Atleta da Semana: Ana Paula dos Santos

O jiu-jitsu pode até entrar na nossa vida por acaso, mas não é por acaso que ele fica. Conheça a historia da Ana Paula dos Santos. Cheia de força e determinação, ela já começa com um conselho: “Não desistam dos seus sonhos pois são eles que te movem a seguir”.

A Paulinha, como é conhecida pelos amigos, é mãe, atleta, e a professora responsável pela sua equipe. Atualmente faixa roxa, com 32 anos, e dois filhos, ela trouxe sua linda experiência de vida para os tatames, e é inspiração pra muita gente.

Início da jornada

“O jiu-jitsu entrou na minha vida aos 27 anos, quando decidi terminar um casamento conturbado, e pesando 91kg. Eu nunca gostei muito de musculação, tentei fazer um funcional, mas enjoei logo. Como na minha cidade não tinha aulas de jiu-jitsu, procurei na internet, e conheci meu mestre no facebook. No primeiro momento minha intenção era o muay thai, ele me chamou para uma aula experimental de jiu-jitsu, e estou até hoje.”

As dificuldades vieram, e mesmo assim ela conseguiu dar um jeito de treinar. “A academia ficava a 45km da minha cidade, e eu não estava podendo gastar muito dinheiro, mas consegui uma carona para ir às aulas”.

A gente gosta de lembrar a importância das mulheres no tatame, e com a Paulinha aconteceu assim: “Fui para minha primeira aula, e eu estranhei muito pois não tinha meninas na academia, só meninos, mas fui. Acho que a primeira aula é muito assustadora, mas todos me receberam muito bem, e eu comecei a treinar na minha folga, toda segunda- feira às 7h da manhã.”

Para treinar, Paulinha precisou organizar seu tempo com o trabalho, e os cuidados com os filhos.

“Era puxado pra mim, eu não tinha muito tempo e quase não via meus filhos, acordava às 6h da manhã, trabalhava das 7h30 até às 17h. E para ir treinar pegava o ônibus às 17h50. Chegava só 00h30, e muitas vezes eu buscava eles dormindo, na casa da minha tia e da minha madrasta.”

Com dois meses de treino, Paulinha foi convidada a treinar no projeto no qual seu professor dava aulas, e assim não precisaria mais pagar a mensalidade. “Fui adaptando, troquei meu horário no trabalho, conversei na minha cidade, e eles deixaram eu vir no ônibus junto com os estudantes”.

Com quatro meses de treino ela foi convidada pelo mestre pra ir no seu primeiro campeonato no Rio de Janeiro, o que a deixou muito feliz. “Ele pagou minha inscrição, mas eu precisava do dinheiro pra alimentação, a passagem, e a hospedagem. Ele me ensinou a pedir os patrocínios, e foi a coisa mais difícil do mundo pra mim, mas deu certo”.

Dificuldades e desafios pelo caminho

“Descobri um enorme preconceito com as mulheres que praticam artes marciais, ninguém acreditava quando eu chegava pra pedir patrocínio, mulher, e ainda faixa branca, eles negavam mesmo, diziam que isso era só fogo de palha”, conta.

Ela não desistiu, insistiu e começou a vender as partes do seu kimono pra colocar o nome das empresas, por achar que seria mais fácil. “Quando chegou a semana do campeonato, eu tinha conseguido quase 4x o valor necessário. Só tinha um probleminha, precisava colocar o nome de todos os patrocinadores no kimono. E assim meu kimono ficou parecendo um abadá de carnaval (risos).”

“Foi bem gratificante. Eu nunca tinha saído do interior, e de repente eu estava no Rio de janeiro, competindo um mundial no meio de um monte de gente. Participei com e sem kimono, e fiquei em primeiro e terceiro lugar. Foi maravilhoso! Aquele campeonato foi esplêndido pra mim. Foi a minha primeira medalha, e foi onde ganhei meu primeiro kimono. Pois eu treinava e lutava com kimono emprestado de um amigo.”

Campeonatos e novos desafios

De lá pra cá Paulinha já ganhou vários outros campeonatos. “Tenho dois mundiais, dois panamericanos, uma copa do mundo, um brasileiro, e fiquei em terceiro no internacional de Abu Dhabi. Eu me meti na luta greco Romana também. Disputei uma etapa paulista, e fiquei em segundo lugar”.

Nem só de medalhas vive um atleta, não é mesmo? Paulinha já passou por momentos difíceis também:

“Já me machuquei muito. Torci o pé, já quebrei dente, tirei a clavícula do lugar, torci o joelho, mas nada disso me fez parar, e em momento nenhum eu pensei em desistir do jiu-jitsu. Mesmo depois de perder o meu trabalho, pois eu queria competir, mas eles não aceitavam horas extras”.

Ela começou a ajudar nas aulas de jiu-jitsu e entrou também para o muay thai, graduando depois e podendo também dar aulas. “Foi onde eu apostei pra começar a ganhar um dinheiro, já que na minha cidade não tinha mulheres dando aulas. Desde de então, há mais de um ano estou no comando da equipe, já levei alunos pra campeonato, e fomos destaque.”

E isso fez diferença com o público feminino: “Hoje com a minha presença vejo as meninas mais à vontade para treinar. No começo foi muito difícil, até mostrar o meu potencial. Uma mulher faixa roxa dando aulas?! Eu provei, e venho provando a todos, que sou capaz. Venho me aprimorando a cada dia. E mesmo a distância, recebo apoio do meu mestre sempre”

Paulinha conta que não recebeu apoio unânime na família, mas que isso nunca a desanimou. “O que importa mesmo é que eu descobri, mesmo que tarde, um sentido pra minha vida, algo que eu realmente gosto de fazer”.

E uma das suas maiores motivações é seu filho: “Hoje meu filho de sete anos já é campeão mundial, brasileiro, e regionais. Isso me motiva cada vez mais a continuar”.

Aqui vai um agradecimento especial:

“Eu que queria muito agradecer ao meu mestre Chaviel Chagas, multicampeão em várias modalidades, e 11 vezes campeão mundial, ele vem dando oportunidade e suporte para os alunos, e investindo neles, ele poderia seguir sozinho, e não o fez. Obrigada mestre, por sempre acreditar em mim, e por sempre me encorajar a fazer o meu melhor. Ele acreditou em uma menina que era balconista de supermercado, mas que tinha muita vontade de vencer na vida, e viu no jiu-jitsu essa oportunidade.

Ano passado, meu mestre recebeu uma proposta de ir para o EUA. E mesmo a equipe tendo vários faixas pretas, nenhum poderia se responsabilizar para assumir a equipe, e eu assumi a equipe inteira de jiu-jitsu, e muai thai.

Eu disse a ele, que poderia confiar em mim, que eu ia dar o meu melhor para que nossa equipe não morresse. E assim, sigo firme, e pretendo continuar todos os dias da minha vida”.

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