Atleta Trans nas Olimpíadas? Entenda a polêmica envolvendo a atleta Imane Khelif

Semana passada a atleta Imane Khelif, de 25 anos, atraiu os holofotes logo em seu primeiro combate, quando venceu a italiana Angela Carini em apenas 46 segundos. A atleta italiana jogou a toalha alegando dores intensas no nariz.

A partir daí uma polêmica absurda se instaurou ao redor do caso, com diversos veículos propagando notícias sensacionalistas a respeito de uma suposta transexualidade da atleta argelina.

A grave afirmação incitou discursos de ódio ao redor do mundo, tratando a atleta quase como uma aberração que estava tentando tirar proveito ao competir em uma categoria feminina.

Apesar dos protestos de celebridades e políticos anti-trans, o Comitê Olímpico Internacional confirmou que Imane Khelif está qualificada para competir no boxe feminino nas Olimpíadas de Paris.

Mas afinal, a atleta é transgênero?

Não. A atleta Imane Khelif não é transgênero, e tampouco é intersexo conforme foi noticiado.

Imane Khelif é uma atleta argelina nascida mulher, criada como mulher em um país que, inclusive, é totalmente proibido ser transexual. 

Além disso, também não existem provas de que a mesma possua um nível de testosterona acima do normal. 

As notícias em torno da taxa hormonal da atleta surgiram do fato de que em 2023 a atleta foi reprovada no teste de qualificação de gênero da International Boxing Association, o que a impediu de competir na categoria feminina do campeonato mundial de boxe.

Após a comoção negativa sobre a vitória de Imane semana passada, a IBA manteve sua decisão de desqualificar a boxeadora por dois testes “confiáveis” e “independentes”, embora não tenha divulgado quais eram os testes.

O fato é que, não existem provas dessas alterações hormonais ou da presença do cromossomo Y em seu DNA. A International Boxing Association manteve privada a informação referente ao tipo de teste que foi realizado, tornando impossível saber qual critério foi utilizado para reprová-la.

Uma consideração importante é que a International Boxing Association foi destituída do cargo de órgão regulador global do boxe em junho do ano passado pelo COI, que administra o esporte em Paris, por acusações envolvendo manipulação de resultados e corrupção

A IBA, cujo presidente é Umar Kremlev da Rússia e é um associado do presidente Vladimir Putin, alegou que a lutadora falhou em testes de elegibilidade não especificados. A decisão veio logo após Imane vencer a boxeadora russa Azalia Amineva, que estava invicta anteriormente.

Outro fato curioso é que, nas olimpíadas de Tóquio, Imane não só competiu como perdeu para outras mulheres. E até a reprovação da IBA, jamais haviam sido noticiados problemas ou reclamações envolvendo a suposta vantagem física da atleta em relação às outras atletas.

Diversos nomes relevantes como o ex-presidente Donald Trump, Elon Musk e J.K Rowling também compartilharam suas opiniões se posicionando contra o direito de Imane de competir com outras mulheres.

Aqui no Brasil, o caso tomou conta das redes sociais com um compartilhamento absurdo de fake news destilando ódio contra a atleta.

“Envio uma mensagem a todas as pessoas do mundo para defenderem os princípios olímpicos. Para se absterem de intimidar os atletas, porque isso tem efeitos, efeitos enormes. Isso pode destruir pessoas, pode matar os pensamentos, o espírito e a mente das pessoas. Isso pode dividir as pessoas. E por causa disso, peço-lhes que evitem esse assédio moral”, disse a atleta a respeito da situação.

Transexualidade e as competições esportivas

É um fato que o caso de Imane trouxe luz a um tema sensível e pouco debatido até então: a possibilidade de um atleta trans competir na categoria do sexo ao qual se identifica.

É um fato também que existem diferenças físicas que não podem nem devem ser ignoradas. Corpos masculinos possuem vantagens físicas como força, velocidade e resistência superiores a corpos femininos e quanto a isso não existe discussão. 

O fato trouxe à tona a necessidade da criação de categorias específicas nas quais atletas trans tenham o direito de competir de forma igualitária.

Além disso, o caso de Imane trouxe à tona também o debate em torno do que é socialmente considerado ser “uma mulher”. 

Até que ponto ser mulher não passa de um conjunto de características – físicas e comportamentais – vendida como um modelo único a ser aceito na sociedade?

Quando pensaríamos que, em pleno 2024, uma mulher que não cabe nesse modelo de feminilidade poderia ser vítima de uma verdadeira caça às bruxas, simplesmente por ser quem é?

Até quando vamos nos portar como seres julgadores, preconceituosos e covardes que parecem ter saído diretamente da Idade Média, atirando pedras em pessoas cujas vidas não sabemos nada?

Fica a reflexão.

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