O Atleta da Semana de hoje traz uma entrevista com Milena Castelani, faixa azul da equipe GF Team do Rio de Janeiro. Milena é de Curitiba e foi parar no Rio por um motivo completamente diferente do jiu-jitsu, mas conheceu a arte suave, se apaixonou e o foco virou outro: se profissionalizar no esporte.
A atual faixa azul chegou no Rio de Janeiro com 14 anos para trabalhar como atriz e modelo. Como estava difícil se manter depois de um tempo, ela precisou procurar outros empregos, até conseguir o cargo de consultora de vendas em uma academia. Como trabalhava vendendo os planos da academia, ela experimentava um pouco de cada atividade, fazia de tudo um pouco. Um dia foi fazer as primeiras aulas no jiu-jitsu, mas de lá não saiu mais. “Vim [para o Rio] com outro objetivo, mas agora meu foco é completamente outro, é o jiu-jitsu. Parece que estava escrito, era para isso que eu tinha que vir”, ela conta.
Com cinco meses de treino, competiu pela primeira vez e foi campeã, o que motivou ainda mais a continuar treinando. “E foi um atrás do outro, não parei mais de competir, de treinar e foi cada vez ficando mais sério”. Ela conta que depois que pegou a faixa azul, decidiu que era isso o que queria para sua vida, ser profissional e viver do jiu-jitsu.
Como ela mesma diz, está correndo atrás desse sonho e, para isso, treina todos os dias na sua academia, a GF Team Merck, do professor Serginho Miranda e três dias na semana, faz também treinos de competição na matriz GF Team Méier, com o professor Julio Cezar na parte da tarde. Além disso, faz preparação física duas vezes por semana e costuma treinar aos sábados também, quando não tem competição, descansando no domingo, geralmente. Milena também pretende se dedicar à musculação, por indicação de sua nutricionista (patrocínio que fechou recentemente), para conseguir ganhar massa e se fortalecer na categoria.
Desde que se envolveu com o jiu-jitsu, ela conta que muita coisa mudou. Em primeiro lugar a saúde. “Apesar de ser magrinha, tinha um histórico de colesterol alto, por genética mesmo. A questão da saúde melhorou muito, meu colesterol era absurdo e eu tomava remédio”, mas depois de começar a treinar foi melhorando e hoje não tem mais esse problema. Até seu percentual de gordura diminuiu bastante, a frequência com que ela ficava doente também, sua imunidade melhorou, teve que melhorar a alimentação para render mais nos treinos, tudo isso fez com que sua saúde e seu corpo ficassem mais fortes no geral.
Além da saúde, o jiu-jitsu trouxe muitos benefícios em relação ao convívio social. Ela conta que antes era muito mais reservada, fechada, mas com a arte suave conheceu muita gente bacana e parceira. Até para viajar para as competições, um ajuda o outro com a hospedagem, estadia, dividem as despesas. “Essas coisas que o jiu-jitsu me trouxe, foram amizades que vou levar para a vida inteira. Isso mudou muito a minha vida, além da saúde, o convívio social. Eu sou outra pessoa em relação aos outros, eu enxergo muito além agora”.
Quanto às dificuldades no esporte, Milena ressalta algo que muitas outras atletas também falam: apoios e patrocínios. Ela faz bolo para vender, rifa, pede ajuda nas redes sociais, tudo para conseguir pagar as inscrições nos campeonatos e manter o padrão exigido dos kimonos nas competições. “É difícil porque tenho que estar com kimono bom, ter a alimentação ok, suplementação, transporte, pagar academia, quando vai viajar para lutar, tem que pagar passagem, estadia, fora a inscrição que está muito cara. Então acho que é a dificuldade que todos têm”. Além de tudo, ela mora sozinha no Rio, sem a família, então se vira “nos 30” para continuar investindo no seu sonho.
Ela faz questão de chamar atenção para a questão dos investimentos nos atletas e fala que o esporte cresceria muito se mais empresários investissem nos atletas. “Conheço gente muito boa que não consegue competir por falta mesmo de uma ajuda”. Apesar de todas as dificuldades, Milena diz que a paixão pelo jiu-jitsu que a faz seguir em frente.
A atleta treina em uma equipe cheia de inspirações. Ela conta que muitos dos seus ídolos no esporte são da GF Team, como a Mayssa Bastos, Ana Carolina “Baby”, Amanda Monteiro, e também as suas companheiras de treino no dia a dia. Ela também admira muito a Monique Elias e a Mackenzie. Dos homens, ela gosta do Jaime Canuto, irmaõs Mendes, Lucas Lepri. Mas suas maiores inspirações são as mulheres que têm crescido no jiu-jitsu e estão dando um show.
Para 2018, Milena pretende continuar lutando os Opens que conseguir, perto da região de Curitiba e pelo Sudeste. Mas ela está tentando fechar algumas parcerias, pois seu foco principal é conseguir lutar o Europeu e o Mundial. Ela tem alguns títulos importantes, como o vice-campeonato no Brasileiro de 2016, além de ser tri-campeã estadual da Federação do Rio de Janeiro, terceiro lugar no Curitiba Winter Open 2017, vice-campeã do Rio Winter Open 2017 e campeã de outros campeonatos regionais.
Milena ressalta o quanto o ambiente do jiu-jitsu é maravilhoso e como sua vida mudou depois disso. Que mesmo vendo o jiu-jitsu como um trabalho, ela se diverte porque é o que ama fazer. Além de tudo, temos a oportunidade de aprender sempre, mesmo nas dificuldades ou nas derrotas.
Acho que é essa a mensagem que eu queria deixar: não desistir. As dificuldades sempre serão muitas, mas a vez de quem não desiste sempre chega.
Agradecemos pela entrevista e desejamos um caminho vitorioso para você, Milena. Assim como para todas as outras meninas que correm atrás desse sonho de ser atleta. Graças a pessoas como vocês, o jiu-jitsu feminino vai cada vez mais longe. Oss!
*Produção de Mariela Barroco e Carolina Lopes