E aí, galera.
Hoje o atleta da semana traz a Valeska Reis.
Ela é faixa preta da Equipe Nova União. Embora não pareça, a Valeska tem 38 anos, é mamãe da Gabi, especializada em Fisioterapia Desportiva e tem uma história bem bacana dentro dos tatames – mais uma daquelas de superação. Por isso, decidi escrever a entrevista de hoje de uma forma diferente, sem aquele formato de perguntas e respostas.
A Valeska deu início em sua vida nos tatames aos 14 anos de idade. Foi com uma amiga visitar uma academia em que o tatame era no terraço de uma casa, no então bairro em que moravam no RJ (Valqueire). No momento, era para ser apenas uma aulinha experimental, mas tornou-se uma grande paixão, que a levou ao seu primeiro campeonato com apenas três meses de treino. Era a Copa Pit Bull, em Teresópolis – RJ. Valeska não tinha adversária e então, seu mestre da época, Neury Gomes, casou uma luta com uma atleta faixa azul. O resultado foi mais que inesperado: ela finalizou sua adversária num arm lock voador com apenas 15 segundos de luta. A partir daí, já era! Um mês depois ela foi graduada faixa azul.
Ela permaneceu em sua primeira equipe até 1995, quando se mudou para a Nova União para treinar com o mestre Wendell Alexander. Os treinos eram no Mello Tênis Clube, bem longe de sua casa, mas lá se formava a primeira equipe feminina da Nova União.
E como todos que decidem trilhar o longo caminho da arte suave, a Valeska também passou perrengue: ela se dividia entre os estudos e treinos, pegava dois ônibus para ir e voltar e chegava em casa todos os dias à meia noite. Porém, mesmo assim estava em pé com sorriso no rosto para mais um longo dia. Seus pais a ajudavam com treinos e campeonatos, e seu amigo, Léo Santos, a deixava no ponto de ônibus todos os dias (amigos, o que seríamos sem eles? :D).
Um dia, sua carona do ponto de ônibus decidiu montar uma equipe no bairro em que ela morava e ela passou a treinar lá mesmo. Já na faculdade, ela continuava conciliando tudo: treinos, campeonatos, estudos e estágio – nessa época, ela conseguiu se sagrar nada mais nada menos do que Campeã Brasileira, Estadual e Mundial.
Depois de tantos feitos, ela foi graduada faixa roxa pelo mestre Léo Santos, deixando, assim, os campeonatos em segundo plano. Nessa época, ela precisava de horas de estágio e ainda tinha que carregar grande cobrança de seus pais. Se hoje já é difícil viver da renda que o jiu jitsu dá, imagine naquela época? Aí entra a pressão de ter que decidir o que fazer. Valeska conta:
“Senti meu coração tocado pela primeira vez em relação a isso, ele vibrava tatame e competições”.
Depois de um certo tempo, Léo Santos entregou o comando da turma de sua equipe para o mestre André Bastos e os dois a graduaram em conjunto no ano de 2005 à faixa marrom.
Um ano depois, ela conheceu o pai de sua filha, que bagunçou tudo, rs. Ela começou a se afastar dos tatames e quando percebeu, seus kimonos estavam lá, guardados. Todos os seus amigos imploravam que ela voltasse e ela não voltava simplesmente porque seu então companheiro não a apoiava e tinha aquela tão retrograda visão machista.
“Sem vergonha de dizer, eu acatei isso e o coração chorava de saudade ao mesmo tempo”.
Para tentar esquecer a arte suave, ela se apegou ao trabalho, se especializando em Fisioterapia Desportiva. Mas é difícil, né? E, em 2011, ela tentou voltar de onde parou, porém acabou ficando grávida e mais uma vez, teve que se afastar dos tatames.
Mais uma renúncia, agora por um motivo maior, mas dessa vez ela conta que foi diferente.
“A maternidade era algo desejado por mim e foi o tempo certo para que surgisse uma filial da Nova União no atual bairro onde eu morava, o Recreio dos Bandeirantes”.
Nada na vida é por acaso e com sua filhota nascida, veio o recomeço. Ela voltou! \o/ E ia revezando seus dias entre trabalho, maternidade e treinos. Todo mundo sabia que não era fácil, mas quem nasce guerreira, não consegue nunca deixar isso de lado.
A Valeska contou que muitas vezes pensou em desistir, pois continuava sem apoio nenhum dentro de casa e agora tinha uma filha, que era sua prioridade. Ela conseguiu ajeitar dentro de si a cobrança de competição e passou a usar o jiu como uma válvula de escape.
Em 2014, ela recebeu sua faixa preta, que simbolizou o seu recomeço, das mãos dos mestres Oswaldo, Léo Santos e André Bastos. Ela conta que foi uma sensação única.
“Uma sensação indescritível, emoção única, o começo de uma realização pessoal dentro da vida e do esporte”.
O tempo foi passando e uma equipe muito forte de competidores vinha se formando dentro da Nova União. Com isso, ela passou a se sentir naquele clima de competição novamente, mas decidia dentro de si que ela deveria ser melhor do que já havia sido antes.
Nessa época, separou-se do seu ex marido e junto com isso, ela sentiu grande responsabilidade financeira dentro de casa e ao mesmo tempo, percebeu que sua presença física perante sua filha deveria aumentar. O que ela fez? Converteu toda essa responsabilidade em combustível para continuar e decidiu se desafiar.
“Mesmo depois de tanto caminhar e tropeçar, de quase desistir, esses mesmos pés cansados de fugir do sonho, me levaram de volta a minha eterna paixão e me mostraram que os tropeços servem de mola para o sucesso”.
Agora a então faixa preta master da Nova União tornou-se, neste ano, Campeã Brasileira CBJJ e Campeã do Internacional Master CBJJ. E o sonho não acabou! É só o (re)começo.
E nós estamos aqui, torcendo por essa mulher de garra se destacar cada vez mais como profissional, lutadora, mãe e principalmente, mulher <3.
“Viva pelos seus objetivos, seus sonhos, vá além de onde seus pés alcançarem”.
Fica a lição para quem vive de desculpas! Bons treinos, galera.