Para ser ídolo não basta ter medalhas

Em tempos de quarentena, acabamos observando mais o comportamento das pessoas fora do tatame. Algo que, diga-se de passagem, deveríamos fazer sempre. Assim como as pessoas também costumam mostrar um pouco mais sobre a rotina e falar sobre outras coisas, já que estamos em casa.

Conversando com um grupo de amigas que fazem jiu-jitsu também, pensamos sobre a tal da motivação que tantos atletas, professores e praticantes de jiu-jitsu falam em seus perfis. Mas se não tivermos cuidado, é bem fácil acabar ficando mal com um post ou fala que vêm disfarçados de motivação.

Admiramos muitos atletas, mas você já parou para pensar quantos deles são uma inspiração para as pessoas também fora do tatame? Não adianta colecionar medalhas e títulos, se a postura não condiz com isso. Até porque medalhas não dizem nada sobre caráter. Em uma entrevista para o podcast do Lael Rodrigues, o BJJBUMP, a Nika Schwinden, que é professora e atleta, falou sobre isso: “não é a medalha que define pessoas”.

A Andressa Cintra, que também é faixa preta, falou sobre isso em entrevista para o canal da Mayara Munhos, o Jiu-jitsu In Frames. Ela comentou que, mesmo depois de graduar, foi adquirindo uma postura de faixa preta (dentro e fora do tatame) com o tempo. Disse, ainda, que ser faixa preta dentro do tatame é fácil, mas que “temos que agir da maneira que aprendemos no jiu-jitsu na nossa vida. Era isso que eu queria trazer para a minha: ser uma faixa preta na vida, não só dentro do tatame.”

Atletas, professores e pessoas que influenciam outras no meio do jiu-jitsu também precisam ter responsabilidade e cuidado com o que estão falando. Além de medalhas, uma faixa preta também não é atestado de bom caráter e não te permite falar e fazer o que bem entender por conta de uma faixa amarrada na cintura. Você não consegue ter controle sobre o que as pessoas vão pensar ou fazer depois de ver um post seu, por exemplo, mas consegue escolher o que e como fala.

Portanto, é importante pensar como as suas palavras (e ações!) vão impactar as pessoas. Será que tem alguém passando por um momento difícil e posso falar isso de forma diferente, para que não influencie negativamente? Essa pergunta é fundamental de ser feita. Um ídolo se preocupa com as pessoas que se inspiram nele(a), busca sempre influenciar de forma positiva essas pessoas. O jiu-jitsu é um estilo de vida, quanto mais aproveitarmos a filosofia da arte suave para fazer o bem, melhor.

Qualquer frase de impacto que você copia e cola na legenda do instagram não é motivação. Provocar alguém inflando seu ego não é motivação. Motivar alguém é mostrar que aquela pessoa não precisa querer ser igual a você, mas sim que ela pode conquistar os objetivos sendo exatamente como ela é. É entender que cada pessoa é diferente, que cada mentalidade é de uma forma e que nem todo mundo pensa igual. É ser transparente e responsável com seu discurso, principalmente na rede social, que é um ambiente propício para despertar ansiedade e comparações.

Portanto, para ser ídolo não basta ter medalhas. Falta empatia e carinho com o próximo em muita gente, mas existe também muita gente de bem por aí que realmente motiva as pessoas. Que sejamos todos responsáveis com nossos discursos. E que todos entendam que faixa preta (ou qualquer outra faixa) não te dá o aval para pensar somente em você e esquecer da humildade. Motive o próximo não com qualquer frase copiada do Google, mas sendo você de verdade e nunca esquecendo que suas palavras e ações impactam a vida de muita gente.

Posts relacionados

competidora-de-jiu-jitsu (1)

A solidão da competidora de jiu-jitsu

O número de atletas mulheres em competições de jiu-jitsu mundo afora tem crescido consideravelmente. Porém, a verdade é que a grande maioria dessas atletas não