As lutas, durante o seu percurso histórico, nos apresentam constantemente a presença da mulher. Seja a luta corporal, política ou filosófica, de longas datas nossas guerreiras contribuem nos mais importantes momentos.
Em grande parte dos acontecimentos históricos, sua participação se dá de um modo a emprestar sua beleza, inteligência, astúcia e coragem, como no caso de Maria Quitéria, que se juntou a luta armada em 1822, no período que D. Pedro declarava Independência. Disfarçada de homem, ela ombreou com outros soldados contra a resistência Portuguesa ao movimento de independência do país.
Outra guerreira dotada de uma surpreendente coragem era Maria Bonita. Maria Gomes de Oliveira foi à primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros. Conheceu Lampião em 1929 e um ano depois foi convocada a fazer parte do grupo. Onna-Musha, as mulheres samurais, participavam auxiliando seus maridos samurais, educando seus filhos e garantindo o respeito ao código samurai (Bushidô- conjunto de regras não escritas, cujos valores são lealdade, coragem, verdade e honra).
Elas possuíam o mesmo treinamento em artes marciais para superar a falta de lutadores e para proteger seus filhos de possíveis ataques. Acompanhando estas passagens, podemos observar que a luta ou participação das mulheres em alguns casos se dão ao nível coadjuvante, auxiliando os interesses ou pautas dos homens. Em grande parte da história das mulheres citadas, aparece algum caso de atitudes machistas dos seus companheiros.
Elas foram nomes expressivos e pioneiras da luta feminina por seu lugar na sociedade. Continuaremos oferecendo exemplos de mulheres que também participaram de momentos históricos, mas, ao invés de abraçar pautas estabelecidas, lutaram e lutam por seus interesses, seu respeito e reconhecimento. Pelo fim da relação de submissão e dominação, inclusive você, guerreira jiu-jiteira.
Olímpia de Gougues, (Marie Gouze) lutou pelos direitos das mulheres e pela democracia durante a revolução francesa. Seu combate principal foi contra a declaração dos direitos do homem e do cidadão, que tornaria ou determinaria os direitos individuais e coletivos dos homens. A guerreira tentava dar por encerrado a conduta de injustiça e autoridade masculina sobre as mulheres, mas em 1793 foi julgada, condenada e morta por ameaçar os líderes da revolução, que temiam a solicitada igualdade entre os gêneros.
Antes de morrer afirmou: “A mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter igualmente o direito de subir à tribuna”. As mulheres curdas, por sua vez, surpreenderam o mundo pegando em armas, se organizando e combatendo o Estado Islâmico no Curdistão. Não somente para afastar a ameaça terrorista, estas mulheres lutam também pelo combate ao patriarcado e aos direitos que lhes são negados. Em 1990, no movimento zapatista no México, houve também uma organização das mulheres muito similar a este das mulheres curdas, mostrando que a libertação das mulheres se faz necessária para a libertação social.
No Brasil, em novembro de 2015, um grupo de estudantes secundaristas se reuniu ocupando duas escolas, em protesto ao projeto de reorganização das escolas estaduais proposto pelo governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckimin. Projeto este que afetaria 74 mil professores e 311 mil alunos, fechando 94 instituições de ensino. Em três dias após este acontecimento se deram 150 ocupações, na capital e no interior. O movimento foi liderado por garotas na faixa etária entre 15 e 17 anos, que além de se pautarem contra o projeto de reorganização, lutam pelo fim do machismo no ambiente escolar e repressão sexista do estado ao movimento.
Uma das cenas mais instigantes é a de uma estudante disputando uma cadeira com um policial em via pública. Lutadoras de Jiu Jitsu em nada são diferentes dos exemplos anteriores. Todos os dias, taciturnamente, nossas guerreiras enfrentam dentro e fora dos tatames debates e discussões sobre paradigmas e estereótipos implantados pelo machismo de nossa sociedade.
Às vezes em casa, quando parentes questionam com certo preconceito a arte escolhida por elas, ou amigos que criticam o contato físico muito forte, característico da arte suave, ou até quando aquele visitante pergunta ao sensei: Vou lutar com ela? Não esquecendo aquela velha máxima do preconceituoso: “deve ser lésbica.”
Nestes momentos, iniciam as lutas políticas de nossas guerreiras, que identicamente aos exemplos anteriores, se posicionam de maneira protagonista, não aceitando as condições impostas pelo patriarcado. Num ambiente que até pouco tempo era dominado pelos homens, suas decisões afetam diretamente na ascensão feminina no Jiu-Jitsu e inspira as novas gerações de guerreiras que ainda irão adentrar no mundo da arte suave.
Por isso, quando pegar seu kimono e for ao treino, lembre sempre que sua luta hoje é histórica também, conquiste seu espaço, não desista de seus interesses e lute como uma mulher!
REFERÊNCIAS
Reis, Adriano de Paiva [et al.] organizadores, Pedagogia histórico Crítica e Educação
Física, Juiz de Fora, Editora UFJF, 2013
http://www.brasil.gov.br/defesa-e-seguranca/2012/04/maria-quiteria
http://www.eunapolis.ifba.edu.br/informatica/Sites_Historia_EI_31/cangaco/Site/image
ns/mb.html
http://academiareflexo.blogspot.com.br/2010/09/onna-musha-mulher-samurai.html
http://www.historia.uff.br/nec/olympe-de-gouges-mulheres-e-revolucao
Revista Vírus Planetário, Lute como uma garota, Edição n36, Março/Abril 2015
Revista Caros Amigos, Garotas em Luta, Edição n 226, Janeiro de 2016