Jiu-jitsu Com Tato – levando a arte suave a deficientes visuais no Recife

Hoje vamos falar de mais um projeto social, o Jiu-Jitsu Com Tato, que leva a arte suave a deficientes visuais no Recife. Apesar de o Brasil ter uma certa representatividade nos Jogos Paralímpicos, a Associação Desportiva para Deficientes (ADD) estima que apenas 10% das pessoas com deficiência pratica um esporte adaptado. É difícil termos situações verdadeiramente inclusivas em diversos campos da sociedade e isso se reflete no esporte.

Danilo Cruz, faixa preta e professor do projeto, conheceu o jiu-jitsu através de seu professor de capoeira e começou a treinar há 12 anos. Antes de se mudar para Recife com a família, era monitor da Constrictor Team na filial da Universidade de Brasília (UnB) e foi lá onde tudo começou. Um aluno da equipe era cego e Danilo despertou o interesse em ajudar, entrar nesse ambiente e trabalhar com esse público.

Já no Recife, em março de 2016, o professor criou o Jiu-Jitsu Com Tato, que promove aulas gratuitas a deficientes visuais (cegos ou com baixa visão) no Instituto de Cegos Antônio Pessoa de Queiroz (IAPQ). O jiu-jitsu se encaixou muito bem para os alunos, já que é uma luta agarrada e que necessita bastante do tato. As aulas ocorrem normalmente, segundo o professor, como em qualquer outro treino, além de também ensinar algumas técnicas de judô. O diferencial é que a percepção deles ocorre através do tato e não da visão. “Eles ficam tateando para saber onde está minha mão, meu pé, como estou fazendo a pegada, para onde vou me movimentar. Depois faço a posição com cada um, para que eles sintam”, explica Danilo.

Cláudia e Marcelo - alunos
Cláudia e Marcelo, alunos do projeto

Dentre os benefícios que o jiu-jitsu trouxe para os alunos do projeto, estão aqueles que já conhecemos, como a disciplina, o bem-estar físico e mental e o alívio do estresse. Além disso, a arte suave também ajudou em questões como a melhor noção espacial e consciência corporal, aprender a cair (o que pode acontecer em situações do dia a dia deles), mobilidade e coordenação motora.

O projeto também ajudou o próprio professor, que hoje tem uma percepção de mundo diferente, graças ao esporte. Para ele, seus alunos são tão capazes como qualquer outro praticante de jiu-jitsu, só precisam de um pouco mais de cuidado e atenção. “Eles têm a desenvoltura igual a de todo mundo. Treiná-los me dá essa noção de que o mundo deles não é diferente do nosso”, ressalta. Para Danilo, a importância do projeto é justamente dar a oportunidade da iniciação esportiva aos deficientes visuais, num cenário em que o esporte adaptado ainda tem muito a crescer e melhorar.

As dificuldades

Como muitos projetos sociais, o Jiu-Jitsu Com Tato sofre com a falta de apoio financeiro. O tatame em que as aulas acontecem tem apenas 3×4 metros, que já é insuficiente para a quantidade atual de alunos e ainda mais para a demanda por mais turmas. Além disso, Danilo não tem uma remuneração e dá aulas em horário comercial, o que dificulta para conciliar com um emprego regular. Desde o início, eles buscaram apoio público e privado. O problema é que muita gente aplaude os projetos sociais, mas na hora de botar a mão na massa, ninguém ajuda. “A única coisa que eu escuto é que é um projeto maravilhoso, muito bonito, mas infelizmente não passa disso. ‘Ah, vamos ver o que posso fazer’. Mas nunca aparece nenhum incentivo, nenhum apoio”, desabafa o professor.

Por conta disso, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo para que os treinos no IAPQ não acabem e novos objetivos possam ser alcançados. Neste link, você pode ver detalhadamente tudo o que será feito com o dinheiro arrecadado, assim como mais informações sobre o projeto. Há vários valores para contribuição e alguns deles proporcionam como recompensa uma aula experimental. Qualquer pessoa fazer a aula, que tem como objetivo a inclusão social, levando também quem enxerga a perceber que todos são capazes de praticar o esporte.

Walter e Darim - alunos (2)
Walter e Darim, alunos do projeto

Para o futuro

O financiamento coletivo também visa a ampliação do projeto. Eles já tiveram reuniões com a Secretaria de Educação e mapearam as escolas públicas em que há deficientes visuais na região. A meta é ir em todas essas escolas e levar o esporte a cada vez mais pessoas. Caso consigam ultrapassar a meta de financiamento, também pretendem usar os recursos para inscrever alunos em campeonatos e botar piso tátil nas instalações do ginásio (onde as aulas acontecem), por exemplo.

A marca de kimonos Yamarashi dá descontos aos alunos e alguns atletas doam quimonos seminovos aos alunos. Porém, o desenvolvimento e a ampliação do projeto dependem do sucesso da campanha de financiamento, já que até agora eles não conseguiram apoio de nenhuma instituição.

Quer/pode ajudar? É só entrar em www.catarse.me/jiujitsucomtato e contribuir. Se não puder ajudar dessa forma, que seja compartilhando o projeto para que cada vez mais pessoas conheçam e contribuam. Abaixo, o vídeo da campanha de financiamento coletivo do Jiu-jitsu Com Tato.

 

Posts relacionados