Yvone Duarte é reconhecida como a primeira mulher a receber a faixa preta de jiu-jitsu. Ela recebeu essa faixa com méritos, muito suor e perseverança. A graduação foi concedida pelo Mestre Osvaldo Alves em 1990 e reconhecida pela Confederação (CBJJ) em 1991. Apesar do feito notável, a professora não parou por aí. Conversei com ela e hoje iremos conhecer um pouco do pensamento, filosofia, projetos e ideias desta pioneira.
Yvone fez parte da primeira equipe feminina no Rio de Janeiro na década de 80. Ainda na faixa azul, lutou bastante para que as mulheres estivessem presentes nos campeonatos. Ideia que de fato se concretizou em 1985. Ela nos conta que o Mestre Rickson Gracie conversou com seu pai Hélio para que o torneio acontecesse, uma vez que não era o costume mulheres lutarem. Rickson fez isto a seu pedido e a pedido de suas companheiras de treino.
Na época seu objetivo era lutar para testar a sua técnica e não pensava em “estar construindo a história”. A professora era uma das menores e menos fortes dentre as meninas, mas esta era a ideia do jiu-jitsu. Conceito este que ela incorporou em sua vida. A técnica e postura são importantes tanto no jiu-jitsu treinado como aplicado na vida no dia a dia.
O primeiro torneio foi em Ipanema e contou com apoios importantes entre mídia e patrocínios. E foi destacado que não era ainda um campeonato, mas sim um torneio, dadas as proporções do evento ainda pequeno. As oito participantes de sua equipe de treinos venceram todas as lutas! Um aproveitamento de 100%. E todas na faixa azul.
Jiu-jitsu feminino
Da turma inicial, que contava entre 12-15 meninas, Yvone se destacou e perseverou. E, desta forma, conquistou a honra da faixa preta. Nomes como Marina Alcântara, Laila Zalfa, Lúcia Moraes, Ana Maria Dávila, Jeane Xaud e Fernanda Bulhões foram citados por ela como precursoras do jiu-jitsu feminino. Infelizmente, muitas mulheres desistiram no caminho por diferentes motivos. Os treinos eram quase sempre mistos e apenas uma vez por semana eram só com meninas. Um time que era, segundo o relato, muito dedicado.
Um relato muito interessante foi de que em sua academia não havia preconceito de gênero. Homens e mulheres eram igualmente tratados e se respeitavam. Havia, contudo, uma clara hierarquia de faixas. Ao contrário do que costumo ouvir como testemunho, em sua academia havia um incentivo de seus colegas para que as mulheres perseverassem. Muitas vezes a falta de incentivo vinha de namorados e maridos que, por desconhecimento, não entendiam que a arte suave não é um tipo de “agarra-agarra” no chão.
A essência do jiu-jitsu
Defensora de uma escola ofensiva, a faixa preta (hoje com seis graus), nos relata que em suas lutas a finalização sempre foi o objetivo. Com raras exceções, seus confrontos em campeonatos sempre foram vencidos desta forma.. Não eram os pontos que importavam. Era a finalização.
Hoje, a professora continua incentivando que esta seja a essência da estratégia de uma luta, ou seja, a busca da finalização. Ela nos lembra que na época dos primeiros torneios, a marcação dos pontos não era eletrônica como hoje e, assim sendo, não foram raras as histórias de lutas que teriam resultados diferentes do que na época tiveram. Alguém já se sentiu prejudicado em torneios nos dias de hoje? Pensem então como deveria ser viver esta questão naquela época.
Professora de defesa pessoal, Yvone já ministrou aulas em diversos lugares no mundo. Continua ensinando a sua técnica e compartilhando de sua experiência. Atualmente está a frente de muitos projetos sociais e vou contar sobre alguns deles na próxima parte dessa série.
Até lá, que tenhamos bons treinos!
Oss!
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Yvone Duarte: pioneira na faixa preta – parte I