Dia Internacional da Mulher. Hoje recebemos mensagens de parabéns, flores, presentes, imagens bonitas no Whatsapp e Facebook e até “brincadeiras” (que na verdade são machismo revestido de piada, convenhamos…). Não me leve a mal, todo gesto de carinho é bem-vindo. Porém, de nada adianta propagar essas mensagens no dia de hoje e nos outros 364 do ano fazer piada, destratar sua colega de treino, defender seu amigo que já assediou uma mulher.
A Mayara Munhos escreveu uma série sobre assédio nos tatames que me marcou muito. Marcou porque muita gente acha que isso é bobeira, o famoso “mimimi”. Mas ela colheu depoimento de várias mulheres que sofreram ou sofrem isso no jiu-jitsu. Imagina como deve ser um caso de assédio do mestre com uma aluna? Um cara que deveria ser o maior exemplo dentro daquele dojô, ensinar valores e princípios.
Falo isso, pois apesar de o jiu-jitsu ter crescido muito para nós (e por nós), mulheres, ainda há muito o que se fazer. Apresentei, em dezembro de 2017, meu Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo e falei sobre a imagem da mulher na mídia esportiva. Fazendo a pesquisa, me impressionei tamanha desigualdade foi (e ainda é) o caminho de homens e mulheres no esporte. O esporte feminino não era bem visto, elas demoraram a serem aceitas oficialmente nas Olimpíadas, até hoje a premiação é muito diferente em várias modalidades. Graças à luta de muitas mulheres durante todos esses anos, conquistamos muitos avanços.
No jiu-jitsu, podemos ver um panorama parecido. Até hoje as artes marciais são vistas como esportes masculinos. As pioneiras do esporte, como Yvone Duarte, Leticia Ribeiro, Hannette Staack, tiveram que comer muito tatame para chegar onde estão hoje. Além disso, com certeza estão entre as principais incentivadoras das novas gerações, que fazem bonito nos campeonatos por esse mundão afora.
Meu principal ponto com este texto é desmistificar o fato de que mulheres são fracas, reclamam de coisas desnecessárias. Que me perdoem os homens que apoiam a nossa causa, mas mesmo assim, nenhum homem é capaz de entender o que passa uma mulher (assim como não entendemos algumas coisas que só os homens passam). Mesmo assim, ainda temos que engolir palpites e normas sobre nosso comportamento, roupa, jeito de ser, de falar, de se vestir. Se a roupa é muito curta é inapropriado, se é muito longa é puritana. Sim, vivemos em uma cultura machista e só nós podemos dizer porque sentimos na pele.
Infelizmente, o jiu-jitsu ainda não se safou dessa. Ainda precisamos ouvir muitos comentários, que às vezes nem são feitos por maldade, mas que fazem parte de uma cultura machista. E, como na série da May sobre assédio, ainda passamos por situações como essa. Eu já ouvi no tatame para não “treinar que nem mulherzinha”. E digo que sim, vou treinar como mulher porque tenho muito orgulho de ser uma. Não preciso me inspirar no modo como os homens fazem as coisas porque nós, mulheres, somos incríveis! E cada um, homens e mulheres, tem sua própria maneira, não é preciso que exista uma competição. Não é isso que o feminismo defende, mas sim a igualdade de oportunidades e condições.
Portanto, neste 8 de março, que a gente continue lutando dentro e fora dos tatames. Que cada vez mais pessoas se juntem a nossa luta, não só em prol das mulheres, mas em prol de uma sociedade mais justa, igualitária e melhor para todos. Que o jiu-jitsu seja cada vez mais o nosso espaço e nosso esporte, que muitas mulheres ainda sejam protagonistas de diversas histórias de sucesso na arte suave. E o mais importante: que façamos isso JUNTAS.
Feliz Dia das Mulheres para todas nós! Continuem lutando como mulheres pois vocês estão no caminho certo! Ossss
#fightlikeagirl