O lado avesso do jiu-jitsu: não siga estes exemplos

 

Muito se fala sobre como uma arte marcial ou arte de luta deve ser praticada, sobretudo quando se trata da dedicação, persistência, superação e manutenção da tão propagada humildade entre os que se aventuram pelos tatames, mas pouco se fala das aberrações que acontecem nas academias e que denigre em demasia a imagem desta modalidade que tanto amamos.

É preciso levar em conta que a prática de uma modalidade esportiva engloba dezenas de procedimentos, posturas e regras que são primordiais para o todo e que influenciam diretamente na qualidade e até no alcance dos objetivos dos praticantes. Neste artigo vamos tratar de situações que acontecem dentro das academias de jiu-jitsu do Brasil e do mundo. São questões que JAMAIS deveriam acontecer, mas que infelizmente acorrem com mais frequência do que gostaríamos. Vamos lá:

Menores de idade recebendo a faixa preta: a regra (da CBJJ) é clara, o aluno só recebe a faixa preta a partir dos 19 anos, mas graduar crianças é comum na academia do Sr. Klay Pittman (Texas) e apesar das críticas que ele recebeu de vários professores do mundo todo, a prática parece ter deixado devotos, pois já houve casos de graduação de menores à faixa preta aqui no Brasil. A pergunta que fica é: qual o propósito disto? Prefiro nem conjecturar demais, mas você já imaginou uma criança aplicando um leglock em outra criança?

Curso de jiu-jitsu e graduação online: é mais do que sabido que uma arte de luta requer a prática combinada com a teoria, fatores estes que são melhores adquiridos quando o aluno está na academia, comprometido com a equipe, com o horário de treino e com o professor para lhe orientar, mas não é isso que vendem as aulas online de jiu-jitsu de Rener e Rayron Gracie, uma vez que os mesmos inventaram o EAD do jiu-jitsu, uma iniciativa que parece ser um tiro na cabeça da old school do BJJ. Ora, mas eles são Gracie! Sim, são, mas nem por isso têm o direito de banalizar a arte desta forma, certo?

“Pular” a sequência de faixas: prática estranha, de gente apressada que não entende que regras foram feitas para organizar as coisas. É fato que alguns praticantes parecem ter nascido para o jiu-jitsu desde os primeiros dias de treino, que se mostram muito técnicos e dão trabalho para os mais graduados, mas nada disso justifica esse salto para faixas superiores, pois põe em xeque a credibilidade do próprio jiu-jitsu que, numa humilde opinião, está acima de qualquer super talento.

Rebaixar um aluno de faixa: há um tempo passado circulou nas redes sociais um caso de um aluno que teve a sua graduação rebaixada por um professor. Veja um exemplo aqui. Bem o que aprendemos de bate pronto numa academia é que nunca se deve rebaixar um aluno, mas lógico, levemos em conta que este aluno está em determinada graduação dentro do tempo limite e que a sua idade condiz com a faixa, ok! Estando ele dentro das regras, não há nada que justifique o rebaixamento da sua graduação, mesmo que ele esteja levando amasso dos menos graduados, pois é dever dele se empenhar mais para alcançar o nível dos demais e é obrigação do professor ajudá-lo nisso, independentemente do aluno ter ou não se mantido na mesma equipe após a graduação.

Auto graduação: já houve algumas situações com este conteúdo que circularam nas redes sociais e não cabe aqui enumerar todos os casos, mas cabe informar que a auto graduação já aconteceu tanto no Brasil quanto no exterior para faixas roxa, preta e até vermelha. Ratifico que este tipo de banalização da arte é inconcebível e, como todas as outras questões aqui abordadas, enfraquece a imagem do jiu-jitsu.

Comprar a graduação: não é de hoje que esta prática vem sendo exercida dentro do jiu-jitsu, tanto por parte de alunos que oferecem dinheiro para o professor com o objetivo de ser graduado, quanto de professor que oferece a graduação em troca de dinheiro. Não me refiro aqui às taxas de graduação cobradas por alguns professores dentro das academias, pois este valor geralmente é revertido para o próprio aluno ou para a academia, refiro-me a quem tira proveito da venda de graduação para ter uma renda extra ou, no caso do aluno, para usufruir do status que a faixa lhe proporciona, mesmo que ele não tenha o nível da mesma. Trata-se, na verdade, de um mercado negro das graduações e tem muita gente mal intencionada se beneficiando disso.

Graduação sem procedência: um exemplo de tentativa de ludibriar o professor é quando um aluno que vem de outra academia aparece com uma graduação que não é a mesma que ele tinha na academia anterior. A conduta correta é que o professor que está recebendo um aluno vindo de outra equipe exija o certificado de graduação, entre em contato com a antiga equipe dele e confirme a faixa que ele apresenta, e, principalmente, questione sobre qual o motivo que levou o aluno a sair da equipe. Medidas simples que podem evitar grandes problemas.

Aluno que sai da equipe sem aviso prévio: ora, estamos ou não numa família? Você sai da sua família sem avisar? Pois não é incomum no jiu-jitsu o aluno sair da equipe sem informar aos responsáveis. Alguns saem para formar as suas próprias equipes (geralmente faixas preta) e nem se dão ao trabalho de prestar contas com quem dedicou tempo, estudo e esforço para lhes ensinar. É importante entender que aqui não cabem mágoas, pois independentemente do grau de satisfação com a equipe ou com o professor é de bom tom informar a saída, seja para voos solos, seja para mudar de equipe.

Faixa vermelha aos 35 anos: em Recife (PE) aconteceram duas bizarrices vindas da mesma fonte, a primeira com o Sr. Ubiratan Cordeiro que se auto graduou faixa vermelha, e a segunda, anos depois, com o seu aluno Clayton Silva, que aos 35 anos recebeu das mãos do Sr. Ubiratan a faixa vermelha com o grau máximo (10º), que está restrito somente aos percussores do BJJ. Só para ratificar o tamanho dessa falta de respeito com o jiu-jitsu é sabido que se um aluno atinge a faixa preta aos 19 (idade mínima), ele só seria graduado à faixa vermelha 10º grau aos 67 anos. Tirem as suas conclusões, porque esta situação me finalizou.

Bem, há tantas outras situações avessas neste planeta chamado jiu-jitu que seria impossível enumerar todas. As mencionadas acima são as mais comuns e algumas deram muita repercussão nas redes sociais, outras acontecem todos os dias nas academias, mas nenhuma é passível de louvor.

Termino aqui com uma frase que traduz a essência do tema abordado, já que a Arte Suave deveria ser uma forma de sabedoria ligada à razão, mas que nas mãos de algumas pessoas se torna objeto de ladroagem.

“A sabedoria e a razão, falam; a ignorância ladra.” (Arturo Graf, 1848-1913).

Bons treinos!

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