A UAEJJF (Federação de Jiu-Jitsu de Abu Dhabi) vem conquistando atletas pela organização e premiação, apesar de algumas diferenças em relação às outras, como a junção das faixas marrons e pretas no feminino (que acabou em 2012 na Federação Internacional de Jiu-Jitsu – IBJJF) e a própria disparidade na premiação entre masculino e feminino (que vemos em campeonatos ao redor do mundo todo). O World Pro da UAEJJF já acabou, mas as novas regras da federação deram o que falar nos últimos dias. Na verdade, o assunto tem sido comentado há algum tempo e recentemente, as alterações que estavam previstas foram confirmadas no campeonato.
Desde o ano passado, Tayane Porfírio, por exemplo, já vinha falando sobre o tema e se questionando se conseguiria lutar o mundial ou não. A UAEJJF confirmou, então, que sua competição mais importante da temporada teria um limite de peso – 110kg para o masculino e 90kg para o feminino. Além disso, o World Pro só teve disputas nas categorias de peso, sem lutas no “peso aberto”, o famoso absoluto, justamente o ponto mais esperado na maioria dos campeonatos.
A Federação alegou que ambas as decisões foram para preservar a saúde dos atletas. No caso do limite de peso, teoricamente uma pessoa acima dele estaria com a saúde comprometida. Para o absoluto, a justificativa foi a integridade física dos atletas, que correriam um risco maior de se lesionar lutando com uma diferença de peso grande.
Com a realização do World Pro, que começou no último dia 18 de abril, a discussão aumentou mais ainda. Observando os grupos e páginas de jiu-jitsu, dá para perceber que o assunto é dividido e polêmico. Muitas pessoas concordam com a atitude e justificativa da UAEJJF, alegando que, para alguns atletas a redução de peso seria boa. Mas muita gente não engoliu as mudanças, dizendo que o peso, não necessariamente, vai justificar a saúde ruim, pois os atletas de alto nível têm acompanhamento frequente de profissionais e são preparados para as competições. Uma coisa que muitas pessoas parecem concordar e que seria uma “solução” para a situação é a divisão em dois absolutos, leve e pesado.
Não ter uma disputa de absoluto ainda nos traz outra reflexão: a essência do jiu-jitsu, desde o início, não é exatamente a prevalência da técnica sobre a força? O professor de jiu-jitsu e Advogado Desportista, Anderson de Carvalho ressalta: “a nossa arte é suave, se ficar só por categorias de peso, estaremos fabricando apenas máquinas de carne e osso, e não seres pensantes e inteligentes que necessitam da técnica para sobrepujar seu adversário com o perfeito xadrez de corpo que é o Jiu-jitsu”.
Não são todos os atletas de todas as categorias que disputam o título em pé de igualdade e, por isso, o absoluto acaba sendo mais significativo. Outra mudança ainda tornou as lutas das categorias diferentes. A Federação de Abu Dhabi determinou que só dois atletas por nacionalidade poderiam disputar as chaves principais, o que criou uma “peneira”, quase que um campeonato à parte e muito concorrido, pois tinha muitas(os) favoritas(os) lutando por uma só vaga (a outra era garantida para o primeiro do ranking).
Outro ponto que Anderson lembra é a relação do direito com o esporte. Todos têm o direito constitucional à prática desportiva e seus reflexos, porém, ao se limitar o peso em uma competição, algumas pessoas não se adaptariam e ficariam de fora, “e nesse caminho muitos ficarão para trás, no aspecto de justiça, essas pessoas que não conseguirem acompanhar tal movimento perderão oportunidades de desenvolvimento esportivo de alto nível”, segundo ele.
O professor encerra concordando com uma possível preocupação com a saúde, mas sem excluir os atletas da competição:
“Por fim, acredito que o peso deve sim, ter como base a saúde, mas sem restringir a participação de qualquer atleta desrespeitando sua compleição física.”
As mudanças da UAEJJF deram o que falar e geraram muitas manifestações dos amantes da arte suave, tanto positivas quanto negativas. E você, o que acha sobre o assunto? Deve haver um limite de peso, o absoluto deve ser extinto? Deixe seu comentário para a gente 🙂