O texto de hoje traz uma inspiração para todos os praticantes de jiu-jitsu e uma lição de bom humor, alegria e muita disposição. Maria Pereira Rosa, ou Dona Maria, como é chamada, foi graduada faixa preta no auge de seus 70 anos e tem muito a nos ensinar, dentro e fora dos tatames.
Dona Maria conheceu o jiu-jitsu há muito tempo, quando ouvia falar da família Gracie pelo rádio. Ela conta que sempre achou muito bonito e tinha muita vontade de treinar, mas as circunstâncias da vida a levaram para outro caminho. Foi mãe e trabalhou muito para sustentar os estudos da filha. Quando se aposentou, Dona Maria não quis ficar parada. Por isso, começou a estudar, mas, segundo ela, a professora não tinha paciência, então acabou largando os estudos. Foi comentando com uma amiga (esposa de um atual companheiro de treino) que tinha vontade de fazer jiu-jitsu que conheceu a equipe em que treina atualmente, a Fabricio Jiu-Jitsu.
No início, foi difícil, pois até sua filha achava que a arte suave não era adequada para a mãe. Dona Maria foi para a dança, a pedido da filha, mas disse que o jiu-jitsu “foi bem melhor do que a aula de dança”. Então, lá foi ela conhecer o jiu-jitsu de perto. Seus horários não encaixavam com os das aulas coletivas da equipe e durante um tempo, o professor Emanoel Moreira deu aulas no horário em que ela podia. Com seis meses de treino, aproximadamente, conseguiu começar a treinar com o restante da equipe. De lá para cá, já se vão sete anos de treino.
Pensa que Dona Maria para por aí? Além do jiu-jitsu, que procura treinar todo dia, a faixa preta também faz MMA duas vezes por semana. Apesar de ter começado o MMA ao mesmo tempo em que o jiu-jitsu, ela confessa gostar mais da arte suave.
Dona Maria diz que, mesmo começando a treinar já mais velha, nunca se machucou e se adaptou muito bem ao esporte. Ela conta que faz tudo o que consegue no treino: “não faço minha aula melhor porque com 70 anos, você não é mais uma criança”. No início, as posições eram mais novas para ela, mas com o tempo, o corpo foi relaxando e acostumando. Hoje, suas posições (finalizações) favoritas são americana e estrangulamento.
Os benefícios que o jiu-jitsu trouxe para a vida de Dona Maria foram muitos. “Hoje me sinto muito melhor, não me sinto cansada, faço meu trabalho com mais amor, tenho mais qualidade de vida”, conta. Ela diz que não se sente cansada, pelo contrário, o treino parece “curar” todo o cansaço da rotina e ajuda a descarregar o estresse do dia a dia. Além dos ganhos na saúde, Dona Maria conta que o esporte a ajudou até no humor, em relação ao autocontrole: “antes eu não contava até dez. Hoje, para falar alguma coisa, dar uma resposta, eu vou pensar primeiro”.
Quando perguntei sobre as dificuldades que ela tem na prática do jiu-jitsu, nada de responder que a idade a atrapalha. O que Dona Maria acha difícil mesmo é gravar os nomes das quedas. “Não consigo falar o nome das quedas, é em japonês. Sei dar, mas falar… Não entra na minha cabeça”, ela conta, rindo.
A faixa preta ainda não disputou nenhum campeonato, segundo ela, por causa da filha, que tem medo de que ela se machuque. Mas diz que vontade não falta. Com certeza será mais uma lição de disposição e garra que ela nos dará se lutar um campeonato.
Dona Maria dedica à sua equipe o fato de nunca ter desistido do jiu-jitsu e também sua vontade própria de conquistar um objetivo. Ela conta que desde o início dos treinos sempre foi muito bem tratada e que recebeu muito apoio quando fez o exame para a faixa preta. “Eu estava com muito medo, porque demora muito. Mas todo mundo me deu força e apoio”, ela conta.
Algumas pessoas ainda acham que Dona Maria é “maluca” por treinar jiu-jitsu, mas ela garante que nunca vai parar de fazer o que a deixa feliz.“Quanto mais passava o tempo, mais eu acreditava que era capaz de chegar lá. Se você determina uma coisa na sua cabeça, você consegue fazer”.
“Isso não é coisa de homem nada, é coisa de mulher. Tudo que o homem faz hoje, a mulher também pode fazer.”
Dona Maria já era inspiração para muita gente desde que começou a treinar, mas com a faixa preta muita coisa muda. Ela diz que agora a responsabilidade aumentou e precisa sempre dar exemplo aos menos graduados.
Nossa entrevistada terminou o papo mandando uma mensagem para as pessoas. Ela diz que não há do que se envergonhar e nem do que se incomodar com o que os outros falam:
“Não é porque a pessoa tem idade que vai pensar ‘ah, não posso fazer isso, tenho vergonha’. Vergonha de quê? Você pode e quer fazer, então vai fazer o que tem vontade”. Quero sentir meu corpo melhor, sentir mais disposição, não ter aquele cansaço, quero me sentir bem. E é o que eu sinto, me sinto muito bem.”
Confira abaixo o vídeo de sua graduação 🙂
Que a história da Dona Maria sirva de inspiração e exemplo para toda a comunidade do jiu-jitsu, como serviu para mim. Sem vergonha de fazer o que gostamos e sempre com muita disposição!