O que Monique Elias e Claudia do Val nos ensinaram na final do Mundial 2018

A final do peso meio-pesado feminino deste mundial foi entre Monique Elias, da Alliance, e Claudia do Val, da De La Riva. Duas atletas muito duras e com enorme destaque no cenário mundial do jiu-jitsu. Adversárias dentro do tatame, mas não inimigas, tanto que protagonizaram uma cena que deveria ser comum no esporte.

Monique vencia a luta por pontos até que Claudinha encaixou seu famoso triângulo. Mas a finalização não foi de imediato, Claudinha ia se ajeitando, tentou ir no braço de diversas maneiras e a Monique ia tentando defender. Então sobrou uma mão de vaca que pegou com o triângulo encaixado mesmo. A Monique não conseguiu bater direito, foi tudo muito rápido. Mas, mesmo sem o árbitro ver, ou seja, ele ainda não tinha parado a luta, mesmo assim a Claudinha soltou tudo. O árbitro olhou para Monique, que fez positivo com a cabeça falando “bati, bati”.

Um companheiro meu de equipe já passou por uma situação parecida, seu adversário bateu e ele soltou a posição. Só que o árbitro não viu e a luta continuou. Ou seja, o cara não admitiu que bateu, foi desonesto. Então, ele voltou com tudo e pegou o cara de novo. Dessa vez só soltou quando o árbitro parou o combate.

No futebol, por exemplo, vemos isso com frequência. Jogadores se jogando sem ter recebido contato para cavar pênalti, ou caindo exageradamente na hora da falta para cavar um cartão para o adversário. Ou, ainda, sabendo que não foi pênalti, insistem em enganar o árbitro mesmo assim. Claro, não é só no futebol, isso acontece de diversas formas em vários esportes, inclusive no jiu-jitsu.

Mas esporte não é só sobre disputar um campeonato e ganhar medalhas ou troféus. Esporte forma caráter, dá oportunidades a crianças e adolescentes que não têm chance na nossa sociedade desigual, serve de exemplo para as pessoas. O esporte envolve paixões. Aqui no Brasil e, com certeza, em muitos lugares, os atletas vão além do seu limite para treinar, se dedicam mesmo sem as condições ideais de treino.

O esporte é isso tudo. Precisamos pensar principalmente na questão da formação de caráter antes de ter uma atitude desrespeitosa. Muitas crianças se inspiram nos atletas que elas acompanham. Como é para elas ver seu ídolo tomando uma posição sem ética nenhuma dentro do tatame? Provavelmente, essa criança não vai deixar de gostar da pessoa de imediato por causa disso, é aquele exemplo que ela vai ter. É preciso muitos outros exemplos bons e muitos ensinamentos para ensiná-la as atitudes corretas que um atleta deve ter. Porque lá no futuro, essa criança que estará lá no campo, na quadra e no tatame.

Se continuarmos ensinando que é bonito cavar pênalti, que é maneiro bater sem o árbitro ver e fingir que não bateu, que é normal brigar e xingar seu adversário, que tipo de geração teremos lá na frente? Isso acaba se tornando um ciclo. Os jovens atletas de hoje que recebem maus exemplos, vão ter más atitudes em sua carreira, vão inspirar outras crianças, e por aí vai.

A partir do momento que você escolhe ter uma carreira como atleta profissional, você vira um exemplo, e muitas vezes faz parte da formação de futuros atletas. Então, não é nada maneiro ser falastrão, desrespeitar seus adversários, brigar, não ter ética.

Deveria ser algo normal a situação protagonizada pela Monique e pela Claudinha. Além da Claudia ter soltado e a Monique ter sido honesta para o árbitro, no fim da luta elas ficaram se abraçando durante um tempo. Com certeza, agradecendo uma a outra pela ótima luta que fizeram. É disso que a gente precisa.

Nós, mulheres, estamos sempre reclamando que não temos meninas o suficiente nos campeonatos. Muitas se inscrevem e ficam sozinhas em suas categorias. O jiu-jitsu ainda é um esporte dito masculino, muitas meninas têm receio de começar. Imagina se a gente for lutar e tratar nossa adversária como inimiga? Isso, definitivamente, não ajuda no crescimento do esporte. Pelo contrário!

Parabéns à Monique e Claudinha, primeiro por serem baita atletas, e também pela cena linda que a gente viu na final do Mundial. Que a ética seja o normal e não o diferente ou algo que chame atenção. Que o respeito vire rotina e que a gente saiba reconhecer quem está do outro lado, pois a luta dela é a mesma que a nossa.


Aqui o vídeo do finalzinho da luta.

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