Fala pessoal, tudo bem? O Atleta da Semana recebe hoje a sinistra Ericka Almeida, faixa marrom da Herman Gutierrez. Em nosso bate papo, ela conta sobre como começou no jiu jitsu, no MMA e sobre as dificuldades que enfrentou para chegar onde chegou no esporte. Boa leitura!
BGM: Há quanto tempo você treina jiu jitsu e por que entrou?
Ericka: Comecei em 2007, trabalhava na recepção de uma academia que tinha jiu jitsu, e na época eu gostava de esportes, mas até então nunca tinha praticado nenhum tipo de luta. Então eu resolvi saber o que era jiu jitsu, porque eu não sabia nem explicar o que era. E então me interessei, e não parei mais.
BGM: Quais as dificuldades que encontrou no esporte enquanto mulher?
Ericka: Para a mulher, as dificuldades são sempre maiores, em todas as áreas. Mas o que eu mais percebi foi que as pessoas não acreditavam que isso daria dar certo, falavam pro meu professor não investir em mim porque eu era mulher, porque eu ia arrumar um namorado… tanta coisa! Fora a velha história que mulher que treina é maria tatame. Nunca você pode estar lá porque quer quer treinar, nunca você pode ser você mesma.
BGM: Na sua opinião, quais as responsabilidades das federações no que se trata do incentivo aos atletas de jiu jitsu?
Ericka: As federações deviam pensar mais no incentivo e futuro dos atletas, do que pensar em só encher o bolso do dinheiro. Acho um absurdo você pagar R$140 num evento e o campeão ganhar a mesma coisa de quem só se inscreveu e fez uma luta, por exemplo. Isso sem contar que o evento é todo patrocinado, então não há tanto gasto. Há patrocínio de kimonos, de suplementos, muitas vezes o local nem é pago, e não há repasse nenhum aos atletas. O incentivo vem ocorrendo ultimamente com eventos não federados, premiando melhor do que os eventos federados, que deviam ser exemplo.
BGM: Você sempre foi competidora?
Ericka: Eu sempre gostei de competir, independente do que fosse. Eu sempre gostei de esportes, já fiz basquete, cheguei a competir pela seleção sorocabana; fiz atletismo, fui federeada e confederada; e eu sempre gostei de competir, sempre fui fascinada. Então, nas lutas não seria diferente, comecei a competir no jiu jitsu com 18 anos.
BGM: Quando veio a oportunidade de ir para o UFC?
Ericka: Na faixa roxa, eu comecei a competir MMA. Na primeira luta eu não tinha noção nenhuma, fui convidada para lutar um evento pequeno aqui na minha cidade. E deu certo, eu ganhei por uma finalização. A minha adversária era faixa marrom de karatê, tinha bastante experiência em lutas em pé, e eu já era do jiu jitsu, então minha estratégia era levar pro chão e fazer o dever de casa (rs). E o tempo foi passando, até que eu recebi uma ligação para repor uma atleta do evento no UFC. Faltavam 20 dias para o evento, eu tive 16kg para perder em 20 dias. Aprendi como tirar peso na banheira, foi uma experiência muito legal, muito desgastante e boa o suficiente para eu não querer fazer de novo (rs). Eu, infelizmente, perdi as duas lutas que fiz no UFC, mas perdi por pontos, então não foi nada muito feio, mas o UFC também teve um corte grande e eu fui uma das atletas eliminadas. Mesmo assim, em menos de 3 anos de experiência na modalidade eu lutei o maior evento de lutas do mundo, e eu estou treinando e me dedicando para voltar mais preparada e para representar muito bem o nosso país.
BGM: O que você acha dessa rivalidade agressiva que acontece entre os atletas de MMA no dia da pesagem?
Ericka: Eu acho que essa rivalidade dos atletas é para vender pay per view, porque essas coisas não acontecem de verdade. Pensa bem: essas pessoas são lutadoras profissionais, eles são peritos em sair na porrada. Se eles quiserem sair mesmo na porrada, eles sairiam! Isso é bem para vender mesmo. Com certeza tem os motivos pessoais, as provocações, mas no geral é marketing. O que eu acho feio são as baixarias, quando falam palavrões, e eu acho que não precisa disso. Somos atletas, profissionais e devemos ser exemplo. Mas é o show, né? As pessoas querem ver isso, pagam por isso. Um bom exemplo disso é a Ronda Rousey, a queridinha da América, musa do MMA, a bem sucedida, atriz, a que bate em todo mundo, e então ela vai lá na pesagem ou nos reality shows e fala palavrão, mostra o dedo do meio… isso eu acho muito feio. Ela tá mostrando pras meninas, pras crianças que são fãs dela que isso é bonito, que isso é normal, e acho que não é bem por aí.
BGM: Tem esperança que o jiu jitsu se torne um dia um esporte profissional e devidamente reconhecido no Brasil?
Ericka: O jiu jitsu como esporte profissional já devia ter sido valorizado no Brasil, afinal, os maiores atletas de jiu jitsu do mundo são brasileiros. Os professores bem sucedidos que dão aula lá fora, na maioria das vezes, são brasileiros… mas infelizmente o nosso país só se importa com o futebol e olhe lá, pois as marcas valorizam muito uns e dão misérias para outros. Eu acho que o atleta não deve esperar pelo incentivo do governo e se você gosta mesmo, deve ir atrás do seu.
BGM: Qual a dica que você dá pra quem deseja se tornar uma atleta de ponta igual você?
Ericka: A dica que eu dou é ser muito persistente, às vezes você acha que não tem talento, se não tiver talento, destaque-se pelo seu esforço, que é o que manda. Sempre o mais esforçado vai se sobressair, a diferença é essa. É realmente isso que você quer? Então você terá de fazer mais do que uma pessoa normal faz. Esse é o segredo, o foco, conversem bastante com o mestre de vocês, tenham o apoio de uma boa equipe e tenha perseverança. Uma hora você chega lá.
Ericka pede para deixar um agradecimento especial ao seu professor Herman Gutierrez, de Sorocaba. Segundo ela, ele acreditou e apoiou a atleta enquanto ninguém acreditava, e é uma pessoa que preza pelo bem estar e se preocupa com ela em todos os sentidos. Ericka acreditou no seu potencial, e mesmo em meio à algumas dificuldades, seguiu em frente rumo aos seus objetivos. Esperamos te ver brilhar e ir muito longe, sinistra!
E você, qual seu objetivo dentro do esporte? Tem alguém que deseja ver por aqui? Conta pra gente nos comentários 😉
Bom fim de semana à todos e todas!