Há uns dias atrás, fiz um post sobre a trajetória das mulheres nas artes marciais, sobre as dificuldades enfrentadas e também sobre os fatores que contribuíram para a divisão de gênero em algumas atividades físicas. No post de hoje vou pontuar as razões que estão mudando este cenário. Confira:
A moda fitness que vivenciamos desde meados da década de 90 busca novas formas e métodos para oferecer a perda de peso e o corpo perfeito, todos os dias. Não demorou muito para prestar um olhar especial nas artes marciais, em especial o Jiu-Jitsu.
Programas de TV, revistas ou uma simples conversa com um amigo(a) praticante já é o suficiente para atender os anseios de quem procura bem estar e medidas a menos. É fácil constatar a eficiência do Jiu-Jitsu no processo de perda de peso, ganho de massa muscular, fortalecimento da região do quadril, entre outros. Os benefícios estéticos proporcionados pela arte suave seduziram de certa forma o público feminino que pode agregar benefícios físicos a uma prática de defesa pessoal.
No Brasil, os números apontam para um crescimento da violência contra a mulher. Mesmo diante de avanços e conquistas das mesmas no âmbito jurídico, como a Lei Maria da Penha e a recente criação da Lei do Feminicídio. Sabemos que o Jiu-Jitsu não vai mudar o cenário ou acabar com estes episódios, porém, os princípios filosóficos associados à prática constante permite ao praticante adquirir autoconfiança, autocontrole e a consciência e determinação para saber lidar com situações adversas.
A preservação da vida, para estes casos de violência, poderia ter um desfecho diferente, e algumas mulheres procuram academias com este propósito. Saber agir diante de um possível perigo à integridade física/mental.
As redes sociais tem um potencial aproximativo no tocante a ídolos e fãs. Esta ferramenta de utilização universal apresenta o cotidiano de pessoas que, até um tempo atrás, só poderíamos acompanhar em competições ou eventos, ou através de revistas.
As publicações de atletas sobre treinos, dietas e rotinas extras tatame, faz com que praticantes e aspirantes se identifiquem e até aprendam novas técnicas e posições. As pioneiras do Jiu-Jitsu como Kyra Gracie, Mackenzie Dern e Gabriela “Gabi” Garcia, estas em especial, pois apresentam um numero muito grande de seguidores, quebram o estereótipo de que “lutadora de Jiu-Jitsu é masculinizada”, desconstruindo assim mitos a respeito da arte e alertando que as mulheres possuem seu espaço, e não é qualquer espaço se observarmos os títulos e façanhas destas guerreiras.
O MMA (Mixed Martial Arts), particularmente o UFC (Ultimate Fighting Championship), pois é o fenômeno atual da modalidade graças a alguns grandes veículos de TV brasileira, adentrou o universo feminino também. “… Elas querem suor, emoção e músculos, muitos músculos. Estigmatizado como um esporte violento, o MMA (luta que reúne artes marciais mistas) é a modalidade preferida por elas no Sportv.
A faixa de lutas do canal, a Combate, tem 31% de sua audiência composta por mulheres. Uma das maiores concentrações desse público no Sportv”, afirma Keila Jimenez para o jornal Folha de São Paulo. A relação com o Jiu-Jitsu cresce a partir das lutas que encerram de maneira inesperada com a boa e velha finalização. É inevitável não se admirar com a precisão e objetividade que as finalizações oriundas do Jiu-Jitsu nos apresentam. E com isso, a curiosidade deste público aumenta consideravelmente.
Entre estes e outros motivos, (podemos até escrever um artigo sobre), as academias hoje estão recebendo de maneira considerável este público que foi afastado por práticas desinteressantes de exclusão e determinação do que é de um gênero ou de outro, outrora o que era violento ou coisa de “macho” vai ganhando contornos mais suaves e esforçados.
Particularmente, observo que o Dojo com a presença feminina adquire uma atmosfera mais tranquila, com menos “palavrões” e com um cuidado e preocupação dos homens com suas novas “irmãs” de arte, o que nos faz pensar que esta aproximação do público feminino agrega mais pontos positivos a nossa arte suave. E quem sabe, não nos ajuda a desconstruir tanto preconceito e discriminação com estas lutadoras da vida, construindo um novo modelo de relação pautada no respeito e admiração. Que os tatames fiquem mais coloridos todos os dias. Oss!
REFERÊNCIAS
Soares, Carmem Lucia. Educação Física: Raízes europeias e Brasil, Campinas-SP, 2004.
http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2015/02/por-que-usar-o-termo-machismo-e-nao.html
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/12770-lutas-atraem-mulheres-para-canais-de-esportes.shtml