Neste texto, vamos tratar da questão da diferença física entre homens e mulheres dentro do jiu-jitsu, sobretudo como uma forma de alerta para muitos homens que não se dão conta desta diferença na hora do treino, apesar delas serem bastante evidentes.
Antes de tudo é urgente deixar claro que a luta feminina pela igualdade de direitos em todos os âmbitos da sociedade (incluindo o tatame) jamais deve ser confundida com o desejo de querer ser igual aos homens, até porque, guardadas as devidas proporções e variáveis, há uma enorme diferença entre os gêneros, sobretudo no que tange à forma e força física, porém sem distinções na capacidade mental, ou seja, a mulher é mentalmente tão capaz quanto o homem, daí a importância da luta pela igualdade que jamais deve ser silenciada.
A mulher, tendo conhecimento de que tem menos força que o homem quase sempre busca se aprimorar na técnica. Se esta afirmativa não fosse verdadeira jamais veríamos turmas mistas em nenhuma academia. Então, quando a mulher se dedica verdadeiramente aos treinos ela coloca em prática a teoria de que a técnica refinada pode ser mais eficiente que a força e por esta razão vemos muitas mulheres conseguindo de equiparar ou impor o seu jogo junto ao colega de treino, ou seja, nada mais que o jiu-jitsu na sua essência!
Porém, esta não é uma regra geral, nem todas as mulheres conseguem lidar com a força desproporcional que às vezes beira a grosseria que muitos colegas de treino impõe, e não é raro que muitas praticantes de jiu-jitsu reclamem que o colega abusou da força durante o treino, finalizou na “brabeza”, machucou ou lesionou gravemente. Em casos assim, fica parecendo que o objetivo não é a troca de experiências e aprendizados, mas de qual força deve prevalecer.
Evitemos generalizar, até porque existem colegas de treino que sabem como tratar uma colega de treino, porém, aos que não entenderam ainda as diferenças, podemos enumerar alguns motivos que os levam a agirem como vilões no tatame: o preconceito e o machismo, estes itens que tanto se fazem presentes em nosso dia a dia e que estragam em demasia as nossas relações em todos os níveis, e neste caso entra fortemente a questão do ego que não admite que ele perca ou mesmo empate com uma mulher, piorando ainda mais se ela for menos graduada que ele; o egoísmo que leva tantos a terem dificuldade em dividir o conhecimento; a insegurança e o medo do que os outros vão pensar se ela se sobrepor a ele; ou, simplesmente, porque ele não sabe controlar a sua força, não tem noção de proporção física e não conhece o próprio corpo, não sabendo assim lidar com o corpo alheio.
A superação feminina para se autorrealizar como ser humano e estar em várias frentes, inclusive em esportes de contato, é permeada de fatores históricos de superação que já foram infinitamente debatidos em outros artigos, inclusive aqui no nosso site, o que deixa claro que dentro das turmas mistas do jiu-jitsu espalhadas pelo Brasil e pelo mundo essas questões ainda precisam ser mais bem trabalhadas, sobretudo no que toca ao esclarecimento dos próprios professores sobre o tema para que eles possam orientar os seus alunos.
Um dado importante é que não são poucas as mulheres que desistem da prática por conta desse tipo de situação nas academias. Na verdade, é mais comum do que se pensa. Uma prova disso é que as equipes formadas apenas por mulheres têm crescido em todo o mundo e se eles pensam que elas querem treinar só com meninas por causa do namorado, marido ou irmão ciumento, é importante que saibam que há mais um item nada nobre nesta lista: o medo de treinar com os homens.
É imprescindível deixar claro que respeitar as diferenças físicas não significa ter pena delas; que treino não é competição, embora se treine também para competir; que medir a força não é facilitar; que ser forte não deve ser confundido com agir com brutalidade; que a arte é suave e a força pode estar presente, mas é a técnica que deve prevalecer. É importante também tratar as mulheres como companheiras de treino e entender que elas não deixam de ser “elas” porque praticam jiu-jitsu.
No mais, torçamos por mais turmas mistas nas academias, afinal, o jiu-jitsu se transformou num um esporte conciliador e não deve manter uma meia dúzia de pessoas dispostas a transformá-lo em uma disputa de forças, egos ou gêneros, mas sim de formar pessoas melhores e capazes de lidar com as diferenças que tanto nos torna humanos. Nós somos diferentes, mas juntos somamos e juntos crescemos.