Infelizmente, os Jogos Paralímpicos são pouco divulgados em relação aos Jogos Olímpicos. Midiaticamente falando, quase não vemos na TV e as informações na internet são bem difíceis de encontrar. Além disso, os patrocínios são bem diferentes se compararmos entre um e outro. Porém, poucos sabem que o time Brasileiro Paralímpico é fortíssimo e já nos rendeu inúmeras medalhas. No caso deste ano, já temos 23 até o então momento, sendo seis de ouro, dez de prata e sete de bronze.
Fui bater um papo com a Daniele Bernardes Milan, que é ex-atleta paralímpica de Judô, faixa preta de jiu jitsu e tem nada mais nada menos do que três medalhas Paralímpicas, sendo elas: bronze em Atenas (2004), bronze em Pequim (2008) e bronze em Londres (2012).
Dani treina judô desde os três anos de idade por influência de seu pai, que era Sensei. E jiu jitsu, desde 2007, com o Sensei Diego Martins (Kihon/B9). Ela começou o jiu para melhorar sua parte no chão, mas como todo bom praticante, acabou se apaixonando e tornou-se também faixa preta. Sua prioridade sempre foi o judô, portanto nunca competiu no jiu jitsu, mas disse que também pretende competir para ser cada vez mais completa.
Ela começou a competir aos dez anos pela Federação Paulista de Judô. Aos 18, ela conheceu o esporte Paralímpico mais a fundo. Quem a apresentou para a modalidade foi o Sensei Tenório.
Sua deficiência é a visão monocular. Ela tem uma atrofia no nervo ótico, e apesar de ter a visão bastante comprometida, enxerga melhor do lado direito.
Sua rotina de treinos em época de competição era bem dura, como a de qualquer atleta (independentemente de ser ou não paralímpico).
“Pela manhã preparação física, à tarde Uchikomi e a noite Handori”.
Os treinamentos de judô eram feitos sempre junto ao treino convencional, que não separava atletas olímpicos ou paralímpicos. Os treinos mais específicos eram feitos próximos às competições e junto com a seleção brasileira, porém, ainda assim, junto ao convencional por conta do volume.
Tudo tão igual e tão diferente ao mesmo tempo. Sua maior dificuldade no início do processo era de cunho financeiro, e depois ela teve que deixar sua família para treinar e viajar. “Esse foi meu maior desafio” – conta Dani. Fora isso, a tri-medalhista Paralímpica conta que acha muito triste o pouco espaço que a mídia dá para o esporte:
“Fico muito triste pelo pouco espaço que a mídia dá ao esporte Paralímpico. Principalmente ao judô. Essa semana mesmo não teve cobertura para eu assisti-los na arena. A mídia dá ênfase aos atletas que o patrocínio investe em propagandas. Esportes e atletas que não têm [patrocínio] acabam sendo apagados. E todos têm o mesmo volume de treino, todos deixam tudo de lado para se dedicar a isso, e nem todos têm o reconhecimento. Não são ‘coitadinhos’, são atletas profissionais que vivem disso. E principalmente do Bolsa Atleta pódio. Se não fosse por isso então, a maioria já tinha desistido”.
Ela conta que o valor da Bolsa Atleta é igual ao dos atletas Olímpicos e que ela vivia dele e do Time SP (sendo um projeto federal e o outro, estadual). Disse que algumas vezes, ela teve o bônus por ter subido ao pódio, mas que isso é mais comum para quem tem patrocínios além do auxílio concedido pelo Bolsa Atleta.
Daniele teve a honra de sempre ter ótimas condições de treino e todo suporte necessário para se desenvolver nos tatames. “Não tenho do que reclamar” – complementa.
Sua última competição foi em 2012. Além de atleta, Dani formou-se em Pedagogia e em 2010, passou em um concurso público de São Bernardo do Campo, sendo chamada em 2012 para exercer a função. Em 2013, ela foi designada a Secretária de Esporte, e hoje dá aulas de Judô na Equipe Kihon em sua cidade.
Por mais valor e espaço aos nossos atletas Paralímpicos, que são verdadeiros heróis e merecem todos os méritos, pois como disse a Dani: treinam igual, deixam tudo de lado, não são coitadinhos e, sim, atletas profissionais que esperam uma forma digna de pagamentos e treinos como todos os outros!