Treinar jiu-jitsu requer muita força de vontade, humildade e dedicação. Mas a complexidade da arte suave vai muito além da questão individual de quem pratica este esporte tão apaixonante. A coletividade tem um papel igualmente importante para o desenvolvimento de quem treina e galga os degraus do aprendizado desta arte marcial que é tão ligada a uma filosofia de vida. Para se aprender jiu-jitsu precisamos de companhias de treino. Colegas que, assim como nós, têm interesse no aprofundamento do conhecimento técnico e filosófico do jiu-jitsu.
Hoje gostaria de conversar com vocês sobre as companhias de treino. Um aspecto coletivo que nem sempre enfatizamos, mas que tem um papel fundamental no desenvolvimento individual dos praticantes da arte suave. Vamos falar sobre quando treinamos e machucamos quem treina conosco. Um assunto delicado, mas que precisa ser falado!
Em princípio, salvo haja algum problema de caráter, não há porque pensarmos que alguém irá machucar seus colegas de treino com intenção. Mas quem está em nosso meio, com certeza, deve conhecer algum caso assim. Ou ter ouvido falar de pessoas que machucam outras no tatame. Este tipo de situação é lamentável, inaceitável e nem merece ser discutida. Este tipo de pessoa merece ser banida do meio esportivo e do convívio diário dos demais.
Mas há também situações em se machuca sem a intenção. Um armlock mais forte, uma mão de vaca, um leglock, ou um movimento mais rápido em que não se para em tempo de evitar a lesão. São situações em que, mesmo que não exista dolo, existem as consequências de se machucar o(a) companheiro(a) de treinamento. E, creio eu, quem está causando a lesão se sente muito mal pelo prejuízo que está causando a outra pessoa.
As consequências de se machucar uma outra pessoa vão muito além da dor que causamos ou de perdermos alguém para treinarmos. Estamos, por vezes, tirando um(a) atleta da academia que seria uma mensalidade a mais no sustento do professor ou da professora. Naturalmente que estamos nos referindo a casos mais graves, mas estes também acontecem.
Para se evitar este tipo de coisa devemos nos atentar a algumas dicas práticas. Podemos, por exemplo, pensar no clássico estrangulamento do mata-leão. Por vezes, quando pegamos as costas, não encaixa-se o braço corretamente no pescoço e, mesmo assim, é possível finalizar com o braço por cima do rosto (tipo crossface). Esse tipo de posição é permitida, mas pode ser evitada, em especial nos treinamentos. Quando uma técnica não estiver 100% encaixada e puder finalizar “na grosseria”, é melhor que não termine. Devemos primar por uma técnica bem executada, em que não iremos causar nenhuma lesão ou prejuízo às pessoas.
Humildade é fundamental. Admitir que a técnica ainda não está 100% e que precisa evoluir para não usar de brutalidade, de grosserias e outros artefatos que impedem a evolução técnica, é um grande passo para melhorar o nível. Bom senso também é muito importante. Podemos estar com um crossface encaixado, mas saber pelo bom senso que não há necessidade de machucar para dizer ao seu ego “eu finalizei”. Parta para uma variação em vez de usar de força bruta. Aproveite a oportunidade para aprender e não para alimentar seu ego e vaidade.
Ninguém está afirmando que é fácil, nem que acidentes não irão acontecer. Mas acidentes, por definição, não podem ser evitados. Se podem ser evitados e acontecem entramos no fatalismo, que é uma consequência lógica de uma escolha de se fazer ou de não se fazer alguma coisa. Acidente é um pé que prende no quimono, é escorregar e sofrer uma torção, é cair fora do tatame e etc. Quando podemos evitar e não o fazemos, o chamado “acidente” é só uma questão de tempo e probabilidade.
Preserve quem treina com você, pois você depende das pessoas para seu desenvolvimento pessoal! Vamos aos treinos! Oss!
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