Hoje nossa entrevista foi em tom nostálgico e também de muita honra para nós. Tivemos o prazer de entrevistar a Leka Vieira, que, além de ser professora faixa preta 4° grau, é nada mais nada menos que a primeira campeã mundial faixa preta de jiu-jitsu. A campeã nos concedeu uma entrevista exclusiva, e é com muito prazer que falo da história dela aqui.
A faixa preta iniciou no jiu-jitsu em 1992, quando tinha apenas 16 anos. Numa época em que o tatame não era um local normalmente frequentado por mulheres, não foi fácil conseguir o respeito dos colegas de treino. Ela lembra que o tatame naquela época comportava, em média, 50 homens e para conseguir dar um rola ela era era sinônimo de ser “aquecimento” para seus colegas. Mas conta que, mesmo com todas as adversidades, muito do que aprendeu foi uma mistura dos seus instintos naturais com o que observava dos treinos dos parceiros, já que ter atenção não era fácil. A caminhada foi árdua e cheia de preconceitos, mas para a nossa sorte, e a do jiu-jitsu a lutadora não desistiu!
Quando perguntada pelas dificuldades, a faixa preta disse uma frase que pessoalmente a inspirou:
Eu tinha todos os dias motivos para parar de treinar, mas eu me agarrei ao único motivo que eu tinha para NÃO parar: a paixão pelo esporte.
Competidora “de berço”, Leka já participava de competições no handball, por isso ela já sabia que queria competir na arte suave desde o seu primeiro dia:
“Eu nasci pra competir e adoro me testar, então desde o meu primeiro dia no BJJ eu senti que estava competindo pra ser aceita, competindo pra ter um lugar no sol. Competição é uma coisa normal na minha vida em geral.”
A atleta, que sempre gostou de competições, teve que se ausentar por conta de lesões e cirurgias. Eu não poderia deixar de perguntar se ela voltaria algum dia e para a nossa alegria, ela disse que sim, ainda não é a hora, mas ela quer voltar. Fica aqui nossa torcida para esse retorno!
Hoje, Leka é professora da academia Checkmat em Valencia, na Califórnia, representando a academia do Prof. Leo Vieira, o que muito a orgulha. É a única faixa preta da academia e ministra aulas para criança, homens e mulheres. Ela diz que adora dar aulas e se orgulha de poder influenciar pessoas através do “jiu-jitsu life style”. Quanto ao “jiu-jitsu old school”, Leka diz sentir falta de alguns aspectos como lutadores mais agressivos e os desafios que ocorriam na época.
Apesar de seu foco agora ser no ensino de jiu-jitsu, Leka afirma que a competição continua sendo seu desejo maior e o que mais deseja fazer, no entanto, ela lembra que passou recentemente por 4 cirurgias com longos e dolorosos tempos de recuperação, o que a obrigaram a, temporariamente, se afastar das competições, mas ela afirma: “vocês podem esperar que qualquer hora eu volto”.
Como grande inspiração que é, pedi que a faixa preta deixasse uma mensagem para todas nós e mais uma vez ela tocou no meu coração de fã:
“BJJ é um estilo de vida e se você decidir viver desse jeito, trabalhe muito e assim você poderá vencer preconceitos e adversidades como ninguém. Não deixe ninguém dizer o que você pode ou não pode. Assuma todas as culpas por suas derrotas e divida a glória de suas vitórias com todas as pessoas que te ajudam na sua caminhada. Se você não está treinando em uma academia que você não está feliz não tenha medo de fazer uma mudança. Procure uma academia na qual o professor é credenciado.”
Quando iniciei o contato para a entrevista pensava na Leka como lenda do esporte, mas me equivoquei. Depois de pesquisar e entrevista-la percebi que a palavra “lenda” representava apenas uma boa história contada, passada de geração em geração… enfim, era pouco! Essa guerreira foi forjada com muita determinação, força de vontade, suor e só uma grande pessoa poderia ter vencido todas as batalhas que enfrentou. Leka não só venceu suas lutas como foi uma das pioneiras na arte suave, abrindo caminho para que todas nós pudéssemos seguir lutando.
Além disso, agradeço à Leka por sua gentileza e disponibilidade em me conceder esta entrevista, com isso, minha admiração só aumentou.
Muito obrigada.
A equipe Bjj Girls Mag agradece pela entrevista e por toda a sua contribuição para a evolução do nosso esporte. Oss!