Faixa colorida no jiu-jitsu e o Orgulho LGBTQIA+

Surgiu debate em torno de uma faixa colorida no jiu-jitsu e muitas pessoas estão comentando. Mas, afinal, o que isso muda pra você que não é LGBTQIA+? A resposta é: NADA. Mas vem entender isso com calma!

Por que orgulho?

Hoje, 28 de junho, é o dia do orgulho LGBTQIA+. A história desse dia foi escrita a partir da Revolta de Stonewall (Stonewall Inn – bar gay de Nova York) de 28 de junho de 1969. “Antes de sequer começar a contar sobre as chamadas ‘Rebeliões de Stonewall’, vale lembrar que qualquer prática homossexual era considerada crime em todos os estados americanos até 1962 – e a punição variava entre longa pena em regime fechado, trabalhos forçados ou mesmo a pena de morte.” O Hypeness conta essa história aqui.

Após constantes batidas policiais, na madrugada de 29 de junho de 1969 as pessoas presentes no bar se revoltaram, o que acabou gerando uma sequência de manifestações e revoltas em defesa da luta de gays, trans e lésbicas e contra a violência e homofobia nos Estados Unidos.

Ter orgulho significa o sentimento contrário de vergonha. Não devemos nos esconder ou ter medo de ser quem somos. Muitas pessoas falam “não sou homofóbico, mas andar de mãos dadas já é demais” ou “não tenho preconceito, mas não precisam falar pra todo mundo” (sendo que isso é totalmente aceitável quando falamos de casais heterossexuais, por exemplo).

Que tal se colocar no lugar dessas pessoas por um segundinho: e se você tivesse que viver uma vida de medo e vergonha simplesmente por ser quem você é? Por isso, devemos sim ter orgulho de quem somos, para que cada vez mais as pessoas não tenham medo nem precisem se esconder.

A faixa colorida no jiu-jitsu

Em 2019, a Kimonos Dojô lançou uma faixa chamada Faixa da Resistência, em apoio ao movimento LGBTQIA+ e que teria lucro revertido para o Coletivo Trans Sol (casa de acolhimento a travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade) como conta melhor esta matéria:

“‘Para a Kimonos Dojo se aliar a uma causa como a Faixa da Resistência demonstra o nosso compromisso com uma sociedade mais igualitária. É muito importante que todos se sintam seguros para viver suas vidas, e estimular o conhecimento de artes marciais e defesa pessoal para uma comunidade vulnerável, e também apoiá-los financeiramente através desse produto especial que criamos nos enche de orgulho’, conta Lucas Brion, Gerente de Social Media da Kimonos Dojo.”

Vamos destacar esta parte: importante que todos se sintam seguros para viver suas vidas. Vocês têm noção de que o Brasil é o país que mais se mata LGBTs no mundo todo? Ou seja, pessoas são privadas de viver suas vidas simplesmente por existirem do jeito que são.

O ambiente do jiu-jitsu ainda é, no geral, muito masculino e, infelizmente, machista e homofóbico. Mesmo em pleno 2020. Já recebemos diversos relatos de mulheres e pessoas LGBT sobre alguma situação que sofreram ou algum motivo que os faz não se sentir à vontade no tatame. O jiu-jitsu ainda não é igual para todos! Se fosse, não falaríamos mais sobre assédio nos tatames, sobre “piadas” machistas e homofóbicas.

O esporte é um reflexo da sociedade, então como podemos falar que o jiu-jitsu está imune e livre de todo e qualquer tipo de preconceito que existe no mundo? Seria muito egoísta da nossa parte fechar os olhos para todos os relatos e dores de pessoas que ainda não se sentem 100% bem no ambiente do jiu-jitsu por causa do machismo e homofobia.

O que a faixa muda para você?

Acho que o que as pessoas ainda não entenderam é que essa faixa não muda em nada suas graduações. Você não vai deixar de se graduar faixa preta para graduar faixa arco íris. A faixa colorida não vai entrar no sistema oficial de graduação da CBJJ nem vai existir uma categoria nos campeonatos para as pessoas lutarem com ela, ela é simbólica. Então, se ela não vai ser usada oficialmente, no que isso atrapalha na sua vida, você que não é LGBTQIA+?

Ter uma faixa colorida só mostra o quanto as pessoas que a criaram e usam estão preocupadas em fazer com que o jiu-jitsu seja para todos na prática. Ela significa que todas as pessoas são bem-vindas nesse esporte que tanto amamos. E usar o dinheiro da venda dela para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade é ainda mais nobre. 

“Ah, mas criar algo assim só separa as pessoas” Não! Lembra que eu falei lá em cima que existem pessoas que têm vergonha de ser quem são e outras que morrem por causa disso? É justamente por isso que precisamos ter orgulho da nossa bandeira. É mais fácil para alguém que não se encaixa em nenhuma ‘minoria’, falar que “somos todos humanos” e não se deve separar.

Ser gay já foi crime, a mulher já foi proibida por lei de praticar certos esportes. Pois bem, quem segrega é a sociedade machista e homofóbica em que vivemos, não somos nós! Nós só queremos existir, viver nossas vidas e amar quem quisermos. Já pensou no absurdo que é alguém não poder amar quem quiser, porque uma pessoa que não tem nada a ver com a vida dela diz que é errado?

Não somos todos humanos, somos diferentes SIM e precisamos entender que existem pessoas que sofrem muito por isso. Portanto, você que nunca sofreu com nenhum tipo de preconceito ou assédio, que tal se colocar no seu lugar de privilégio e pensar o que pode fazer para ajudar ou, pelo menos, não atrapalhar uma luta tão importante quanto a dos LGBTQIA+?

É uma faixa simbólica, que em nada atrapalha na vida de quem não é ou não apoia pessoas LGBTQIA+. Pelo contrário, só ajuda essas pessoas a se sentirem bem no jiu-jitsu, fazendo com que nosso esporte seja receptivo com todos e cada vez mais inclusivo. Se você se incomoda com isso, sinto muito dizer que o problema não está em existir uma faixa colorida simbólica, mas sim em você.

Menos ódio, mais amor e muito jiu-jitsu para todos nós!

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Assista também ao vídeo no nosso canal do YouTube sobre esse tema!

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