Hoje o Atleta da Semana traz um papo com a Gladys Santos, faixa azul da Herman Gutierrez Sorocaba. Ela contou para a gente sobre seu início do jiu-jitsu, a rotina de treinos e seus objetivos no esporte.
Depois que começou a trabalhar em uma rede de academias, seu chefe ( que hoje é seu mestre) sempre a chamava para treinar. Outras três recepcionistas viraram atletas e eram o exemplo para ela. Mas o fato de só terem homens não foi muito convidativo no início. “Um tatame com 30, 40 homens de kimono me intimidava, então me limitei as aulas de muay-thai. Comecei a emagrecer (o que era meu foco) porém não me identificava”, ela conta. Então criou coragem para encarar o jiu-jitsu e se apaixonou. “Encaixei minha vida aos treinos diários. Já faz quase quatro anos desde a primeira aula e vários quilos a menos, obrigada jiu-jitsu!”
A faixa azul conta que as maiores mudanças que o jiu-jitsu trouxe para sua vida foram a postura e a diferença no corpo. Mas o esporte também mudou muito sua visão de mundo. Ela conta que já tinha todo um plano de vida quando começou a treinar, aos 18 anos. Continuar trabalhando, passar em uma universidade federal de Direito e viver a vida que idealizava. Mas foi tudo diferente e hoje ela cursa administração em uma faculdade particular. Para Gladys foi difícil ver que sua família se orgulhava dela independente de tudo e o jiu-jitsu ajudou muito com autoconfiança e o amadurecimento, assim como a ensinou muito sobre ego.
“Minha vida pessoal, profissional e como atleta precisam de sincronicidade e isso envolve muito empenho, paciência e discernimento. Quando penso em jiu-jitsu vejo mais que o tatame, percebo como ele é fundamental na minha evolução em todas as áreas.”
Sobre as maiores dificuldades do esporte, Gladys conta que a parte financeira é sempre um problema. Pois tem que bancar viagens, inscrições, transporte, alimentação. “Tenho muita sorte porque aparecem muitas pessoas boas na minha vida e isso me enche de confiança de que estou no caminho certo. De bolo em bolo, de rifa em rifa, de perrengue em perrengue ainda chegaremos lá. Toda vez que fico meio duvidosa sobre ”será que isso vale a pena?” lembro de todas as pessoas que me ajudam desde o início e sei que vale“, conta.
Em seu primeiro campeonato, ela foi finalizada em segundos em um triângulo e isso a fez treinar muito essa posição. “Hoje a sequência arm-lock, triângulo e omoplata é meu feijão com arroz”.
Sua rotina é bem agitada, dividida entre faculdade, CrossFit/musculação, jiu-jitsu, trabalho e inglês. “Sendo assim, meus horários são bem loucos e confesso que às vezes tento me obrigar a parar! Porém, disciplina é fazer o que tem que ser feito, então eu sempre dou um jeito. Em suma, treinos/trabalho/faculdade”.
Quando perguntamos sobre sua alimentação, ela foi sincera e disse que poderia ser melhor rs. Disse que teve fases em que bater o peso era muito difícil e fazia dietas malucas ou se matava de correr na esteira. Mas hoje tem mais discernimento e faz tudo de acordo com o que está aprendendo sobre seu corpo. “Algo que sempre tenho na bolsa é livros e bananas, então basicamente ela é meu ”pré-treino” e minha substituta quando esqueço as marmitas”.
Seus principais títulos são de campeonatos da CBJJ, como o recente título no Curitiba Open. É campeã sul-americana e pan-americana pela CBJJE, campeã paulista pela FPJJ, fora os campeonatos regionais.
Gladys lembra do trabalho de sua fisioterapeuta. Ela já teve uma lesão séria poucos dias antes do campeonato e foi Edmara quem a ajudou na recuperação. “A cada movimento quase perfeito na preparação física ou jogando por baixo eu sentia vontade de ligar agradecendo minha fisio, Edmara Santos! Patrocínio que me salvou”.
Alguns de seus ídolos no esporte são a Bia Basílio, Kyra Gracie, Michelle Nicolini, Luana Alzuguir e Ericka Almeida; Leandro Lo, Marcus Buchecha, Roger Gracie, André Galvão, irmãos Mendes. Mas ela conta que sua maior admiração é pelas pessoas próximas, “pessoas que não vivem de jiu-jitsu, trabalham oito horas por dia e ainda encaram um tatame para ser alvo!”. Como seu mestre e outros faixas pretas de sua equipe. “Sou muito tiete do pessoal que me dá treino, de um modo geral. Sei que tem um pouco de cada um deles em mim. Gratidão é repetitivo, porém é sincero”.
Ela conta que seu objetivo é colher o que está plantando. “Não vivo de jiu e não tenho essa perspectiva, sou um projeto de administradora que ama treinar e competir”, ela diz. Mas quer se realizar dentro do possível e conta que sonha em disputar Mundial e Europeu.
Continue trabalhando! Não tem milagre ou receita magica, é puro trabalho. Se você ama o que faz, dará um jeito. Pessoalmente falando, aprenda a estar em paz com suas escolhas! Se tem uma coisa que me irrita é ver talento desperdiçado. Gente que eu olho e penso ”se eu tivesse esse talento”, mas respeito as histórias deles. Por isso que dedicação vence talento. Continue trabalhando. Mesmo que eu ainda chore muito e surte porque a barra pesa! Não me vejo parando. “Só mais hoje” repito isso diariamente.
Parabéns pela trajetória, Gladys. Continue tendo sucesso no jiu-jitsu e obrigada por contar um pouco de sua história para a gente! 😉