Recentemente conversando com algumas meninas sobre jiu-jitsu, me deparei em um assunto: desistência após uma frustração em competição. Não foi a primeira vez que me vi debatendo sobre isso, mas me fez refletir, e muito, o quanto isso pode ainda ser comum. Também de como isso reflete a dificuldade que algumas pessoas que entram no jiu-jitsu ainda têm em entender a filosofia da arte e do que talvez possa colaborar para que isso aconteça.
Logo que iniciamos no jiu-jitsu, nossas primeiras aulas retratam muito mais sobre fundamentos do que técnicas. Nesse primeiro contato, aprendemos sobre o funcionamento do jogo, hierarquias, regras básicas no tatame, até partirmos para o lado mais técnico, como o funcionamento e a diferença entre o jogo de guarda e passagem, por exemplo.
Porém, a filosofia da arte suave em si é algo que vai se consolidando com o tempo, que o jiu-jitsu vai nos ensinando a cada experiência dentro do tatame. Mesmo que ela nos seja apresentada, são nossas experiências que nos ensinam a compreendê-la e a fazer dela um estilo de vida para além do tatame. Além do mais, a maneira como compreendemos esses fundamentos também pode ser muito relativo à maneira como estamos acostumados, ou fomos ensinados, a encarar as situações pertinentes em nossa vida, como lidamos com nossas frustrações, por exemplo.
O jiu-jitsu passa a ser um massageador de ego. Se você não está acostumado a perder, ou não aceita que ninguém esteja por cima, você vai “apanhar” muito do seu ego. Dentro do tatame é aonde encaramos nossas fraquezas de perto, damos o nosso melhor e ainda assim por vezes parece não ser o suficiente. É aí que passamos a lidar com um conflito interno entre “estou dando o máximo de mim” e “eu não levo jeito pra isso”.
Ser finalizado(a), levar mais tempo para aprender algo do que um colega, conseguir ou não executar bem uma técnica, nada disso é objeto de comparação para determinar se você é melhor ou pior do que o outro, ou se leva ou não jeito pra isso. A verdade é que tudo isso se trata daquilo que já estamos mais do que habituados a ouvir: determinação. E isso não quer dizer apenas treinar muito ou treinar mais, também significa não desistir de tentar fazer algo que você não é bom, até que você seja.
Jiu-jitsu se trata de um crescimento pessoal e amadurecimento. Antes de competir, a primeira pergunta que você deve se fazer é: “Eu estou preparado(a)?”. Mas entenda que estar preparada não significa apenas ter um jogo forte, estar dando trabalho para todo mundo, estar executando bem as posições. Estar preparado é saber que uma luta não se trata apenas de você. A mesma garra e vontade que você tem de ganhar a luta, seu oponente também tem.
É preciso estar seguro(a), confiante e certo do que você está fazendo e que se você perdeu, foi porque o outro foi melhor do que você naquele momento. Eu sei, é difícil aceitar isso, inclusive há muitos professores ensinando essa negação por aí. Aceitar que o outro foi melhor que você não significa aceitar a derrota, mas sim tirar boas lições e inúmeros aprendizados da situação. Significa ganhar experiência, refletir nos erros e entender que perder faz parte, especialmente na primeira competição. Quem sabe aquele(a) oponente já tem muito mais experiência de campeonato do que você, por exemplo, quem sabe estava mais tranquilo(a), menos ansioso(a) e conseguiu se concentrar mais na luta.
Apenas aprenda com suas experiências. Nem sempre haverá uma justificativa, apenas a outra pessoa foi melhor, ou encaixou bem uma finalização, não era o seu dia. Enfim! Só não faça disso um motivo para desistir do jiu-jitsu, porque se você desistiu na primeira, talvez você realmente não estivesse preparado(a) para isso ainda, ou você entrou no jiu-jitsu pelos motivos errados e talvez essa seja a hora de analisar os seus conceitos e madurecer um pouco mais sobre os fundamentos dessa arte. Até mesmo porque não é desistindo que você vai conseguir ser melhor.
Antes de competir, perca o medo, não só o medo de lutar, mas o medo de perder. Trabalhe não apenas o seu corpo e o seu jogo, mas a sua mente. A caminhada é longa demais para você desistir na primeira dificuldade. Tente quantas vezes forem necessárias, mas desistir nunca deve ser uma opção.