Acompanhamos diversos campeonatos de jiu-jitsu durante o ano. Alguns deles até começando a ter maior visibilidade dos canais de mídia e sendo comentados pela mídia especializada, como de costume. Porém, pare para pensar, você vê uma cobertura igual de todas as categorias? A não ser quando acontece o Internacional de Master (há pouco tempo no Rio) ou o Mundial de Master, é difícil encontrarmos uma cobertura boa e completa dessa categoria, como é com o adulto. Mas, mesmo assim, as categorias master estão cada vez mais fortes e não ficam atrás do adulto, portanto também merecem destaque.
No jiu-jitsu, a partir dos 30 anos você já tem idade para competir no master. Nada te impede de continuar lutando no adulto. Mas os anos vão passando e muita coisa muda. Nossa arte, apesar de suave, é um esporte muito intenso e que exige muito fisicamente. Conforme o tempo passa, o corpo responde de maneiras diferentes. No master há um aumento de lesões e a recuperação não é a mesma de quando a pessoa tinha lá os seus 20 e poucos anos.
Porém, é no master que estão atletas mais experientes, pois muitas vezes são pessoas que já tem um certo tempo de jiu-jitsu e tiveram mais experiências no esporte e na vida. O estudo de pegadas no início do combate e o modo como se conduz a luta vai ser com mais calma, atenção e paciência. Além disso, o jiu-jitsu costuma ser mais simples, o feijão com arroz que é muito eficiente. Não quer dizer que toda luta de master é assim ou que não terá uma guarda 50/50, por exemplo, mas a forma de lutar e enxergar o combate acaba sendo um pouco diferente, no geral.
Por que, então, os masters não têm a mesma atenção da mídia? Alguns podem considerar a categoria mais fraca ou mais fácil que o adulto, mas um texto do BJJForum lembra de um aspecto interessante. Um atleta master que acabou de pegar a faixa preta pode ter no caminho alguém que já tem muitos anos nessa faixa. Mas não necessariamente será alguém com menos disposição, pois vários atletas já são master, têm muita experiência no jiu-jitsu e continuam competindo em alto nível. Então podemos sim encontrar lutas excelentes.
Um caso recente foi o combate entre Roger Gracie (35 anos, master) e Marcus Buchecha (27 anos, ainda no adulto). Muita gente achava que seria uma luta muito dura pela experiência do Roger x vigor físico do Buchecha. O que vimos foi um domínio total do Roger, anulando o jogo do Buchecha e vencendo de forma eficiente e elegante.
Géssica Fong é faixa roxa da Checkmat e treina há sete anos. No ano passado, ela subiu para o master e notou que a categoria feminina ainda é mais desvalorizada que a masculina no master. Alguns campeonatos pagam melhor para os homens, apesar de não ser como no adulto. “Já o feminino em si, não é, ainda, tão bem visto assim. Talvez pelo número ser menor, e na master o número de atletas cai mais ainda!”.
Já a atleta Danny Arouca, também faixa roxa, acha que o master vem evoluindo muito, com campeonatos exclusivos da categoria (como o Internacional e o Mundial de Master) e o nível cada vez aumentando mais. “O nível está cada vez mais alto, a ideia de que o master é inferior ou mais fácil está ultrapassada e cada vez menos ouço falar isso”, ela ressalta.
As duas concordam que a recuperação e as respostas do corpo não são as mesmas no master, mas não quer dizer que tenham menor nível por isso. Danny ainda completa que hoje se tem muitos recursos como a medicina esportiva, que ajuda na melhora do desempenho e performance e aliada a uma nutrição personalizada pode render resultados muito bons.
Quanto a lutar no adulto, Géssica contou que costuma ir nessa categoria nos estaduais e campeonatos menores e lutou os principais no master. Danny disse que gosta de lutar no adulto para se preparar para as competições grandes, por ser uma categoria com mais tempo de luta e, algumas vezes, mais adversárias. Ela também revelou que, além do Mundial de Master, vai se preparar para o próximo Mundial da IBJJF.
As duas atletas também falaram de alguns prós e contras de lutar no adulto ou no master. Danny disse que a recuperação física influencia, mas que isso pode ser melhorado com acompanhamento médico, nutricional e preparação física. “Mas por outro lado, a maturidade dá muita diferença. Enxergamos as lutas e os adversários de forma diferente”, ressalta. Géssica disse que é bom lutar no adulto porque a visibilidade é maior e ela pode se testar. E o que atrapalha, assim como Danny lembrou, é a recuperação mais lenta do que alguém mais novo. Mesmo assim, ela acha bom lutar nos dois.
O jiu-jitsu avança cada vez mais e o master vem acompanhando essa evolução. Vale a pena acompanhar também essa categoria, além do adulto, para estar em constante aprendizado e tirar lições que talvez não tiramos vendo só as lutas dos mais novos e menos experientes.