Escrever sobre o homossexualidade nas academias de jiu-jitsu brasileiro continua sendo, de certa forma, um tabu. Entretanto, o tema continua atual e de grande relevância, em especial em locais de preconceitos e discriminação.
Infelizmente, o nosso país ainda é um lugar repleto de preconceitos. Estes preconceitos permeiam as mais diferentes áreas tais como sexualidade, gênero, cor de pele, classe social e etc. Nesta coluna vou abordar um pouco sobre a homossexualidade e a inserção destas pessoas dentro das academias de jiu-jitsu.
Um caso muito famoso no meio das artes marciais foi do lutador do UFC Dakota Cochrane que já havia atuado como ator pornô em filmes homossexuais. Uma vez descoberto o antigo trabalho do lutador, observou-se uma enxurrada de comentários e debates em dezenas de websites. Este assunto foi, inclusive, tema de um estudo técnico publicado no Journal of Homosexuality em 2015. O caso foi, sem dúvidas, um divisor de águas uma vez que até então os limites da chamada homofobia não haviam sido testadas em um esporte predominantemente masculinizado.
Diferentes estudos têm mostrado que o discurso homossexual em confronto com o heterossexual não leva a nada além de conflitos, mas que o uso natural de ideias e conceitos, assim como o comportamento espontâneo e natural tem trazido efeitos melhores no combate da homofobia. Nem sempre o confronto é uma melhor estratégia, tal qual a vida ensina. Também é interessante se destacar, conforme uma pesquisa inglesa, que o grau de homofobia tem caído muito em países europeus e na América do Norte quando se trata de prática profissional de alguns esportes predominantemente masculinos como o futebol. Realidade esta que me parece não condizer com a situação brasileira, mas não encontrei nenhum estudo técnico ou caso de estudo sobre nosso país. Apenas esclareço que não há estudos técnicos, mas colunas em blogs e assemelhados tem muito material disponível.
Nas academias de jiu-jitsu em geral, tenho notado uma mudança bastante positiva quanto a questão. Uma vez que isto é uma percepção subjetiva ela está, naturalmente, passível de severas críticas e contestações. Muitas vezes vejo atletas comentando sobre o assunto e expressando desconfortos e receios que são compreensíveis, mas que podemos colaborar para esclarecer. Vejamos alguns exemplos:
- Questão: Não tenho preconceito contra homossexuais, mas não gostaria de receber uma cantada de nenhum deles ou nenhuma delas no tatame.
Resposta: Realmente o tatame não é o local mais adequado para cantadas. Entretanto, uma simples negativa deve ser suficiente para que não haja problemas. Assim como as mulheres sofrem muito assédio dos homens nos tatames e elas também não gostam. Mas este assunto já foi discutido em outras colunas e não é o foco da atual.
- Questão: A pessoa vai se aproveitar de mim durante o treino.
Resposta: A pessoa não vai. Treinar com uma pessoa homossexual é igual a treinar com uma pessoa de orientação sexual direta. Se você treina com pessoas heterossexuais sem problemas você também deve treinar com homoafetivos sem nenhuma ressalva.
- Questão: Meu cônjuge vai ficar inseguro(a).
Resposta: Em geral esta questão apenas disfarça um preconceito. Não há porque de haver insegurança. Tais inseguranças costumam ser o resultado de seu comportamento social global e não apenas na academia de arte suave.
- Questão: Não vou me sentir bem.
Resposta: Se eu escrevesse o que realmente penso sobre esta desculpa eu tenho certeza que a minha editora não publicaria esta coluna. Não passa de uma desculpa sem fundamento além de um preconceito sem razão de ser.
Neste contexto, temos que lutar pela inclusão social em nossas academias de atletas que não tem orientação sexual direta. O preconceito ainda é muito grande e a discriminação também. Não é simples ir contra um padrão social imposto, em especial em um país de religiosidade elevada como o Brasil. Mas, o debate civilizado e os esclarecimentos ainda são o melhor caminho para a mudança. Mudança que deve ter como resultado academias de arte suave mais inclusivas e mais humanas.
Eu já levei cantadas de pessoas do mesmo sexo (inclusive no jiu-jitsu) e, nem por isso, deixei de ser quem sou. Nem deixei de ser humano. E, pasmem, não mudei minha orientação sexual. Então eu posso garantir que a convivência com homossexuais nas academias deveria e deve ser natural. É como conviver com o sexo oposto. Quem nunca levou ou deu uma cantada em outra pessoa? Não há diferenças nesta convivência. É claro que existem casos extremos e estes nunca vivenciei. Mas tais casos são exceções e, se posicionar baseado neles, é um generalismo infundado. É como dizer que todo jiu-jiteiro é violento. Não faz sentido.
Portanto, devemos lutar para uma convivência saudável e natural com os homossexuais (e com todas as pessoas) em nossas academias. Devemos banir o preconceito e a discriminação. E fazer parte deste processo de transformação social e de inclusão humana, pois acima de tudo, somos apenas isso. Somos apenas humanos! Independente de orientação sexual.
Bons treinos! Oss!