Projetos sociais têm uma função importante na vida de muitas pessoas e nas artes marciais não é diferente. Bastante gente não tem acesso ao jiu-jitsu, seja por conta do local de treino ou pelo valor da mensalidade. Então entram em cena projetos que levam o tatame a crianças, jovens e adultos com muita vontade de treinar, mas pouca oportunidade.
O esporte, seja ele qual for, é transformador. Os projetos sociais surgem como uma alternativa a crianças que estariam na rua depois da escola, a jovens que talvez não tenham perspectivas para o futuro e adultos que pensam que tudo já está perdido. Um exemplo é o Instituto Reação, organizado por Flavio Canto, que revelou diversos talentos no judô e tem papel importante na vida de várias crianças e jovens.
Hoje vamos falar sobre o Instituto Olímpico ZEN (IOZen). É um projeto social realizado no Rio de Janeiro, nos bairros Jardim América e Parque Columbia, e tem turmas tanto de judô, como de jiu-jitsu (na arte suave, eles defendem a bandeira da Game Fight). O projeto atende desde crianças a partir dos 4 anos até adultos e tem 70 alunos (44 na unidade Jardim América e 26 na de Parque Columbia).
Fernando Trindade, faixa preta de judô e marrom de jiu-jitsu, é o responsável pelo projeto e conta que decidiu criá-lo para dar uma oportunidade para todos, já que as pessoas não tinham condição de pagar por aulas dessas modalidades. Os treinos no IOZen começaram em 2014 e, no início, eles contavam com o apoio da Prefeitura, que pagava o professor e cedeu algumas placas de tatame. Porém, essa parceria foi cancelada no fim de 2016 e, com isso, o projeto chegou a perder cerca de 20 alunos. Mas muita gente não queria que os treinos acabassem, então hoje os alunos colaboram com um valor simbólico, que é revertido para a manutenção do projeto.
“A importância é dar oportunidade para crianças que talvez nunca teriam acesso a tal esporte, por esse motivo resolvi não terminar com o projeto com o cancelamento da parceria com a Prefeitura”, destacou Fernando. O professor também lembrou dos inúmeros benefícios que uma arte marcial pode trazer para as pessoas, como disciplina, respeito, coragem, humilde e amizade.
Um exemplo que mostra a importância do esporte é o caso de Renata Borba e seus filhos, Gustavo, de 7 anos, e Mel, de 11, todos alunos do projeto IOZen. Há um ano seu filho mais novo faz parte do projeto. Depois de tentar outros esportes, ele gostou mesmo das artes marciais. “Foi quando encontrei bem próximo da minha casa o projeto no qual tinham aulas de judô e jiu-jitsu e em todas as pesquisas que fazia falava muito da disciplina, concentração, tudo o que eu precisava para ele. Foi aí que se encontrou, na primeira aula prestou atenção como nunca vi”, contou Renata sobre seu filho que, segundo ela, hoje é muito mais confiante e concentrado.
Além de participar como mãe de aluno, ela começou a ajudar mais na parte administrativa do projeto, procurava doações para atletas que não tinham como pagar um campeonato e até conseguiu o espaço atual em que os treinos ocorrem no Jardim América, na Igreja em que frequenta. Hoje, Renata é como uma secretária, sendo responsável por fazer as inscrições em competições, atender os pais, administrar a página do Facebook. Além de tudo, ela também se rendeu à arte suave e se apaixonou.
Ela ficava só assistindo os treinos e se interessava, mas nunca teve coragem para começar. Tinha o objetivo de perder 20kg e a musculação não estava dando resultado, além de não gostar. No meio do ano de 2016, Renata tomou coragem e começou a treinar judô, mas preferia quando as aulas eram de jiu-jitsu. Hoje ela treina só a arte suave, apesar de o início de tudo ter sido no judô. “O jiu-jitsu que me transformou, perdi todo peso que eu precisava, ganhei qualidade de vida, fiz amigos e hoje pratico um esporte que tenho certeza que pode mudar qualquer pessoa”.
Muitos alunos do projeto participam de competições e, quando não podem pagar, os responsáveis buscam algum tipo de ajuda de custo ou doação. O IOZen é mais uma história que prova como o esporte pode ser importante na vida das pessoas e como elas dão valor a isso. É essencial que projetos sociais continuem acontecendo e se você conhece algum, que tal fazer uma doação? Pode ser aquele kimono que não te cabe mais, aquela faixa antiga, o importante é dar visibilidade e apoiar quem dedica a vida para ajudar os outros.