca mais parei“, recorda.
Competindo atualmente na categoria Master 3, Fernanda já encarou desafios até na categoria adulto, devido ao baixo número de atletas em algumas competições. “Na faixa branca não havia opção para lutar de master, e no adulto, muitas vezes as mães das minhas adversárias eram mais novas do que, então dizia – traga sua mãe para lutar comigo! “, diz, bem-humorada.
Além da rotina puxada de treinos, realizados todos os dias alternando entre o treino de competição e preparação física, tem auxiliado nas aulas infantis e para iniciantes, onde encontrou mais uma paixão no universo do jiu-jitsu: ensinar! “O treino feminino acontecia junto com o infantil, pois eram poucas meninas, então comecei a ajudar na aula e me descobri a medida que avancei nas faixas. (…) Aprendo muito, pois os detalhes fazem muita diferença que não percebemos quando treinamos apenas, mas quando ensinamos, as dúvidas dos alunos nos motivam a buscar mais, e isso possibilita um maior desenvolvimento. “
A rotina de Fernanda fora da academia também não é nada fácil: “acordo por volta das 6h para levar os filhos para a escola, volto para casa para ajeitar tudo e retorno para buscá-los já com as marmitas, indo direto para a academia para otimizar o tempo“. Já na academia, a primeira missão é realizar as tarefas escolares e em seguida encarar o primeiro treino (de competição). Na sequência, treino físico e a programação de aulas infantis e para iniciantes. A família retorna para casa por volta das 21h, e Fernanda assume mais um turno das tarefas de casa, para deixar tudo pronto para o dia seguinte.
Para se manter competindo, a família organiza rifas e comercializa produtos relacionados ao jiu-jitsu “tínhamos uma fábrica de skate, que tivemos que fechar após uma crise financeira. Atualmente meu marido criou uma marca de produtos para jiu-jitsu, a Stamina Kimonos“.
Já com relação ao panorama atual do jiu-jitsu e também a presença das mulheres no tatame, relata que a união feminina é forte e a visibilidade tem aumentado, mas ressalta “Mesmo ainda com diferença financeira em relação a categoria masculina, depende muito de nossa postura. Precisamos nos posicionar e não aceitar essa diferença. O jiu-jitsu ainda é muito masculinizado, mas tenho certeza que já melhorou muito, baseado no histórico e depoimentos de mulheres que já estão a mais tempo no esporte. A mulherada está disposta a mostrar a que veio!”
Atualmente, com as academias fechadas em função da pandemia de COVID-19, a família tem se adaptado e procurado soluções criativas para enfrentar o confinamento: “todos temos problemas respiratórios, então saímos o mínimo possível. Moramos em uma chácara e isso torna a rotina mais agradável, pois temos a possibilidade de sair para o quintal, aproveitar um pouco da natureza. Inclusive temos um tatame e uma rampa de skate em casa, então temos opções para quebrar a rotina, mas ainda sim em alguns momentos damos uma surtadinha (risos)”. O papo da família, na maior parte do tempo, gira em torno da arte suave “respiramos jiu-jitsu em casa, e tudo vira um ‘soltinho’. Discutimos sobre regras, posições e, mesmo quando cada um está no seu canto, sempre estamos vendo vídeos nas redes sociais”.
Fernanda faz questão de agradecer às pessoas que a ajudam a se manter treinando e competindo, lutando pela realização dos seus sonhos e reafirma a importância da prática do jiu-jitsu no seu momento de vida “ao meu marido e filhos, Sr Antonio (dono da academia), os Mestres Fima, Leko, Tales e Kuntze e ao Juninho Crivelari, que mesmo vivendo na Califórnia sempre me manda incentivo pra não desistir.
Ela deixa também uma mensagem positiva e de motivação para todos nós:
A maioria das mulheres tem crises existenciais chegando aos 40 anos e eu digo que aos 40 me encontrei e tenho certeza que todas podemos nos encontrar, seja no jiu-jitsu ou em qualquer outro esporte. Não desistam dos sonhos e lutem todos os dias. Ainda vou escutar meu nome como CAMPEÃ MUNDIAL, pois um dia vou conseguir lutar esse tão almejado campeonato.