Sobre motivos que nos afastam dos tatames e como não desistir

Para começar e continuar firme em qualquer esporte, é preciso muita força de vontade e coragem. Porém, isso não é tudo que define nosso destino em alguma modalidade, principalmente no caso daquelas pessoas que não são profissionais. Para quem não tem patrocínio, apoio, acompanhamento especializado para cuidar de lesões e da alimentação, é um pouco mais complicado seguir insistindo e acreditando que vai dar tudo certo.

Veja bem, não quero dizer que essas pessoas têm motivos para desistir, só que a jornada pode ser, em alguns casos, mais difíceis. E é lógico que atletas profissionais também passam por muitas dificuldades, como a diferença no nível de cobrança e exigência, o overtraining e a expectativa que todos depositam em seu desempenho.

Mas quero falar de modo geral, sem especificar atletas profissionais ou não, de alguns motivos que podem nos afastar dos tatames. Você pode estar pensando “ah, mas é tudo ‘mimimi’, as pessoas desistem muito fácil”. Mas lembre que o limite da exaustão é diferente para cada pessoa. O jiu-jitsu tem sim um alto índice de desistências, principalmente na faixa azul, e muita gente abandona. Mas outras pessoas passam realmente por verdadeiros ‘perrengues’ que dificultam sua frequência nos treinos.

A primeira coisa que vem na cabeça e que acontece com muita gente são as lesões. O jiu-jitsu é um esporte de muito contato e algumas lesões são comuns. Às vezes pode ser algo não tão sério, como uma fratura ou um rompimento. Mas são lesões chatas que, se não cuidadas, não vão melhorar tão cedo, como uma pancada no dedo (o esparadrapo será seu eterno companheiro). Tem gente que não costuma se machucar, mas sempre tem alguém que dá o azar de ter uma lesão atrás da outra. E então você vai nos treinos só para fazer o aquecimento e assistir, fica sem rolar. É bom para não se distanciar do ambiente, mas desanima ser a(o) única(o) sem treinar. Fora quando a lesão é mais séria, te exigindo repouso absoluto.

Outra dificuldade para muita gente é que o jiu-jitsu é um esporte caro, assim como muitos outros. Pagar academia, dinheiro para passagem/gasolina (a não ser que dê para ir a pé), comprar kimono, ter dinheiro para competir e todas as possíveis despesas que nos acompanham. Por isso existem tantos projetos sociais por aí afora, pois MUITA gente não tem como custear os treinos.

Como falei no início, poucos são os atletas profissionais se analisarmos a quantidade de pessoas treinando. Muitas pessoas trabalham e/ou estudam e têm toda uma rotina fora do esporte. Pode ser difícil conciliar tudo isso, principalmente quando te exigem demais no trabalho ou você está se formando, enfim… Imagine alguém que trabalha até o fim da tarde e depois vai para a faculdade. Que tempo sobraria para treinar?

Algo que também acontece no jiu-jitsu é a troca de equipe. Às vezes a pessoa precisa mudar de bairro ou cidade e para não largar os treinos, vai para outra academia. A adaptação em outra rotina de treinos pode ser mais complicada para alguns. Não ter mais os professores e amigos aos quais você já estava acostumado, estar em um ambiente que, a princípio, você não sente como sua segunda casa, tudo isso pode ser um obstáculo. Por isso, tente se abrir fazer novos amigos para este processo ser mais agradável.

De que adianta insistir nos treinos se não há empatia entre alunos e professores? Para se sentir bem, o(a) aluno(a) precisa de um ambiente acolhedor, do qual se sinta parte. Pode acontecer de alguns professores não conseguirem tratar todos de forma igual, ou não saber lidar com cada tipo de aluno e impor um ritmo que nem todos vão conseguir seguir. Portanto, a relação aluno-professor é algo importantíssimo e pode influenciar na sua vontade de treinar ou não.

Falando em ambiente acolhedor, uma situação que com certeza pode afastar as pessoas do treino são aquelas constrangedoras como um caso de assédio ou comentários desagradáveis. O assédio é mais comum com mulheres, como a May Munhos mostrou nesta série para a EspnW. Também há aqueles comentários do tipo “luta que nem homem” ou “deixa de ser mulherzinha” e ouvir isso incomoda demais. Os homens também podem sofrer com isso, com certos tipos de comentários ou “brincadeiras” desagradáveis por parte dos outros caras.

Então você deve estar pensando “ah, mas que besteira, quem não aguenta uma brincadeirinha?”. Só que nada disso é brincadeira. Se não acontece com você, como você pode saber se está fazendo mal ou não ao outro?

Para seguir adiante, é muito importante que você bote na sua cabeça uma palavra: individualidade. Não se ache fraca(o) porque seu colega faz três treinos em um dia e você faz um. Não se diminua porque em um dia você não aguentou fazer o treino todo e passou mal. Às vezes, a pressão pelo ‘sucesso’ pode ser muito grande, mas nem todo mundo tem condições (ou quer) passar pela mesma pressão. Entenda até onde você quer e pode chegar e se esforce ao máximo para alcançar as suas metas, dentro das suas possibilidades. E conforme for seu sucesso, alcance voos maiores.

Sim, sua jornada vai ser difícil. A caminhada até a faixa preta é longa e chegar a ela não quer dizer que você chegou ao fim. Muito pelo contrário, é o início de uma nova experiência. Portanto, apesar das dificuldades, mantenha-se firme. Não tenha medo de assumir caso tenha algum problema. Encontre alguém de confiança com quem possa desabafar e te ajudar a resolver as questões complicadas. Reconhecer suas dificuldades não é sinônimo de fraqueza. Pelo contrário, só vai te fazer mais forte. Pois esse reconhecimento é o primeiro passo para entender o que está de atrapalhando de seguir em frente.

Quero frisar que esse texto não é uma desculpa ou uma justificativa para desistências. E sim uma forma de lembrar que todos passamos por dificuldades e cada um sabe da sua, cada um sabe do seu limite. É muito mais fácil apontar erros do que buscar caminhos para ajudar as pessoas. Mas o resultado será muito melhor se todos se apoiarem. Então, alguns motivos foram listados aqui para que vocês possam se identificar, compartilhar suas histórias e se ajudarem a não desistir. E lembrem-se: estamos juntos nessa, pois é muito mais fácil contar com quem está nessa mesma caminhada e vai poder te entender! 😉

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