A atleta carioca Mariana Rolszt, faixa marrom representante da equipe Gracie Humaitá, surge no cenário competitivo do pano como uma das promessas da nova geração e promete movimentar o jiu-jitsu feminino. Para além dos tatames, sua história de vida e o papel que representa na disseminação da arte suave entre as mulheres impressiona tanto quanto suas conquistas dentro das quatro linhas.
“Mulher e preta. É desafiador!”
Mariana iniciou no jiu-jitsu aos 12 anos através do incentivo dos pais, que já treinavam. A primeira competição aconteceu aos 13: “É um período de muitas mudanças para um adolescente. A confiança em mim mesma foi, de longe, o que a competição mais acrescentou à minha vida.”
As dificuldades financeiras não foram empecilho o bastante para impedir de realizar seus sonhos, a família deu suporte para se manter treinando e competindo, inclusive fora do estado do RJ e no exterior. Participou do Mundial em seu segundo ano como juvenil, com 17 anos. Para bancar a viagem, sua mãe começou a fazer docinhos para festa, atividade que mantém até hoje e que, inclusive, tornou-se a principal fonte de renda da casa. Mariana viajou, lutou e sagrou-se campeã em sua categoria. Retornou ao Brasil com o título e uma certeza: viveria do jiu-jitsu.
Aos 19 anos fechou patrocínio com uma clínica de saúde do bairro onde mora e, com isso, conseguiu passar uma temporada de 3 meses nos Estados Unidos, onde conheceu a professora Letícia Ribeiro. A partir daí, pintou a oportunidade de realizar camps regularmente em San Diego: “Nos Estados Unidos treino com a Letícia Ribeiro, então é um treino de excelência e a oportunidade para mudança de vida é melhor, diferentemente do Brasil, que apesar dos treinos fortes, ainda é complicado pra se manter com o jiu-jitsu”.
Com a pandemia do novo coronavírus, a viagem desse ano não aconteceu, no entanto, outra oportunidade surgiu: dar aulas para turmas femininas. Atualmente são duas turmas – na Double Five Barra, onde também treina regularmente e também na Carlson Gracie Ilha do Governador: “Dar aulas para turmas femininas é uma das experiências mais incríveis que o jiu-jitsu já me proporcionou!”, relata.
Sobre as barreiras enfrentadas em um ambiente que ainda é predominantemente masculino, Mariana é enfática: “Mulher e preta, é desafiador. Imagina se matricular em uma academia onde uma dos professores é uma mulher preta de 1,55cm e 49kgs! Hoje eu tenho total liberdade nas academia onde treino. Em San Diego, inclusive, a maior parte do time de competidores são mulheres. Infelizmente, no Brasil isso ainda não é uma realidade, mas todos conversam e está bem mais fácil de trabalhar. Os homens têm mais cuidado e, se algo me fere, tenho voz pra falar sobre isso.”
Para o futuro na modalidade, Mariana se mantém focada e disposta: “Com essa pandemia estou vivendo um dia de cada vez, quero estar pronta para quando tudo melhorar. O plano é me manter treinando e lutando o máximo de campeonatos possível.”