Muitas pessoas me perguntam se eu já tive alguma lesão séria nesses 10 anos de jiu-jitsu, ou se já passei por alguma experiência que tenha me marcado de alguma forma. Já machuquei levemente as costelas e doía até para respirar, já fraturei o dedo mindinho, tive inchaços no tornozelo após algumas chaves. Mas nada disso se comparou à experiência de apagar durante o treino.
A palavra apagar, no jiu-jitsu, é geralmente utilizada quando a passagem de sangue/oxigenação ao cérebro é bloqueada, devido à constrição da artéria carótida. Em outras palavras, é quando o atleta desmaia, ocasionando um desligamento momentâneo dos sentidos, comum em golpes como o estrangulamento.
Os riscos para a saúde e integridade do atleta, só existem se essa interrupção for feita de forma longa e ininterrupta, o que não acontece em esportes que possuem as regras bem estabelecidas, e fiscalizadas.
A melhor maneira de lidar com o atleta que ocasionalmente “apagou” é colocá-lo deitado na posição horizontal, e assim que for restabelecido o fluxo sanguíneo ao cérebro, a respiração volta normalmente. Em campeonatos, vemos as pessoas balançarem as pernas do atleta, na tentativa de agilizar a sua recuperação, mas na prática isso não se faz tão necessário.
Como acontece?
É comum as pessoas associarem o “apagar” ao orgulho em não querer bater, ou se render a alguma posição. Porém isso não é uma regra, e pode não ser uma realidade em todas as faixas, eu diria.
Por duas vezes eu apaguei. A primeira eu era uma faixa branca, recém chegada na equipe, cheia de medos, e falsas certezas sobre o jiu-jitsu, como por exemplo, de que controlaria a respiração e nunca apagaria. E com essa ilusão, resisti a um estrangulamento, e ainda fui pra cima do adversário, achando estar defendendo certo. Sim, foi muito rápido. Eu ouvia todos ao meu redor, inclusive meu parceiro de treino gentilmente pedindo ajuda para me “socorrer”. Com a pegada ainda travada na gola, a respiração foi voltando, e ficou tudo bem.
Senti vontade de não voltar mais para os treinos, achei que aquele não era o meu lugar. No dia seguinte, quis ir treinar de novo, e decidi que iria seguir em frente. Ao mesmo tempo aprendi, ainda faixa branca, a bater logo, bater rápido, quantas vezes fossem necessárias, e recomeçaria em seguida. Passei um tempo distribuindo três tapinhas, antes mesmo do adversário encaixar o golpe, era engraçado rs…
A segunda vez foi mais recente, na faixa roxa, e também em um estrangulamento. Fiz meia guarda, meu parceiro de treino passou a guarda, pesou, subiu com joelho na barriga, encaixou o estrangulamento e colocou a testa no chão. Eu fugi o quadril (me achando super ágil), ajustando ainda mais o golpe, e apaguei. Desta vez demoraram alguns longos segundos até que ele percebesse que eu havia apagado, e naqueles segundos toda a minha vida passou pela minha mente, como em um filme acelerado, porém somente com os momentos ruins.
Quando voltei, só conseguia mexer os olhos, aos poucos a boca. Ele me ajudou, continuei os minutos que faltavam do rola mas, assim que sentei senti um enorme enjoo, uma dor aguda na cabeça, fiquei tonta, vendo o tatame embassado, suei frio. Não resisti, não tive orgulho, apenas não tive tempo, me defendi de maneira errada, só isso. Afinal, era um treino, e treinos trazem aprendizado. Fui pra casa intrigada, mas não pensei em largar os treinos nem por um minuto.
Por quantas vezes isso se reflete em nosso dia a dia. Somos cheios de certezas e impulsos, que nos trazem mais ansiedade e cobrança. Quantas vezes usamos as nossas técnicas ou habilidades na hora errada, e temos a certeza de estar no caminho certo? O jiu-jitsu é um esporte de doutrina, persistência, autocontrole, não adianta ter pressa, ameaçar os outros, ou procurar culpado quando as coisas fogem ao nosso controle. É assim na vida. Temos que assumir as responsabilidades, fazer valer os erros como aprendizado e continuar, respirando fundo, seguindo em frente, e desistir jamais.
E você, já apagou? Conte sua experiência pra gente.
Ossss! Até a próxima.
Clube de Vantagens BGM
Vinicius Martins Osteopatia
Pra galera do Rio de Janeiro: o Vinicius é osteopata e trata de atletas de ponta como Claudia do Val, Michele Oliveira, entre outros. Nossa parceria com ele concede 20% de desconto em qualquer atendimento. Corre lá pra marcar uma avaliação! >> @osteopatia_viniciusmartins