Há algumas semanas Ronda Rousey, lutadora de MMA, virou alvo de críticas por conta de uma foto tirada, presumidamente, durante uma sessão de fotos para um game do UFC. Vale lembrar que não conseguimos encontrar a fonte real desta foto, mas mesmo assim, falaremos sobre as opiniões a respeito dela.
A pessoa na foto, que muitos duvidam que seja de fato Rousey, mostra um corpo que algumas pessoas acham está longe do esperado de atletas de alto desempenho, e longe do que os fãs estão acostumados de ver na medalhista olímpica. Por que eles acharam triste, desapontador, ou errado o fato dela estar assim?
Tem um padrão que os atletas devem atingir? Hoje vamos discutir a expectativas que temos dos atletas e se são realistas ou justas. Ser atleta profissional não é fácil. Muitos dos campeões mais reconhecidos do mundo tem que lidar com a crua realidade de quem tem que treinar o dia todo e precisa trabalhar para pagar equipamento, alimentação, competição, etc.
Procurar patrocínio também não é tarefa fácil. Segundo a análise do Banco Nacional do Desenvolvimento, no Brasil “há falta de patrocinadores, muitas empresas se interessam apenas pela promoção de eventos de curta duração, e as empresas destinam quase a totalidade dos recursos aos esportes mais populares. Não há continuidade assegurada do patrocínio e a renovação de contratos anualmente gera insegurança”.
Apesar de ser suor, talento e bom desempenho o jeito de chegar ao topo, ganhar não é suficiente para permanecer lá, pois o esporte obtém mais lucro da mídia, da assistência, e da publicidade, ou seja daqueles atletas chamados de “needle movers”, os que enchem estádios e quebram recordes de pay-per-view. Lorenzo Fortitta, o CEO do UFC, falou com respeito á controvérsia sobre a atenção recebida pelo Connor McGregor: “Afinal, é um negócio. Ele pode literalmente impelir os números do país inteiro. Quando o Conor luta a Irlanda inteira para.
Obtivemos 60 pontos de share da TV lá. Acima do 11% dos ingressos vendidos em Las Vegas foram da Irlanda. Ele movimenta a agulha do Pay-per-view. Foi titular no seu primeiro evento na Irlanda, que obteve $1.4 milhões em ingressos. Claro, vamos recompensar lutadores que sejam bem-sucedidos no octógno e tenham muitas vitórias e coisas assim, mas se você pode ser um Georges St-Pierre ou Brock Lesnar, pessoas que estão sendo comparadas com o Conor, junto com a emoção que ele traz, então você vai ter a habilidade de negociar duro porque você traz isso para a UFC”.
Esses são apenas uns exemplos das pressões e os retos que encaram todo dia os atletas. Agora vamos dar uma olhada no nosso lado. Todo fã de esporte tem um ídolo. Essa pessoa talentosa que admiramos. Vemos eles na tv, seguimos no Instagram, procuramos seus vídeos no YouTube, imitamos nos treinos, e citamos eles com frequência. Todas essas plataformas nos dão a impressão, agora mais do que nunca, de estarmos mais perto deles. Nos permitem seguir a sua evolução como atletas e fornecem uma ideia do que precisamos fazer para chegar ao topo.
Porém as plataformas são também portas abertas a suas vida privadas. Recebemos informação todo dia, o dia todo, sobre o que eles fizeram, com quem eles fizeram, como eles fizeram, etc. Então ai estamos todos nós, do outro lado dos telefones, no conforte do anonimato, julgando a Rousey por ter engordado (esquecendo que ficou mais de três meses sem treinar), atirando pedra para o Jose Aldo por ter perdido uma luta (esquecendo do feito em 10 anos de carreira), chamando de burra a Holly Holm por não ter batido e de fraco ao Connor McGregor por ter batido.
É claro, tem comportamentos que não são aceitáveis nem em atleta nem em nós, o problema é exigir e esperar demais. O problema é confundir “ídolo” com “deidade”, pensar que por serem figuras públicas eles devem representar só o bom, o perfeito da sociedade.
O problema mora quando o atleta está ganhando, está no auge, está cheio de fãs e todos o adoram. Enquanto ele está lá, colhendo bons resultados do seu trabalho, tudo bem. Mas quando ele perde, quando é finalizado ou toma um sufoco, ele não é mais tão bom assim. Nessa hora, na visão de muitos, este atleta, antes tão adorado, passa a ser um fraco, um perdedor. E não é bem assim que funciona.
O problema é das pessoas que, quando seus heróis não são mais invencíveis, invulneráveis, intocáveis, não só perdem interesse, mas também cortam a capa e jogam no lixo. O famoso filosófo britânico, Alan Watts, diz “Tudo na natureza é ondeante. Por alguma razão é difícil para nós rastrear as coisas ondeantes. E de algum modo achamos que entendemos as coisas só quando as traduzimos em termos de linhas retas e quadrados. Mas isso não se ajusta á natureza. (…) Os seres humanos são tão ondeantes quanto a natureza, e os nossos cérebros são uma bagunça incrível de ondas, e isso é o que entendemos menos”.
É evidente que essa falta de entendimento e aceitação de nossa natureza imperfeita é o que está causando que julguemos e rejeitemos comportamentos, corpos, palavras imperfeitas, derrotas e quedas dos outros.
O Jiu Jitsu tem nos ensinado que cair é só o começo da luta. Então, vamos apoiar nossos atletas e nossos parceiros nos seus melhores e piores momentos. Vamos comemorar a precisão com que alcançamos a vitória e aceitar a humanidade com que encaramos a derrota.
Mesmo você, que começou há pouco o Jiu jitsu vai ter que lidar com as perdas, e isso não deve ser, de fato uma cobrança tão árdua. Todos devemos dar o nosso melhor, mas a perda é uma consequência de um ato de coragem, de quem se arriscou, deu a cara para bater, e isso por si só, já é digno de vitória.
http://www.mmamania.com/2014/10/2/6895587/ufc-lorenzo-fertitta-conor-
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http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arqui
vos/conhecimento/bnset/esporte.pdf