Do Capão Redondo para o Mundo: Entrevista com Raquel Santos, faixa preta de jiu jitsu e multi campeã IBJJF

Hoje eu trago uma entrevista muito especial. Eu conheci a Raquel quando ela tinha mais ou menos 14 anos, nos campeonatos da CBJJE. Desde aquela época ela já trabalhava nos eventos de jiu-jitsu como staff, e sempre que ela me via ela dizia que queria um patch do Bjj Girls Mag, hahaha.

Ela sempre lutava muito e se dava super bem nos campeonatos, estava sempre ali dando seu melhor , e inclusive lembro de uma vez quando eu era faixa azul e ela laranja, ela me disse no chat do Facebook: “você luta muito!”. Fiquei muito feliz e lisonjeada, e desde aquela época, vendo sua dedicação e empenho, eu sempre soube que ela ia ganhar o mundo através do jiu-jitsu. Hoje, ela é uma mulher de 21 anos, faixa preta de jiu jitsu com uma história muito inspiradora para contar. É uma honra trazer você aqui, Raquelzinha. Vamos ao nosso bate-papo:

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Como Conheceu o Jiu-Jitsu e Seu Caminho no Esporte

“Minha jornada no jiu-jitsu teve início há cerca de 12 anos, quando fui apresentada ao esporte pelo professor Avilmar J. da equipe Lotus Club. Na época, minha mãe tomou a decisão de me matricular em uma escola de jiu-jitsu, devido ao bullying que eu sofria na escola. Acredito que, de alguma forma, essa experiência foi necessária para eu aprender a me defender, caso a situação piorasse. Felizmente, graças a Deus, o pior nunca aconteceu.

Ainda lembro da minha primeira aula, como se fosse ontem. Mesmo sem saber absolutamente nada, tropeçando em cada movimento, usando um kimono surrado para a aula experimental, e lutando para entender tudo, naquele momento eu soube que queria fazer aquilo repetidas vezes. Foi ali que nasceu uma sensação de “eu quero fazer jiu-jitsu pra sempre”.

Me lembro das coisas que prometi a mim mesma naquele dia e as coisas que imaginei que faria depois um tempo treinando e como seria se eu me aprofundasse nisso no futuro. Posso dizer que nunca me arrependi de ter feito essa primeira aula, e de ter tomado essas decisões tão cedo.”

Minha Paixão pelo Jiu-Jitsu e a Oportunidade de Viajar o Mundo

“Eu amo jiu-jitsu e sou apaixonada por isso, não consigo me ver fazendo outra coisa, sem exceção de nada. Graças a ele, eu viajo o mundo, conheço países novos, pessoas novas e culturas diferentes. Luto campeonatos de alto nível com meninas incríveis. Lembro quando era faixa roxa e imaginava que dias como esses chegariam, e eles chegaram. Atualmente, moro na Inglaterra, e, ao contrário da maioria que se muda para os Estados Unidos, eu sabia que queria um futuro na Europa. Não me arrependo, amo o Reino Unido.

De onde eu vim – minhas origens

“Eu vim de um lugar muito mal estruturado, que poderia ter me levado por outros caminhos, como não ter um objetivo na vida ou enfrentar uma gravidez na adolescência. Falo isso porque fui uma das únicas meninas que não teve filhos na adolescência.”

O lado ruim dessa jornada

“Um problema que o jiu-jitsu me trouxe foi minha ansiedade e alguns pensamentos negativos sobre minha vida profissional, além de alguns distúrbios alimentares. É um pouco complicado, mas as pessoas precisam falar mais sobre isso e entender que está tudo bem. Situações como essa estão acontecendo com mais frequência. Perdi as contas de quantas vezes prometi a mim mesma que não voltaria, que daria um tempo, mas sempre estou lá. As pessoas precisam entender o que passa por suas cabeças e procurar ajuda profissional. Muitas não sabem lidar com seus sentimentos adequadamente e acabam frustradas.”

Dificuldades no jiu-jitsu como atleta juvenil

“Minha jornada no jiu-jitsu começou em um ambiente bem difícil Fui criada em um lar com três irmãos mais velhos e minha mãe… meu pai faleceu em 2009 devido a uma cirrose hepática aguda. Foi minha mãe quem investiu em minha formação no jiu-jitsu, arcando com as despesas até meus 16 anos.

No entanto, não pude contar com seu apoio emocional. Desde cedo, viajei sozinha para lutar em outros estados, trabalhando em competições e percorrendo longas distâncias para treinar. Muitas vezes, caminhava uma hora para a academia e outra hora de volta para casa, em ruas desertas. Por isso, acredito muito que Deus protege aqueles que se esforçam… Pensava: um dia, me tornarei uma faixa preta no jiujitsu e serei campeã mundial!”

Desafios no Mundo do Jiu-Jitsu

“No cenário atual, a mídia representa o principal desafio para os atletas, pois é por meio dela que conseguimos patrocínios, oportunidades para ministrar seminários e lutas casadas. Para as mulheres que ingressam na faixa preta, a competição é ainda mais intensa, com atletas experientes e consolidadas. Não basta ser um talento excepcional que conquista tudo em seu primeiro ano como faixa preta. É um processo árduo que requer paciência e persistência, mantendo a mentalidade de que o sucesso chegará com o tempo.”

Jogo e finalizações favoritas

“Faço guarda-aranha desde minha primeira semana de treino, e na minha opinião é a melhor guarda do mundo. Sou muito suspeita pra falar disso, mas trabalhei a vida toda focada em um jogo e objetivo únicos, e uma coisa levou à outra. Foi daí que comecei a me dedicar às americanas de pé e leglocks, que são minhas melhores habilidades. Acho que meu jogo se encaixa muito bem com o meu corpo e peso.”

Sobre ser uma faixa preta de jiu jitsu tão jovem

Minha graduação para a faixa preta de jiu jitsu foi o dia mais feliz da minha vida. É um sentimento compartilhado por muitos, mas para mim, foi uma experiência transformadora, como se eu tivesse nascido de novo. Comecei a compreender o ditado de que “se está ruim agora, é sinal de que o futuro será melhor”. Fui privilegiada por alcançar a faixa preta aos 20 anos, reconhecendo o tempo e os desafios que enfrentei nessa jornada. Estou orgulhosa por nunca ter desistido, mesmo sendo tão jovem. A persistência é o caminho que me trouxe até aqui.

Maiores Inspirações no jiu-jitsu
“Acho que para sempre vou me inspirar em Bia Mesquita, não só porque ela tem 10 mundiais atualmente, mas também por toda a trajetória dela. Já assisti alguns vídeos dela no YouTube quando era recém-graduada faixa preta, e ela perdia bastante, muitas vezes não fazia boas lutas. No entanto, hoje, ela é considerada a melhor de todos os tempos. Espero um dia não ter tantos títulos quanto ela, como qualquer outra pessoa diria. Mas o que quero é ter a mesma determinação e constância que ela demonstrou ao longo de mais de 20 anos de carreira.

Quero me olhar com 40 ou 50 anos, aposentada e com uma carreira profissional bem-sucedida e feliz, e ver que tudo isso valeu a pena.”

Mensagem de Persistência e Determinação

“Acredito que a persistência é a chave para o sucesso. Se você tem um sonho, não se distraia com outras coisas, pois as distrações existem, mas permanecer fiel ao seu propósito é fundamental. Todo atleta, principalmente que é faixa preta de jiu jitsu, enfrenta desgastes físicos e emocionais, sendo este último o mais desafiador. No entanto, acredito que, quanto mais difícil parece agora, mais promissor será o futuro. Mantenho meu foco nas coisas boas que estão por vir, e sei que, quando olhar para trás em meus 40 ou 50 anos, com uma carreira de sucesso, estarei feliz por ter persistido.”

Muito obrigada Raquel por ser essa mulher forte, determinada e dona da sua história. Que você continue sendo inspiração para todas nós!

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