Fim do Ministério do Esporte: o jiu-jitsu será beneficiado?

Por Welington Silva* e David Torres

O candidato eleito à Presidência da República na última eleição, sinalizou o fim do Ministério dos Esportes. É uma medida anunciada desde seu programa de governo, na expectativa de diminuir gastos da administração pública, mas que afeta diretamente o esporte e programas sociais destinados a essa pauta, que já sofre cortes orçamentários há alguns anos.

Vale salientar que a comunidade esportiva, inclusive, uma grande parcela dos atletas do Jiu-Jitsu Brasileiro apoiaram e fizeram campanha para o candidato eleito, que desde sempre se mostrou desinteressado pela pasta. Mas, que diferença faz ter um ministério ou não para o esporte?

Numa matéria sobre o crescimento do quadro de medalhas olímpicas femininas na América Latina, podemos observar que houve um crescimento considerável da posição do Brasil de 1992 a 2014. A evolução desse quadro se dá por alguns fatores: uma razoável participação das mulheres nos postos de diretoria esportiva, e programas sociais que dão condições mínimas para que as atletas se dediquem exclusivamente aos treinamentos.

Podemos observar que o Judô feminino brasileiro, que se destaca nessa pesquisa, é beneficiado por várias políticas fomentadas pelo Ministério dos Esportes. O centro Pan-Americano de treinamento do Judô, no Município de Lauro de Freitas, na Bahia, é um dos exemplos.

Embora as diferenças salariais entre gênero ainda prevaleçam nos esportes, o que é um grande problema a ser superado com urgência, é inegável a contribuição das políticas sociais, fomentando o investimento público/privado nas atividades esportivas, de maneira geral.

Lembrando que as políticas públicas esportivas até antes da Constituição de 1988 tinham apenas caráter nacionalista e disciplinador. Dessas políticas sociais, posso citar o exemplo do Bolsa Atleta, que atinge desde atletas a nível base e estudantil até nível olímpico/paraolímpico e pódio.

Mesmo com todas essas ações realizadas através do Ministério e abertura do investimento privado, percebemos que nosso esporte, o Jiu-Jitsu, ainda não foi contemplado. Dessa forma, os atletas têm que correr atrás de várias formas alternativas para permanecer em suas atividades. Sem apoio das federações, que como já falei em outro texto, são instituições privadas que desenvolvem apenas eventos competitivos.

O fim do Ministério fará com que o esporte ganhe status de uma secretaria dentro do Ministério da Educação. Isso acarretará numa diminuição dos investimentos para a pasta, como também numa dificuldade de interlocução das pautas esportivas do nosso país, como relatou o atual ministro dos esportes numa entrevista para a Folha de São Paulo: “Já fui secretário [de 2016 a 2018, na Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social] e sei que não é a mesma coisa [que ser ministro]. A capacidade de interlocução é outra. [Ministro] fala com ministro, com o Presidente da República, não com secretários e diretores.”

Ou seja, todas as necessidades dos atletas, ou melhor, necessidades de políticas de fomentação ou desenvolvimento do esporte no país serão relegadas. Outro problema se encontra no ministério que estará incluído a pasta esportiva (o Ministério da Educação), tendo em vista que o Presidente eleito, quando deputado federal, votou a favor da PEC 95 que congela os gastos com a educação e saúde por 20 anos.

O esporte não é prioridade do novo Presidente, como sempre foi claro em sua trajetória política e não está incluído no seu plano de governo. Mesmo assim, foi perceptível o grande apoio que vários praticantes do BJJ deram ao candidato. Não sei se posso classificar como ingenuidade. O que me deixa curioso é o fato de que isso nunca foi escondido pelo mesmo. O que será de uma modalidade esportiva que sonha entrar no movimento olímpico num país onde o chefe do executivo não dá prioridade ao desporto?

UMA ANÁLISE GERAL

Esta eleição foi marcada, para dizer o mínimo, por muita polarização. Com Luiz Inácio “Lula” da Silva, encarcerado pelo “ato de ofício indeterminado”, exarado pelo juiz Sérgio Moro, os partidos políticos procuraram, por todos os meios, capitanear os votos potenciais do Lula.

Nessa verdadeira batalha, a tática mais eficiente foi a proliferação das chamadas “fake news” ou a tal da “pós-verdade”, esse substantivo que age via emoção e crença em detrimento dos fatos objetivos. Esse movimento foi tão forte e avassalador que fez ocorrer uma eleição presidencial sem que os principais postulantes do cargo público mais importante da nação, fossem confrontados pelo debate público das suas ideias.

Ao candidato vencedor foi dado, com a licença da palavra, um verdadeiro cheque em branco. Em nenhum momento do processo eleitoral o eleitor, ocupado em disseminar as informações dos seus candidatos preferidos, não se atentou para analisar os projetos desenvolvidos pelos seus candidatos caso eleito fosse.

Não por acaso, só para citar um exemplo no campo da cultura corporal, o atleta Wallace, que votou em Bolsonaro com o argumento de que o esporte, na gestão petista, não tinha sido valorizado, mostrou-se decepcionado ao saber que o presidente eleito iria extinguir o ministério extraordinário do esporte.

Se o atleta tivesse um pouco mais de cuidado com suas ações no campo da política, ele identificaria, facilmente, que dos treze candidatos que disputavam a eleição para presidir o país, Jair Bolsonaro era um dos que não tinha nenhuma proposta para essa dimensão tão importante da cultura brasileira. Ele até poderia manter a sua opção eleitoral, mas não com esse argumento tão falacioso.

Aliás, o próprio argumento inicial já soa falso, pois, verdade seja dita, o atleta da seleção brasileira de voleibol foi beneficiado em sua carreira na medida em que foi beneficiado pelo programa Faz Atleta, que foi criado pelo governo do presidente Lula. Infelizmente, com a extinção do Ministério do Esporte, outros atletas não terão as mesmas oportunidades.

*Welington Silva é formado em Educação Física, Doutor em Educação, Professor do Curso de Graduação: Licenciatura em Educação Física, Esporte e Lazer na Universidade Estadual de Feira de Santana. É autor do livro: Tecnologia, Educação Física e o Ensino do Esporte (Editora Appris, 2014).



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