Acho que já comentei com vocês que vim morar nos EUA, né? Estou aqui há mais ou menos 3 meses por conta de uma oportunidade que meu esposo recebeu para trabalhar como professor. E morando aqui, pude entender um pouco melhor a dinâmica do esporte, principalmente nos campeonatos, onde os pais mostram seus comportamentos em relação aos filhos no jiu-jitsu.
Ao acompanhar meu esposo nos eventos e aulas, pude observar mais de perto de que forma o comportamento dos pais influencia no desenvolvimento dos filhos no jiu-jitsu, e como consequência, na vida.
Vi muitos pais sendo ótimos coaches nos eventos, orientando e engrandecendo seus filhos, suas posições, sem criticar ou ofender o adversário, mas vi também muitos pais frustrados botando uma pressão e expectativas desnecessárias em suas crianças.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Journal of Physical Education, o incentivo e o envolvimento da família tem importante papel na vida esportiva de crianças e adolescentes, porém, quando há pressão e cobrança em excesso, o gosto pela atividade (que só tem benefícios) pode ser perdido, ou seja, um exercício que era para ser prazeroso, acaba por se tornar desgastante e pesado. E isso, para uma criança é muito ruim, não é mesmo?
Conversei com algumas pessoas sobre o assunto, e gostaria de destacar a fala da Tatiana Peev, faixa preta, mãe e professora de jiu-jitsu há mais de 6 anos:
“Eu dou aula em escola também, além das aulas kids na academia. E hoje, encontro os 2 extremos. Tanto os pais que mimam absurdamente os filhos, a ponto de você precisar evitar certas palavras, porque senão o cara tá lá na porta no dia seguinte pra saber o que você ensinou para o filho dele. Por exemplo: a criança chega contando que aprendeu a sair da pegada no braço. Ao invés de incentivar, o pai fala: mas quem pegou no seu braço?
Ou seja, até uns 7, 8 anos, impossível falar de defesa pessoal ou programa antibullying nas escolas particulares. Já a realidade do projeto social é outra, porque os pequenos já “saem na mão” e a maioria dos responsáveis não tem tempo de acompanhar ou não quer saber mesmo. Então já precisa da defesa pessoal sim, do discurso da ética, moral, antibullying, pra evitar entrar em briga etc.
Com relação aos pais que cobram demais, eu entendo que foram criados nesse sistema, então não entendem que há a necessidade de respeitar o momento da criança, que a gente não pode nem obrigar a competir, já quer que a criança participe e exige que ganhe, falam palavrões, criança sai chorando…
É o famoso ‘faça o que eu digo e não faça o que eu faço’. O adulto que deixa comida no prato porque tá cheio, mas se a criança não comer tudo fica sem sobremesa, sabe?
E tudo isso afeta diretamente o emocional da criança. Por conta disso, tem muita criança medrosa que graças a professores com metodologia específica, vão perdendo o medo através das aulas lúdicas, e mesmo assim nem pensam em participar de competições. Alguns filhos no jiu-jitsu vão mais pelos benefícios da arte marcial mesmo. E a criança que acaba se tornando agressiva por pressão dos pais, aí ou machuca alguém e pega trauma, ou se machuca e quer sair do jiu-jitsu.
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Como influenciar os filhos no jiu-jitsu positivamente?
Pensando nisso, trouxe algumas coisas legais para fazer, para incentivar seus filhos no jiu-jitsu de forma positiva (lembrando que sou mãe, e aplico algumas inclusive com a minha filha):
- Respeitar o tempo e interesse da criança em relação ao jiu-jitsu
- Treinar com eles em forma de brincadeira
- Não transformar as derrotas em algo ruim. Faça com que ela entenda, ainda que seja difícil, que as perdas fazem parte do processo de aprendizado para chegar ao topo
- Conte também as vezes (se você já competiu) em que perdeu, e que lá na frente conseguiu ganhar. Isso com certeza irá incentivá-lo!
- Preste atenção nos detalhes: está acontecendo algo na escola que está deixando-o chateado ou algo do tipo?
- Cuide do descanso também, de forma a prevenir lesões
- Converse com ele sobre a importância do respeito, tanto com colegas de treino, adversários e também, com seu professor.
- Evite a todo custo: gritar com seu filho após ele perder, xingar na hora da luta ou ofender seu adversário. Você é a referência dele de amor e exemplo, por isso, pode aprender que é certo xingar e perder o controle. Cuidado!
Esperamos que este conteúdo te ajude a construir um atleta melhor, mais equilibrado e que lida melhor com suas emoções, agora e no futuro.