O Jiu-Jítsu Feminino quebrando preconceitos
Muita gente tem vontade de começar a praticar um esporte, mas fica em dúvida no momento da escolha. Dentre tantas opções, as artes marciais são consideradas as mais completas, levando o praticante a obter benefícios físicos e psicológicos, através de conhecimentos milenares, vindos do oriente. Entre essas práticas, a arte suave ganha seu destaque, e vem conquistando muitos adeptos no Brasil.
A história do Jiu-Jitsu foi construída baseada nas inenarráveis histórias de homens corajosos, que utilizam esta arte como forma de testar seu potencial e com o intuito de provar que a arte suave era a melhor e mais eficiente entre todas as artes marciais. O Jiu-jitsu era realmente uma arte restrita ao público masculino, com pouquíssimas aberturas para as mulheres praticarem. No começo, as mulheres tinham que enfrentar a diferença de tratamento em relação aos homens. Nas competições, as lutas entre mulheres nem sequer eram realizadas no tatame principal. Outro assunto recorrente no esporte em geral é a diferença de premiação entre homens e mulheres no jiu-jitsu. Em muitas das competições, os prêmios entregues às mulheres são inferiores aos dos homens.
Esse preconceito obviamente equivocado e impensável nos dias de hoje infelizmente ainda existe, mas tem sido quebrado aos poucos, como são tantos outros direitos conquistados pelas mulheres dentro da nossa sociedade ainda machista, pela vontade e coragem das primeiras meninas que decidiram treinar e também participar das competições de Jiu-Jitsu.
Entre todas as mulheres que fizeram e fazem parte do sucesso no Jiu-Jítsu, três mulheres importantes, em cenários diferentes, Yvone Duarte – primeira mulher faixa preta, Kyra Gracie – primeira mulher faixa preta da família Gracie e Gabi Garcia – uma das melhores atletas da atualidade, fizeram e continuam fazendo com que o tabu do processo de reconhecimento e ascensão das mulheres nos tatames sejam quebrados.
Podemos utilizar como exemplo, Kyra Gracie, que apesar de fazer parte da família Gracie, não foi nada fácil para ela traçar seu caminho. Kyra foi a primeira mulher da família a participar de competições e precisou quebrar barreiras antes de chegar em sua glória.
“Eu comecei a treinar jiu-jítsu como uma brincadeira dentro de casa e, na minha família, eu nunca tive uma mulher como referência. As mulheres eram deixadas de lado, até porque era uma cultura da época, nós não tínhamos tanto espaço. Muitos disseram que era para eu deixar a luta com os homens, mas bati o pé e continuei. Depois que comecei a competir e a me destacar, eles deram o braço a torcer e passaram a me apoiar”.
Sua trajetória é um exemplo. Uma mulher forte e lutadora, muito além do sentido literal de ambos os adjetivos. Cheia de planos, a multicampeã e multitarefas (lutadora, empresária, comentarista, apresentadora e professora da arte suave) diz ter total consciência de sua missão.
Em uma situação de defesa pessoal, para uma mulher nocautear um homem é muito difícil. Mas com as técnicas de Jiu-Jitsu ela consegue se desvencilhar, usando o próprio peso e força do adversário contra ele mesmo. Os benefícios para as mulheres são enormes, começando pelo estético, pois trabalha todos os músculos do corpo, principalmente o abdômen, os ombros, os braços e o quadril, acelera a capacidade cardiovascular e respiratória, além de aumentar a flexibilidade. No trabalho mental, diminui o stress, a TPM, desinibe as tímidas e acalma as agitadas e ansiosas.
Em recente conversa com uma grande amiga| terapeuta ocupacional, Dra Lídia Barros, especialista em saúde mental, a mesma atesta o quanto este esporte pode contribuir para a autoestima feminina.
“Nada melhor do que um esporte que te põe em situações de vitórias e derrotas, respeito ao adversário e às regras. Por esses motivos, sou a favor e reforço a grande contribuição da arte suave para a saúde mental feminina. É um mito pensar que este esporte é exclusivamente para homens ou que nos torna menos femininas por sermos praticantes. Muito pelo contrário, nos deixa fortes e mais confiantes”.
O esporte procura promover desafios às mulheres ao inseri-las em situações vitoriosas e também aos reveses no âmbito esportivo, ao instigá-las a criar estratégias, a superar adversidades, a se comunicar com o grupo, a desenvolver coordenação motora, disciplina, autoconhecimento e tantos outros benefícios; é natural que, como consequência, o Jiu-Jitsu aumente a autoestima e a confiança das mulheres fora da academia, nas particularidades da vida familiar e social.
Elas usam maquiagem, pintam as unhas, se preocupam com os cabelos, e também, é claro, com os estudos, trabalho, família, filhos… São mulheres comuns, como outras quaisquer. A diferença? Usam quimono e têm o tatame como habitat natural.
No tatame, as mulheres começam a ganhar espaço como os homens e tentam vencer uma das principais batalhas, senão a principal, que é a luta contra o preconceito, tentando mostrar não somente a sociedade, mas principalmente para elas mesmas que possuem sim a capacidade de lutar de igual para igual.
É de suma importância que essas mulheres continuem lutando, literalmente, para que a igualdade seja finalmente alcançada. De olho nas próximas gerações, seria pertinente a criação de mais categorias e também de novos eventos. Para as lutadoras, esse suporte mais amplo pode fazer com que mais mulheres tenham a oportunidade de entrar no universo das lutas e assim como os exemplos supracitados, possam se tornar grandes campeãs dentro e fora do Tatame.