No post de hoje, falaremos sobre os danos da redução irresponsável de peso antes das competições. Confira!
A chegada de Mitsuo Maeda ao Brasil condicionou uma revolução esportiva que se desenvolve continuamente. Se observarmos a importância deste acontecimento relacionando com o movimento da nossa sociedade, surgirá fenômenos de relevância e de necessidade reflexiva. O que antes era uma arte se transformou em outra, antes Judô/Jujútsu e com a aproximação dos patriarcas Carlos e Hélio nasce o Brazilian Jiu-Jitsu, ou Jiu-Jitsu brasileiro.
Talvez muitos já se aproximaram destas histórias em suas academias ou em leituras em nossa página ou em outras que discutem sobre o nosso querido Jiu-Jitsu. Quero através desta curta genealogia fazer com que o leitor acompanhe o raciocínio que o que foi em um momento uma expressão de luta (defesa pessoal), foi se alterando e tomando suas proporções devido a necessidade de quem a apresentava, ou, para uma melhor participação do público.
Logo o Jiu-Jitsu alcançou sua esportivização, e com isso, os atletas poderiam testar suas habilidades físicas, técnicas/táticas e psicológicas, com o objetivo de vencer seus adversários. Se este é o fundamento das competições, os atletas tendem a buscar o máximo sua meta, ao ponto de, para alcançar estes objetivos utilizar de estratégias que variam a estímulos internos e externos. Podemos citar o dopping como a utilização de artifícios que alterem a capacidade fisiológica do atleta, para que ele alcance um melhor resultado. Formas que trazem consequências danosas a saúde.
Como proposto no título do texto, vamos discorrer sobre outra maneira que os atletas amadores e profissionais utilizam para alcançar seus objetivos e que também trazem consequências danosas a saúde, a perda de peso antes das competições. Sabemos que no Jiu-Jitsu competitivo as categorias são divididas entre peso e idade, e muitos dos competidores acreditam que reduzir o peso resultará numa melhor performance, percebendo que ele será o mais pesado e mais forte da categoria.
Apresentaremos dados científicos sobre.
Muitos pesquisadores desenvolvem seus trabalhos na perspectiva do desempenho esportivo, entre estes, a discussão sobre a hidratação do atleta apresenta dados relevantes, entendendo que desidratar seja a primeira tática para a redução de números na balança, apresento exemplos a serem levados em consideração:
“…perda de líquidos corporais por meio da realização de exercícios em um ambiente quente ou vestindo roupas de borracha / plástico. Outros dois recursos também muito utilizados são os diuréticos e os laxantes, que podem ocasionar problemas renais e irritação da mucosa intestinal, respectivamente.” (NEVES, 1996 APUD FRANCHINI, 2001).
“…a desidratação pode trazer consequências desagradáveis para esse indivíduo, entre elas a diminuição da força muscular, o aumento do risco de cãibras e a hipertermia e, consequentemente, a queda no desempenho.” (CASA et al APUD GUERRA, 2004).
“…Entre suas funções mais importantes, a água provê o transporte e a liberação entre diferentes tecidos corporais (WILMORE E COSTILL, 2007 APUD NIEHUES, H 2011), mantêm a temperatura interna constante, utilizando-se de mecanismos termorreguladores de produção e dissipação de calor (MAHAN E ESCOTT-STUMP, 2005; MORAIS ET AL. 2007 APUD NIEHUES, H 2011) e mantém a pressão arterial para uma função cardiovascular adequada.” (WILMORE E COSTILL, 2007 APUD NIEHUES, H 2011).
Nos dados apresentados acima podemos observar o quanto se faz importante a hidratação nos processos de contração muscular, termoregulação, pressão arterial e geração de energia, reduzindo riscos de lesões e problemas em órgãos e tecidos. Se tratando de competições de Jiu-Jitsu, não há um tempo para que seja feita a hidratação adequada de quem passou horas em restrição de líquidos, e também provocando a sudorese para eliminá-lo. Entendendo que a pesagem é no mesmo dia da competição, esta prática traz diversos riscos à saúde do atleta.
A literatura também alerta para os processos de perda de peso através de dieta.
“…a redução de massa pode ser uma estratégia aceitável quando empregada de forma adequada (a perda não deve ser maior do que 1Kg por semana em atletas “médios” e de 2,5Kg por semana em atletas de elite). No entanto, os relatos e experiências no trazem casos onde na maioria das vezes, a estratégia é aplicada praticamente às vésperas da competição (uma ou duas semanas antes da competição, até a véspera da mesma), podendo ser extremamente prejudicial tanto para a performance como que para a saúde do atleta também.” (ZATSIORSKY, 1999 APUD Ide, 2004)
“…em estudos sobre as enzimas musculares, observou que em judocas, a redução da ingestão calórica, associada aos intensos exercícios de treinamento antes da competição principal, ocasionou também prejuízos à potência anaeróbia e elevação da concentração sanguínea da enzima creatina kinase. Tal fato levaria também ao enfraquecimento das funções musculares e a um aumento da suscetibilidade do tecido muscular às lesões.” (TAKASHI U. et al, 2004 APUD Ide, 2004). “
…Quando a redução é realizada de forma brusca, geralmente ocorre:
a) Redução de força muscular.
b) Declínio no tempo de desempenho.
c) Menor volume plasmático e sanguíneo.
d) Redução na eficiência do miocárdio.
e) Diminuição do consumo máximo de oxigênio (especialmente com restrição calórica).
f) Enfraquecimento do processo termorregulador.
g) Diminuição do fluido de sangue renal e no volume de líquidos sendo filtrados pelo rim.
h) Depleção dos estoques de glicogênio no fígado.
i) Aumento no total de eletrólitos sendo perdidos pelo corpo. Caracterizando-se como uma estratégia extremamente desvantajosa tanto para a performance, como que para a saúde dos atletas também.”
(SOUZA, 1989 APUD FRANCHINI, 2001).
Em resumo aos exemplos citados, podemos observar uma gama de prejuízos ao desempenho do atleta, que em sua grande maioria possui um desconhecimento a respeito de algumas leis do treinamento esportivo. Há a preocupação em alertar para processos bruscos de redução calórica e também liquida, que o afeta fisiologicamente.
Os resultados em competições estão atrelados ao desempenho técnico/tático, psicológico e preparo físico do atleta, não esquecendo de como foi a preparação para este dia, se dormiu ou não, questões de logística e permanência no ginásio ou como se deu sua nutrição.
Se dentro de sua categoria o resultado positivo ainda não ocorreu, deve-se observar dentro do treinamento/preparação se está sendo respeitada as leis do treinamento esportivo, que se baseiam na individualidade biológica, adaptação, sobrecarga, continuidade e interdependência (volume/intensidade). Ou ainda em como está sendo periodizado seu treino. Claro que não podemos esquecer dos períodos de repouso (compensação), de suma importância para a recuperação dos tecidos e sistemas.
Outro fator a ser observado é se o atleta é trabalhador ou competidor, entendendo estes dois como realidades particulares. Um tem uma disponibilidade de treino maior, o outro divide seus horários de folga do trabalho com o treino.
Podemos também alertar se vale mesmo submeter sua saúde a processos extremos para se alcançar um objetivo em uma atividade que não determina seu “sustento”, pois, vivemos no mundo do trabalho e cada vez mais somos obrigados a nos manter fisicamente íntegros.
Oss!
FRANCHINI, E. ; Nakamura, F.Y. ; Takito, M.Y. ; Kiss, M.A.P.D.M. . Efeito do tipo de recuperação após uma luta de judô sobre o lactato sangüíneo e sobre o desempenho anaeróbio.. Corpoconsciência, Brasil, n. 7, p. 23-39, 2001.
GUERRA, Isabela. Importância Da Alimentação E Da Hidratação Do Atleta, R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 12, n. 2, p. 159-173, 2004.
IDE, B. N. . Considerações sobre a redução da massa corporal antes das competições nas modalidades desportivas de luta.. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires) , http//:www.efdeportes.com, v. 10, n.75, p. 1-1, 2004.
NIEHUES, H. ; REIS FILHO, A. D. ; LODI, D. . Importância da hidratação na melhora da performance de jogadores de futebol. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires) , v. 152, p. 1-1, 2011.
TUBINO, Manoel José Gomes. Metodologia Científica do treinamento desportivo. – São Paulo: Ibrasa,1985.