Você faz laboratório para criar seu próprio jiu-jitsu?
Ano novo, posições novas, jiu-jitsu novo. Sim, com certeza? Ou não, não é bem assim?
Bom, antes, vou contar um pequeno caso.
O tatame me deu um companheiro de treino que a gente apelida de Jackie Chan. Jackie é, no mínimo, engraçado. Vem magrelinho, todo simpático, aparentemente inofensivo. E assim como o ator, dispensa dublê: você cumprimenta e, de repente, ele vem com uns movimentos muito doidos, não dá para prever o que ele vai tirar da cartola.
Tá certo que várias vezes ele mesmo se embola. Mas uma vez ele me pegou em uma finalização super estranha que nem sei classificar bem como foi.
“Mas, Jackie, da onde você tirou isso?”
“Eu vi uns vídeos, aí tentei fazer igual, mas não deu muito certo (risos). E aí, resolvi inventar, testar e deu nisso.”
Tá certo, então!
Jackie, sem perceber, faz algo que todo jiujiteiro deveria incluir na rotina: laboratório. Pegar uma posição, misturar com outra, acrescentar um detalhe, vê se dá liga. Observar, experimentar, testar hipóteses, criar.
Rolo, logo crio
Se olharmos a história da arte suave, ela evoluiu e continua evoluindo justamente porque sempre foi algo vivo, veio se transformando e abrindo inúmeras possibilidades. Foi inclusive esse potencial criativo que me fisgou quando vesti o kimono pela primeira vez.
Um exemplo: uma das minhas guardas favoritas não nasceu com o jiu-jitsu. Surgiu na minha infância, na década de 80, quando o hoje mestre de la Riva criou seu estilo próprio para afastar o adversário e abrir mais chances de raspagem. Assim também os berimbolos dos Miyao e por aí vai. Oportunidade de laboratório e descobrir coisa nova é o que não falta: justamente porque o BJJ não é aquela caixinha fechada. Pelo contrário, ele nos convida a sair da nossa caixa.
Tá, mas como faz?
Laboratório nada mais é que um estudo: testar na prática algumas hipóteses em torno de alguma posição que você queira desenvolver, de preferência alguma que você conheça bem, que já está incorporada. Porque aí você conhece a mecânica e os detalhes e pode buscar maneiras diferentes de executá-la ou desdobrá-la.
Mas o laboratório também pode nascer da necessidade e não da posição. Um exemplo: quantas vezes a gente ouve para não dar as costas? Tem gente, como eu, que prefere dar as costas e se virar a partir dali. Beleza, e partindo desta situação, o que dá pra fazer? Converse com o mestre e os colegas, vídeos, misture, teste: quem sabe não sai algo novo que surpreenderá no próximo campeonato?
E para fazer seus experimentos, fique de olho nos detalhes dos colegas, combine com alguém para esticar mais uns dez minutos do treino para testar suas hipóteses, discutir possibilidades. Não tenha medo de arriscar e criar porque não está escrito na pedra que só tem um jeito de fazer. Aí um cria, o outro cria em cima. São essas cocriações que enriquecem ainda mais a experiência. Não apenas esta que você está fazendo, mas a sua própria jornada na arte suave.