Reabertura das academias durante a pandemia

O chefe do Executivo assinou ontem o decreto 10.344/2020 incluindo academias, salões de beleza e barbearias como serviços essenciais, afrouxando ainda mais as medidas de isolamento diante da pandemia de coronavírus, que já deixa mais de 12 mil mortes no Brasil. Segundo o mesmo, a medida visa “salvar” os empregos dos profissionais da área. Medida tomada curiosamente, pois até o Ministro da Saúde não tinha conhecimento do fato. Essa decisão ainda depende da aceitação dos governadores e prefeitos.

As medidas de isolamento social foram tomadas para reduzir a intensidade das infecções. As ações individuais de higienização não são suficientes quando o problema atinge patamares maiores. Em vários países do mundo foram imprescindíveis tais medidas na redução do avanço e combate do Covid-19. Mas, para o presidente, que já chegou a dizer “e daí?” quando interpelado por jornalistas a respeito do grande número de vítimas da doença, voltar as atividades parece ser a melhor opção.

Os profissionais que trabalham em academias, em especial, professores de artes marciais já carregam alguns problemas referentes a condições de trabalho. Não somos reconhecidos através das legislações como profissionais (profissão regulada) e na grande maioria dos contratos nestes espaços o que acontece são os acordos de partilha de porcentagem de mensalidades. O que trouxe para a categoria, e de surpresa, um grande impacto financeiro. Por causa disso, algumas campanhas nas redes sociais vem estimulando os alunos a manter as mensalidades ou parte delas em dia.

Entretanto, algumas cidades do país aumentaram seus números de contágio por conta do afrouxamento das medidas de contenção. Mais pessoas circulando nas ruas, mais risco e contaminação. O que poderá acarretar num grande problema de saúde pública, pois não teremos leitos suficientes para atender ao crescimento do número de pessoas doentes, e até então nenhuma vacina foi desenvolvida para combater o vírus.

Por que não se pensar em medidas de garantia da permanência desses profissionais em segurança? Sem ameaçar a saúde, como auxílios emergenciais, criação de programas de garantia do emprego. Medidas que já foram tomadas por nossos vizinhos argentinos e em outros países. Não podemos esquecer que grande parte dos atletas e professores apoiaram a eleição do presidente, que já até ganhou faixa preta. Direito à saúde e ao trabalho é garantia constitucional. Destinação de verbas não parece um problema no atual governo, 1,2 trilhões já foram liberados para as instituições financeiras.

Devemos pensar sim em medidas para ajudar a todos. Desde que não se ponha em risco a integridade física de ninguém. Me parece muito irresponsável no meio de uma pandemia tomar medidas que vão contra as recomendações de especialistas e entidades reguladoras da saúde no mundo. Já foi comentado pelo infectologista André Bom, do Hospital de Brasília, que academias são locais muito ruins no momento, por serem fechados e pelo intenso contato de várias pessoas com as mãos em objetos ou aparelhos. No nosso caso o contato é ainda maior.

Se nos contagiarmos ou alguns alunos, quem será responsabilizado? Quem assumirá a culpa se ocorrer um óbito? Quem dará suporte às famílias das vítimas? Vale a pena ariscar a vida?

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