Agosto Lilás: De que forma a violência atinge a mulher praticante de jiu-jitsu?

Nesses 8 anos treinando jiu-jitsu, vira e mexe aparece uma mulher no meu instagram (com perfil fake) me perguntando se eu já tive uma situação de briga com um homem, e se já usei o jiu-jitsu para me defender.

E o mais estranho é que, em todo esse tempo criando conteúdo para o Bjj Girls Mag, poucas vezes falei sobre a violência que a mulher no geral sofre. Acho que a última matéria data de 2020, mas esse problema acontece todos os dias, todos os minutos. 

O anuário brasileiro de segurança pública, datado de 2022 mostra que a cada 7 horas, uma mulher é morta no Brasil, vítima de feminicídio. São números muito altos, que tiram covardemente mulheres do convívio com filhos, familiares e amigos. 

Pensando na campanha do Agosto Lilás (uma campanha de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, instituída por meio da Lei Estadual nº 4.969/2016, com objetivo de intensificar a divulgação da Lei Maria da Penha, sensibilizar e conscientizar a sociedade sobre o necessário fim da violência contra a mulher, divulgar os serviços especializados da rede de atendimento à mulher em situação de violência e os mecanismos de denúncia existentes), resolvi fazer uma pesquisa rápida em alguns grupos e Instagram (afinal o mês está quase acabando) para ver de que forma as praticantes de jiu-jitsu se sentem expostas a esse tipo de violência. 

Medo e insegurança, mesmo treinando jiu-jitsu

Fizemos 6 perguntas, onde, ao serem questionadas se já se sentiram ameaçadas por algum homem em algum momento da vida, tivemos 91% de respostas dizendo que sim, contra 5,7% dizendo que mais ou menos, e 2,9% dizendo que não.

Perguntamos também se elas se sentem seguras ao andar pelas ruas, mesmo sendo praticantes de jiu-jitsu, e as respostas apontaram: 74,3% disseram que não, contra 17,1% que disse “mais ou menos” e 8,6% disse “sim”.

54,3% das meninas responderam que já foram agredidas por um homem na vida, sendo familiar ou não. 31% disse que já teve de se defender em algum momento de um homem, usando as técnicas de jiu-jitsu.

Veja alguns dos relatos de praticantes de jiu-jitsu:

“Passei a fazer jiu jitsu depois de ter vivenciado uma agressão, para defesa pessoal.”

“Tive um ex-namorado que depois que de pegar muito forte no meu braço, porque descobriu que (no passado) eu já tinha ficado com um cara que estava no mesmo rolê que a gente (e eu nem sabia que encontraria esse cara lá), me pegou pelo braço, levou ao carro, e fomos embora do rolê. Fomos pro apê dele, subimos com ele me agarrando pelo braço. 

E me manteve trancada até o dia seguinte, depois de pensar muito como sair dali eu fingi estar tudo bem entre nós. Até que no outro dia a tarde ele decidiu me deixar na minha casa. Então eu terminei o relacionamento por mensagem mesmo porque eu só queria correr dele e nunca mais vê-lo.

Outro caso, um tarado no ônibus sarrando em mim. Ele me perseguia, por 3 dias diferentes. E eu “fugindo” como podia. Até que no terceiro me irritei, joguei ele no chão. Dei uns socos do meu jeito, e ele saiu correndo falando que eu era louca…

Triste !

Por conta do jiu jitsu eu não senti medo, apenas ameaça. Mas sabia que poderia me defender e revidar. O bjj mudou minha postura e auto confiança, mesmo sendo em casos infelizes que não deveriam acontecer.”

“Já fui assediada no treino, logo no começo quando era faixa branca, eu não comentei com o mestre ou com qualquer pessoa, resolvi na hora e o fulano entendeu o recado.”

“Assédio moral e sexual, por abuso de poder de professor(es) de jiu-jitsu e praticantes da arte.”

“Em 2018 fui mantida em cárcere privado pelo meu ex-companheiro. Adicto. Tive a clavícula direita quebrada em 3 lugares, o joelho direito em dois lugares e traumatismo craniano. Já era praticante de jiu-jitsu, faixa azul, mas ele era muito forte e estava sob efeito da droga.”

Infelizmente, algumas mulheres entram no jiu-jitsu para saberem se defender de homens como maridos, irmãos, pais, ou até mesmo em alguma situação na rua. Defesa pessoal, na minha opinião, devia ser ensinado nas escolas, pelo menos para as mulheres. Nossa cultura ainda é violenta, machista e privilegia os homens. Mas seguiremos fazendo o nosso trabalho – divulgando equipes que acolhem mulheres, mostrando o quanto o jiu-jitsu pode e faz a diferença nas nossas vidas.

Leia também:

Assédio nos tatames – por Mayara Munhos

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